CAPÍTULO III
A Opinião Nacional – Política de Balança do Sr. Guéroult
Quando pergunto a um jornalista da imprensa democrática: Sois con¬decorado com a ordem de São Lázaro? – o leitor não deve supor que a minha questão equivale no meu pensamento a uma acusação de corrupção, e que aquele que eu interpelo seja indirectamente designado por mim como um escritor subornado: trata¬se de uma coisa diferente. No que me diz respeito, repito¬o, não acredito nas subvenções, pela excelente razão que, se o facto fosse verdadeiro, dissimular¬se¬ia, e eu não poderia denunciá¬lo sem me expor a uma acção judicial por calúnia. Quanto aos condecorados, não conheço nenhum. Tudo o que posso dizer, é que a denúncia foi articulada publicamente, que nenhum protesto se levantou; que, entre os condecorados, uns trazem a sua condecoração, os outros abstêm¬se disso por pura consideração partidária; que todos, de resto, não colocaram alguma dificuldade em a aceitar. Segundo a minha maneira de ver está aí uma coisa grave. Todo o particular tem o direito de receber uma condeco¬ração, mesmo até uma pensão, de um soberano estrangeiro. Mas o jornal é uma função quasi¬ pública, o jornalista uma espécie de escritor ajuramentado: uma prova, é a autorização que ele deve obter e a caução que lhe é exigida; é sobretudo a confiança implícita dos leitores. No rigor do direito, um jornalista não deve receber nem distinção honorí¬fica nem recompensa pecuniária de quem quer que seja, nem mesmo do governo do seu país. Ele não deve conhecer outra recompensa que a opinião, outro dinheiro que o dos seus assinantes. É uma questão de fé pública, não de moralidade privada: e é nesse sentido que continuo as minhas interpelações, sem acepção nem excepção de ninguém.
O Sr. Guéroult teve a gentileza de me consagrar no seu jornal dois ou três artigos. Como homem que sabe do seu ofício, começou por troçar de mim sobre a tese e a antítese, esquecendo que o seu patrão, o Sr. Enfantin, ocupou¬se muito dessas curiosidades metafísicas e não se saiu bem. Depois fez do meu carácter uma descrição pouco elogiosa: riu da minha súbita ternura por esse pobre Pio IX, que em breve não terá para o defender, diz ele, senão o Sr. Guizot o protestante, o Sr. Cohen o judeu e o Sr. Proudhon o ateu. Explicou o meu federalismo actual pelo meu anarquismo de outrora: em resumo, tentou o melhor que pôde para demolir o meu pensamento pela desconsideração do escritor.
Já que a propósito de federação e de unidade o Sr. Guéroult sentiu¬se no dever de procurar os meus antecedentes de polemista, não achará mau que eu diga também alguma coisa dos seus: é guerra leal!
O Sr. Guéroult é da escola bancocrática, andrógina e pancreática do Sr. Enfantin, a qual parece ter tomado como regra, desde a catástrofe de Menilmontant, servir indiferentemente todas as opiniões e todos os governos. É por isso que o saint¬ simonismo, tornado enfantiniano, sempre sustentou redactores na maior parte dos jornais: o Sr. Chevalier nos Débats, o Sr. Jourdan no Siècle, o Sr. Guéroult no République, de onde foi expulso depois do golpe de Estado, hoje na Opinion nationale; o Sr. Émile Barraut já não sei onde, outros ainda à esquerda e à direita. Esses atiradores de partidas duplas valem bem as teses e as antíteses do Sr. Proudhon.
Qual é actualmente a política do Sr. Guéroult?
A seguir ao 2 de Dezembro, o partido bonapartista chegou em massa ao governo. Da mesma forma que a emigração depois de 1814, pode dizer¬se sem injúria que este partido era ao mesmo tempo velho e novo: velho, porque já não conhecia, como facto político, senão a glória e a vitória, como a emigração não conhecia senão a fé e o rei; jovem porque as questões na ordem do dia eram novas para ele e ele teria que fazer a sua aprendizagem. Daí, em parte, as oscilações do governo imperial, oscilações normais em todos os governos principiantes; daí também a formação dentro do partido, de duas tendências, de duas políticas, uma de inclinação de preferência para o conservadorismo, a outra hasteando sentimentos democráticos, pretensões à Revolução. Mais de uma vez, nas suas adver¬tências aos jornais, o governo imperial declarou que não se submeteria a nenhuma influência, e nós devemos ter o facto como seguro. Quanto ao partido, pode¬se compará¬lo, no seu conjunto, a esse homem que andava sobre o Sena com um balde em cada pé.
Por exemplo, a questão da unidade italiana coloca¬se diante da arbitragem imperial. Os bonarpartistas da resistência protestam, alegam o respeito das coroas, a legitimidade das dinastias, a exorbitância das pre¬tensões piemontesas, o perigo da agitação revolucionária. Os bonapartistas do movimento declaram¬se em virtude do princípio de nacionalidade e das tradições jacobinas, pela aglomeração. Entre a facção de esquerda e a facção de direita, que faz o centro, o grosso do partido? Anda¬ se, esperando a decisão de Sua Majestade, do Sr. Thouvenel a do Sr. Drouyn de l'Huys, dá¬se razão tanto à la Patrie e ao Pays contra la France, como à la France contra a Opinion nationale e a Patrie.... Ninguém examina nem o direito inaugurado em 89, nem o interesse económico das massas, nem o progresso da civilização, nem a segurança da Europa; com mais razão ninguém eleva a voz a favor da única teoria que poderia resolver o problema, a Federação.
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