segunda-feira, setembro 13, 2010

Governar é tomar medidas impopulares: para quem?

Este artigo critica a atitude generalizada em algumas personalidades próximas ao governo espanhol de que governar é “não temer tomar decisões impopulares”. Tal frase denota, não só uma arrogância (assumindo que o representante sabe melhor que os representados o que é melhor para eles), mas também uma insensibilidade democrática (pois o representante é a voz dos representados e, se há um conflito entre o primeiro e os segundos, é o representante quem deve mudar de opinião). Na verdade, governar é desenvolver os programas e os desejos dos governados, “não temendo tomar decisões impopulares” entre os grupos poderosos que dificultam o desenvolvimento dos programas com base nos quais o representante foi eleito.

Uma frase que se está a generalizar em certos sectores do establishment político espanhol, incluindo o governo espanhol, é que governar significa “não temer ter que tomar decisões impopulares”. Esta frase está a ser utilizada para encorajar o governo a tomar medidas como o congelamento das pensões, a destruição de postos de trabalho no sector público, a redução dos salários dos funcionários públicos, a reforma laboral que facilitará os despedimentos e a redução salarial, medidas que estão a ser, como é lógico, altamente impopulares entre as bases eleitorais do partido dirigente.

Considero esta frase, além de enormemente arrogante, carente de sensibilidade democrática. A função primordial de um representante político é representar os seus eleitores, pois é a voz daqueles que o elegeram. O poder de tal dirigente deriva única e exclusivamente da soberania outorgada a ele ou a ela pela população que representa. E se há um conflito entre o que o representante opina e o que os representados desejam, é o representante quem deve mudar ou demitir-se. Não é o representado quem tem que demitir-se. A população vota num programa com o qual o representante está comprometido. E nenhuma destas propostas do governo Zapatero, na verdade, estava na lista de políticas públicas em cujas bases o governo foi eleito.

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