CAPÍTULO VI
O Progrès (de Lyon). – Paralogismos Católico¬ Jacobinos do Sr. Fr. Morin
O Progrès (de Lyon) tinha aberto fogo contra mim com a vivacidade de um condecorado, quando interveio o Sr. Fréderic MORIN, correspondente do jornal, que chamou o redactor, senão para melhores sentimentos, pelo menos para um espírito melhor.
O Sr. Fr. Morin é um dos escritores mais distintos que se revelaram na imprensa periódica desde o golpe de Estado. Pertence à democracia unitária, da qual está longe aliás de partilhar de todos os pressupostos e de seguir a inspiração, como o provou a meu respeito. Com um espírito desta têmpera a controvérsia teria podido ser tão agradável como útil: não tendo aí o amor próprio nenhum lugar; os interlocutores, como dois pioneiros da verdade, propondo alternadamente as suas hipóteses, examinando as solu¬ções, deduzindo os princípios, sem outro interesse que o da verdade e o da justiça. Teria sido portanto com um prazer infinito que teria empreendido com o Sr. Fr. Morin um debate desse género, se nos dois artigos cheios de benevolência que ele publicou sobre a minha brochura, tivesse encontrado uma elevação de crítica que a isso me convidasse. Infelizmente, sou forçado a dizê¬lo, o Sr. Fr Morin não ultrapassou o nível do seu partido. Superior pela consciência, ficou igual à massa pelo pensamento; e se po¬nho em evidência algumas das suas proposições, se mais longe me permito colocar¬ lhe ainda algumas questões, é unicamente a fim de lhe demonstrar, pelo seu próprio exemplo, que, dentro do círculo político onde ele se colocou, a sua razão de jornalista e de filósofo começou já a perder¬se e a enfraquecer. Sim, repito¬o, são as preocupações centralizadoras e unitárias que, falseando a razão dos seus escritores e dos seus oradores, atira¬ram a democracia francesa como para um impasse; é o que nos torna hoje a liberdade e o direito ininteligíveis, impossíveis, do mesmo modo que an¬tes da hipótese de Copérnico, sob a influência da teoria de Ptolomeu, o sistema do mundo era ininteligível, impossível.
O Sr. Frédéric Morin, depois de ter verificado que, «Segundo o Sr. Proudhon, o único sistema político que pode conciliar¬se com a verdadeira revolução e realizar a igualdade política assim como a mutualidade eco¬nómica, é o sistema federal,» acrescenta que ele estabeleceu a falsidade dessa ideia. (Progrès de 11 de Novembro).
Ignoro onde o Sr. Fr. Morin estabeleceu isto. Não encontrei essa de¬mons¬tração nos artigos que ele publicou acerca da minha brochura; e já que regresso hoje, com mais amplos detalhes, ao princípio federativo, agradecer¬lhe¬ia que consentisse, por seu lado, em reproduzir com novos desenvolvimentos a sua tese. Estou curioso em saber como fará para mostrar que a liberdade e a igualdade podem resultar da indivisão do po¬der, da centralização administrativa, da concentração das forças eco¬nómicas, da monopolização e da supremacia dos capitais, como é que a mutualidade económica poderia ser outra coisa a não ser uma federação.
O Sr. Fr. Morin repudia comigo «essa falsa unidade que absorve toda a vida local no abismo imóvel do Estado;» mas defende que existe um meio termo entre centralização absoluta e federalismo. Observa que as formas da sociabilidade humana não se reduzem nada a duas; que elas são extremamente numerosas; que a cidade grega não era o mesmo género de associação política que o município italiano, nem este o mesmo que a co¬muna da idade média, da qual foi o antecedente; que a comuna foi ultrapassada por sua vez pela nacionalidade moderna, muito diferente daquilo a que se chamava um povo na antiguidade; que existem Estados ao mesmo tempo unitários e descentralizados, tais como a Bélgica, a Inglaterra e a Prússia; e conclui com um apelo à burguesia francesa, que convida, a exemplo da aristocracia inglesa, a reapoderar¬se, no interesse das massas e no seu, das rédeas do governo, e a reconstituir a unidade nacional, descentralizando.
Confesso que estava longe de esperar semelhantes conclusões da parte de um democrata tão declarado como o Sr. Morin, e tenho grande receio que essas belas ideias, que atribui a uma distracção do meu espírito ter desconhecido, não sejam muito simplesmente o efeito de uma confusão do seu.
Uma coisa no entanto me faz compreender essas opiniões do Sr. Morin. Ele é resolutamente do seu partido, quer dizer jacobino; a esse título, partidário do governo da burguesia; consequentemente, aliado do governo unitário, moderado por uma dose suficientemente forte de meio termo. É nesse sentido que ele protesta contra toda a oligarquia e centralização absoluta. O que pede no fundo o Sr. Fr. Morin, não obstante as reservas com que se rodeia, é uma modificação ou fusão da monarquia constitucional e da república unitária, duas formas políticas que diferem uma da outra como, sob Luís¬Filipe, a oposição dinástica diferia da maioria ministerial. Eu chamo sobre este ponto a atenção do Journal des Deux¬Sèvres, que tão judiciosamente me censurou por não ter tido outra coisa no espírito senão a monarquia constitucional.
Em algumas linhas, o Sr. Fr. Morin levantou mais questões que as que poderíamos tratar cada um em duzentas páginas; deste modo contentar¬me¬ei em responder às suas observações lacónicas por outras que me esforçarei por tornar tão sumárias quanto as suas.
Sem comentários:
Enviar um comentário