Sendo as coisas assim, o empreiteiro de publicidade pergunta¬se naturalmente porque, depois de tantos serviços prestados por ele à sua opinião, ao seu partido, digamos mesmo, aos seus concidadãos, à sua pátria, não receberia, seja uma distinção honorífica, ou mesmo um emolumento? Porque recusaria uma recompensa de uma causa estrangeira, mas análoga àquela de que é encarregado no seu próprio país de defender e de a isso se ligar por um laço solidário? Haverá algo mais simples, por exemplo, que os órgãos da unidade, tais como os Débats, o Pays, a Patrie, o Siècle, a Opinion national, etc., considerando a monarquia italiana como uma contrapartida da monarquia francesa, ou da república una e indivisível, aceitarem uma condecoração do rei da Itália?
E é ao que eu respondo, não como o Sr. Pelletan, fazendo ressaltar a inconveniência de uma condecoração monárquica colocada sobre o peito de um democrata, mas em nome da própria verdade, que, absoluta de sua natureza, exige daquele que se faz seu apóstolo uma garantia de independência igualmente absoluta.
Quer¬se uma prova irrecusável? Suponho que em lugar de condeco¬ração se trate de uma subvenção, como correu o rumor. Aqueles que, com toda a segurança de consciência, receberam a condecoração de São Lázaro, teriam aceite na mesma uma soma de dinheiro? Não, claro; e se eu me permitisse acusá¬los disso, seria processado por eles por difamação. Notai no entanto que a subvenção poderia justificar¬se da mesma forma que a condecoração; que tudo o que se pode dizer a favor desta, poderia repetir¬ se a favor daquela; que dentro de uma lógica exacta, finalmente, há paridade entre os dois factos. Porquê então, por uma inconsequência que testemunha da sua honestidade, os mesmos homens colocam uma tão grande diferença entre uma e outra? É que no fim de contas, mesmo reco¬nhecendo que não representam senão uma verdade relativa, do que é testemunha a sua condecoração, eles compreendem que o seu verdadeiro mandato é o de uma verdade absoluta; que essa verdade absoluta, se bem que inacessível no meio em que eles vivem, não conserva por isso menos os seus direitos; que o público entende referir¬se¬lhe, e que se tolera que os jornais a partir dos quais forma a sua opinião recolham dos seus bons ofícios uma fita, não permitiria que eles recebes¬sem em numerário. Há aqui uma transacção de consciência desculpada pelo estado dos costumes, mas que não poderia admitir uma moral, não digo rígida, mas minima¬mente racional.
Pela minha parte, que faço profissão, não de rigor, mas de exactidão dogmática; eu que tenho fé num sistema onde a justiça, a verdade e a independência seriam o maior interesse do cidadão e do Estado, pronuncio¬me igualmente, no que toca aos jornais, contra as subvenções, e contra as condecorações. Digo aos Senhores da imprensa unitária: Vós não repre¬sentais o direito, mas interesses; vós não sois nem homens da verdade nem da liberdade. Vós sois os representantes do equívoco e do antagonismo; e quando vós vos permitis inculpar¬me a propósito das minhas opiniões federalistas, a que ninguém condecorou, nem subvencio¬nou, e que eu defendo assumindo a responsabilidade, vós não sois meus pares. Pois que, sabei¬lo bem: uma imprensa imparcial, honesta e verí¬dica, não pode encontrar¬ se nesse sistema de interesses centralizados onde se move o vosso pensamento; onde o poder, objecto da competição das partes, é dirigido por uma razão de Estado que é outra coisa que a verdade e o direito; onde consequentemente a verdade e o direito, variando à von¬tade das intrigas, são coisas venais, a razão e a consciência faculdades merce¬nárias. Uma imprensa irrepreensível, tal como a pressupõe a liberdade e que o progressso das instituições exige, não pode existir senão onde a justiça é a lei suprema do Estado, o cerne de todos os interesses; ela não pode existir senão no sistema federativo.
A verdade compreendida predispõe à indulgência: não serei portanto tão severo como o Sr. Pelletan. Não direi como ele aos senhores redactores da imprensa democrática: Retirai a vossa fita, se quereis que se acredite em vós. Eu dir¬lhes¬ia de preferência: Colocai a vossa fita, se o desejais, a fim de que vos conheçam; fazei ainda melhor, aceitai todas as subven¬ções que vos serão oferecidas, desde que publicamente o declareis; e con¬servareis a vossa honorabilidade, tudo será benefício para vós. O público saberá, é verdade, que falais como oradores pagos do Piemonte, não como jornalistas livres; manter¬se¬á em guarda contra a vossa palavra; mas finalmente ele ler¬vos¬á como se lesse uma nota da embaixada piemon¬tesa, e vós tereis ainda a sorte de ser acreditados. O advogado recebe os seus honorários como o médico, e nem a sua reputação nem a autoridade da sua palavra se ressentem. Jules Favre, pedindo para Orsini as circunstâncias atenuantes, não era por isso cúmplice do regicida. Porquê vós, jornalistas oficiais, não gozaríeis do mesmo previlégio?... Quase juraria: aqueles que o Sr. Pelletan acusa não são responsáveis senão de inadvertência. No meio unitário onde se move o seu pensamento, era difícil que eles tivessem a noção exacta dos seus direitos e dos seus deveres, e ser¬me¬á suficiente pô¬los em guarda contra o equívoco. Falais, Senhores, como jornalistas ou como advogados? Um é tão respeitável quanto o outro: mas explicai¬ vos, pois destas duas coisas igualmente respeitáveis a confusão faria uma infâmia.
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