terça-feira, outubro 12, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

Dá-se de boa vontade atenção ao conjunto do pensamento anarquista no que respeita à recusa de toda a organização, uma orientação espontânea, o ódio de toda a forma de governo, etc. É esquecer que o anarquismo agrupa várias correntes de pensamento diferente, do qual o impacto permanece desigual.
O anarquismo hiper-individualista de Stirner, constitui ele próprio uma excepção, do qual podemos reencontrar alguns traços em Nietzsche ou no existencialismo ateu. Provavelmente não tem filiação directa entre estas filosofias, mas tem certamente pontos de convergência, por pouco contingentes que sejam. O anarquismo de Bakunine é, na minha opinião, uma redução da complexidade do pensamento de Proudhon; insiste bem e a um mais alto grau sobre a desconfiança profunda em relação a toda a forma de organização, no sentido que ele é bem mais individualista que Proudhon. Bakunine teve sobretudo influência no domínio político, em particular no seio das Internacionais. A linha de demarcação entre Proudhon e Bakunine passa por uma acentuação, contrária à filosofia de Proudhon, da luta intrinsecamente política ( a luta é entendida como política também em Proudhon, mas pelo canal das organizações socio-económicas), e isto por formas inadmissíveis por Proudhon, quer dizer pelo desvio duma minoria revolucionária, activista, voluntarista, ou seja de conspiradores. Bakunine deu uma orientação romântica ao anarquismo, tendência que se afasta um pouco duma análise cerrada das condições objectivas da revolução social. Se Bakunine é considerado por muitos como o mais marcante representante do pensamento anarquista, é sem dúvida porque o combate titânico que desenvolveu com Marx deu-lhe um relevo histórico, uma certa auréola mítica, à qual a adesão sentimental é bastante mais fácil, que a uma doutrina que repudia simplismo e simplificação. Se Bakunine permanece o representante mais marcante do anarquismo político, o de Proudhon marcou profundamente o acto sindical. A sua outra característica é que se trata dum anarquismo organizacional. A sua influência social, foi considerável, particularmente em França, tendo em conta que o podemos relacionar com o movimento cooperativo, o anarco sindicalismo, a autogestão, o mutualismo, o associativismo, o federalismo.Trata-se portanto dum pensamento intensamente construtivo, que não nega a necessidade duma forma de governo da sociedade, contrariamente ao que se atribui geralmente ao pensamento anarquista. Se estudarmos de mais perto o anarquismo, parece ter sido a orientação de Proudhon que mais marcou o movimento social. Talvez seja necessário ver aí uma das razões pela qual a corrente marxista mais rigorosamente a combateu que qualquer outra, na medida em que as realizações às quais deu lugar serem concretas, marcadas muitas vezes pela marca do êxito e portanto perigosas para todo e qualquer outro pensamento, pois elas mostravam a eficácia duma estratégia diferente da revolução social.
No quadro deste ensaio, só iremos analisar e expor o socialismo de Proudhon. Deste modo iremos tentar dar elementos de compreensão de algumas afirmações, muitas vezes difamatórias, dizendo respeito às posições de Proudhon.

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