quarta-feira, julho 28, 2010

Calor!


Medicina tropical

O calor era alucinante. A chuva caía pesada, num jogo de massacre.

Sentiu que tinha uma tremenda dor de cabeça. Dirigiu-se ao posto clínico.

- Isso é coisa sem importância – disse o médico. – Tome estes comprimidos – deu-lhe três.

Tomou.

O calor continuava, sólido e exacto. A chuva também, persistente.

A dor de cabeça estava aumentar. Voltou ao posto clínico.

- Vamos já tratar disso – afirmou o médico. – Ora vire-se para lá.

Virou-se.

O médico proporcionou-lhe quatro supositórios.

O calor ainda; e a chuva. Sempre.

A dor de cabeça a estoirá-lo. retornou ao posto clínico.

- Vai ver que fica bom – explicou o médico. – Ora abra a boca.

Abriu.

O médico extraiu-lhe imediatamente dois molares e um canino.

O calor estava realmente alucinante. A chuva era espaço líquido.

A dor de cabeça a invadir-lhe o corpo todo. Foi ao posto clínico. Uma vez mais.

- Então como vai isso? – perguntou o médico.

Puxou o facão e espetou-o, preocupado e consciente, através do médico.

Resultou.


Um conto de Mário Henrique Leiria

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