Deste modo, finalmente, a associação operária será uma utopia, enquanto o governo não tiver compreendido que os serviços públicos não devem ser executados por ele próprio, nem convertidos em empresas privadas e anónimas, mas confiados a empreitadas e por contratos a termo fixo a companhias de operários solidários e responsáveis. Fim da intromissão do Poder no trabalho e nos negócios, fim do encorajamento ao comércio e à industria, fim às subvenções, fim às concessões, fim aos favores e empréstimos, fim aos subornos, fim às acções de posse ou industriais, fim à agiotagem: de que sistema podeis esperar idênticas reformas, a não ser do sistema federativo?
A Federação dá ampla satisfacção às aspirações democráticas e aos sentimentos conservadores burgueses, dois elementos em todo o lado inconciliáveis: e isso como? Precisamente por esse garantismo político¬económico, expressão mais elevada do federalismo. A França reconduzida à sua lei, que é a propriedade média, que é a simples mediania, o nível cada vez mais aproximado das fortunas, a igualdade; a França devolvida ao seu carácter e aos seus costumes, contituída num feixe de soberanias garantidas umas pelas outras, não tem nada a temer do dilúvio comunista, não mais que das invasões dinásticas. A multidão, doravante impotente para esmagar com a sua massa as liberdades públicas, é¬o do mesmo modo para se apropriar ou confiscar as propriedades. Melhor ainda, torna¬se a mais forte barreira à feudalização da terra e dos capitais, à qual tende fatalmente todo o poder unitário. Enquanto que o citadino não se interessa pela propriedade senão pelo rendimento, o agricultor que a cultiva estima¬ a sobretudo por ela própria: é por isso que a proprie-dade não é nunca mais completa e melhor garantida do que quando, por uma divi¬são contínua e bem ordenada, se aproxima da igualdade, da federação. Fim da burguesia e não mais democracia, nada senão cidadãos, como pedíamos em 1848: não é a última palavra da Revolução? Onde encontrar a realização desse ideal, se não é no Federalismo? Claro, e o que seja que dela se tenha dito em 1793, nada é menos aristocrático e menos velho regime que a Federação; mas é preciso confessá¬lo, nada é também menos vulgar.
Sob uma autoridade federal, a política de um grande povo é tão simples como o seu destino. Fazer lugar à liberdade, procurar trabalho e bem estar para todos, cultivar as inteligências, fortificar as consciências, eis o interior; exteriormente, dar o exemplo. Um povo confederado é um povo organizado para a paz; exércitos, que lhes faria? Todo o serviço militar se reduz ao da polícia, dos empregados dos estados¬ maiores e dos propostos para a guarda dos estabelecimentos e das fortalezas. Nenhuma necessidade de aliança, não mais que de tratados de comércio: entre nações livres, é suficiente o direito comum. Liberdade de troca, salvo o devido ao fisco, e em certos casos debatidos em conselho federal, uma taxa de compensação: aqui está para os negócios; – liberdade de circulação e de residência, salvo o respeito devido às leis em cada país: eis para as pessoas, esperando a comunidade de pátria.
Tal é a ideia federalista, e tal é a sua dedução. Acrescentai que a transição pode ser tão insensível como se quiser. O despotismo é de construção difícil, de conservação perigosa, é sempre fácil, útil e legal regressar à liberdade.
A nação francesa está perfeitamente disposta a esta reforma. Acostumada de longa data a embaraços de toda a ordem e a pesadas cargas, é pouco exigente; esperará dez anos o acabamento do edifício, desde que cada ano o edifício se eleve um andar. A tradição não lhe é contrária: retirai à antiga monarquia a distinção das castas e dos direitos feudais; a França, com os seus Estados de província, os seus direitos consuetudiná¬rios e as suas burguesias, não é mais que uma vasta Confederação, o rei de França um presidente federal. Foi a luta revolucionária que nos deu a centralização. Sob esse regime, a Igualdade manteve¬se, pelo menos nos costumes; a Liberdade foi progressivamente diminuindo. Do ponto de vista geográfico, o país não oferece menos facilidades: perfeitamente agrupado e delimitado na sua circunscrição geral, com uma maravilhosa aptidão para a unidade, o que por demais se viu, convém não menos felizmente à federação pela independência das suas bacias, cujas águas se despejam em três mares. Em primeiro lugar compete às províncias fazer ouvir as suas vozes. Paris, de capital tornada em cidade federal, nada tem a perder nessa transformação; aí encontraria, pelo contrário, uma nova e melhor existência. A absorção que exerce sobre a província congestiona¬a, se assim ouso dizer: menos carregada, menos apoplética, Paris seria mais livre, ganharia e daria mais. A riqueza e actividade das províncias assegurando aos seus produtos uma saída superior à de todas as Américas, recuperaria em negócios reais tudo o que teria perdido pela diminuição do parasitismo; a fortuna dos seus habitantes e a sua segurança não conheceriam mais interrupções.
Qualquer que seja o poder encarregado dos destinos da França, ouso dizer, não há para ele outra política a seguir, outra via de salvação, outra ideia. Que dê então o sinal das federações europeias; que se faça o seu aliado, chefe e modelo, e a sua glória será tanto maior, que coroará todas as glórias.
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