terça-feira, setembro 14, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

Depois do apoio indirectamente prestado ao Papado, enquanto potência temporal, o Sr. Morin reprova¬me ter apoiado «Não somente a federação republicana, mas mesmo a federação monárquica de Villafranca.» – Contrariamente, o Sr. Cernuschi, o chefe das barricadas de Roma, principal autor da república romana de 1849, cujo nome esqueci na minha última publicação de citar ao lado dos de Ferrari, Montanelli, de Ulloa, Henri Cernuschi dizia¬me no outro dia: «À sua república unitária, teria preferido cem vezes uma federação de monarquias.» E mesmo que desagrade ao Sr. Fr. Morin, sou da opinião do Sr. Cernuschi. Pode apostar¬se dez contra um que uma república unitária, como a dos Jacobinos, tornar¬se¬á, devido à unidade, uma monarquia constitucional, e igualmente apostar que uma federação de monarquias se tornará, em consequência do princípio federativo, numa república federativa. Assim o quer a lógica dos princípios, segundo a qual o elemento preponderante acaba por arrastar os outros. Desde quando são as ideias condenadas furiosamente por aqueles que as elaboram ou as exprimem? Surpreendente pudor do jacobinismo! É um imperador, Napoleão III, que propõe aos Italianos a Federação: por¬tanto, será rejeitada porque ela vem de um imperador, e preferir¬se¬á, o quê? a realeza. São príncipes constitucionais que representarão essa con¬federação: portanto ainda dever¬se¬á rejeitá¬la porque os Estados confederados seriam monarquias, e preferir¬se¬á, o quê? uma realeza militar, uma concorrência ao imperador!
De resto, não sejamos enganados por essa delicadeza jacobina. O jaco¬binismo é antes de mais unitário, quer dizer monárquico, com ou sem rei: o Sr. Fr. Morin reconhece¬ o por sua conta, ao pronunciar¬se contra a federação. O jacobinismo é burguês no interesse da ordem: o Sr. Fr. Morin declara¬o ao apelar à burguesia. O jacobinismo, finalmente, é o meio termo: o Sr. Fr. Morin não o dissimula, ao preconizar um sistema de uni¬dade e descentralização ao mesmo tempo. Unitarismo, burguesismo, meio termo: eis porque a democracia tanto reclamou contra o tratado de Villafranca. Estamos cansados de contradições? Não. Como os sentimentos do Sr. Fr. Morin o ligam de preferência à plebe, ei¬ lo que, apoiando a unidade e fazendo apelo à burguesia, testemunha já o receio de que o governo de Vítor¬Emanuel não seja demasiado unitário, demasiado burguês, demasiado meio termo. Isso lembra Robespierre perseguindo com as suas invectivas feuillants t), girondinas, dantonescas, hebertistas e moderadas, sem que possa dizer qual era a sua própria opinião. Ao vos alistardes no jacobinismo, Sr. Fr. Morin, que fizestes da vossa independência de filósofo? Que fizestes da vossa ingenuidade de cristão? Perdestes até a vossa lógica, e sois incapaz nesta altura de formular nitidamente uma opinião.
Mas tenho observações mais graves ainda a submeter ao correspondente do Progrès: isso será objecto dos capítulos seguintes.

t) Em francês, no original. Intraduzível. Nome dado em 1791-92 aos defensores da realeza constitucional, cuja sede era precisamente no antigo convento dos Feuillants, (ordem de frades Bernardos) perto das Tulherias. (N.T.)

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