As horas. Tão sempre iguais como a eloquência dos ponteiros
e do mostrador na sombra pálido ignorante
e adormecido sobre um cristal de quartzo
prosopopeicamente excitado
pela diferença de potencial moderno.
As horas. Comando acéfalo da hierarquia do minuto
e registo infalível nas certidões de óbito.
As horas. Pavoneadas como se fossem verdadeiras
em paredes e pulsos, falsas afilhadas dos fusos.
Que horas são ?
São horas de Garcia Lorca,
metonímia das cinco "de la tarde in punto".
São horas de ir, levantar,
de dizer, discursar,
de partir, disfarçar,
de chegar, acusar,
de fugir, afastar,
de mandar, matar.
As horas. Retrospectiva do que ainda não foi
mas tem planos de dar à corda, rodas dentadas e sincronizadas
aparafusadas com dezassete rubis.
As horas. Movimentos pendulares só decifráveis por cucos.
Que horas são ?
São horas de perguntar que horas são de dizer a que horas foi
de negar que horas eram e de dizer que são horas.
Que horas são ?
São horas para tudo.
São horas de parir, aparar,
de nascer, amimar,
de crescer, animar,
de reler, reparar,
de olhar, apoiar,
de viver, amparar,
de gostar, abraçar,
de morrer, perguntar.
Que horas são ?
São as horas que eu quero que sejam.
Não me convençam, nem com rubis
que as horas que eram, não foram as que quis.
E se no meu pulso, tive outras incertas
se não acertei pelo vosso horário,
foi porque dei corda a girar ao contrário.
Mas dei-a sempre num sentido ou noutro,
resistindo à mecânica da fatal razão.
Só porque mo pedem, adianto uma hora,
para estar em graça com a hora de Verão.
Só porque mo pedem, atraso uma hora,
para ser solidário com a negação.
Não me peçam nunca é que acerte o tempo
por esse relógio que vos faz penduras
do sagaz piloto que vos quer a horas,
no lugar exacto onde ordena os curas.
Se por mero acaso as horas cruzarmos,
em encruzilhadas que nos digam tanto
que no vosso pulso o relógio parado
vos impele pálido a perguntar-me as horas
e se a essa hora eu ficar calado,
olhai para o meu punho
e poupai-me ao espanto
de em vez de aberto o verdes cerrado.
JMB
P.S. Um abraço ao JMB que nos enviou este poema, leitor assíduo e empolgado do Anovis e que está a passar momentos difíceis!...
e do mostrador na sombra pálido ignorante
e adormecido sobre um cristal de quartzo
prosopopeicamente excitado
pela diferença de potencial moderno.
As horas. Comando acéfalo da hierarquia do minuto
e registo infalível nas certidões de óbito.
As horas. Pavoneadas como se fossem verdadeiras
em paredes e pulsos, falsas afilhadas dos fusos.
Que horas são ?
São horas de Garcia Lorca,
metonímia das cinco "de la tarde in punto".
São horas de ir, levantar,
de dizer, discursar,
de partir, disfarçar,
de chegar, acusar,
de fugir, afastar,
de mandar, matar.
As horas. Retrospectiva do que ainda não foi
mas tem planos de dar à corda, rodas dentadas e sincronizadas
aparafusadas com dezassete rubis.
As horas. Movimentos pendulares só decifráveis por cucos.
Que horas são ?
São horas de perguntar que horas são de dizer a que horas foi
de negar que horas eram e de dizer que são horas.
Que horas são ?
São horas para tudo.
São horas de parir, aparar,
de nascer, amimar,
de crescer, animar,
de reler, reparar,
de olhar, apoiar,
de viver, amparar,
de gostar, abraçar,
de morrer, perguntar.
Que horas são ?
São as horas que eu quero que sejam.
Não me convençam, nem com rubis
que as horas que eram, não foram as que quis.
E se no meu pulso, tive outras incertas
se não acertei pelo vosso horário,
foi porque dei corda a girar ao contrário.
Mas dei-a sempre num sentido ou noutro,
resistindo à mecânica da fatal razão.
Só porque mo pedem, adianto uma hora,
para estar em graça com a hora de Verão.
Só porque mo pedem, atraso uma hora,
para ser solidário com a negação.
Não me peçam nunca é que acerte o tempo
por esse relógio que vos faz penduras
do sagaz piloto que vos quer a horas,
no lugar exacto onde ordena os curas.
Se por mero acaso as horas cruzarmos,
em encruzilhadas que nos digam tanto
que no vosso pulso o relógio parado
vos impele pálido a perguntar-me as horas
e se a essa hora eu ficar calado,
olhai para o meu punho
e poupai-me ao espanto
de em vez de aberto o verdes cerrado.
JMB
P.S. Um abraço ao JMB que nos enviou este poema, leitor assíduo e empolgado do Anovis e que está a passar momentos difíceis!...
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