5. Proudhon incapaz de compreender a Luta de Classes
Esta afirmação é perfeitamente grosseira. Em 1848, Proudhon opôs, pela primeira vez numa Câmara de Deputados, o proletariado e os possidentes. Este facto valeu-lhe uma reprovação unânime de toda a Câmara menos dois votos (um dos quais o seu). Proudhon sempre esteve consciente da divisão da sociedade em classes ao redor da propriedade dos meios de produção. Isso é particularmente nítido no seu último livro, “Da Capacidade Política das Classes Operárias”. Com efeito, com esta acusação, visa-se orientar o descrédito sobre o facto que Proudhon acreditou durante bastante tempo que o proletariado e a classe média poderiam fazer aliança revolucionária. Mas Proudhon sempre trabalhou para “reconstituir o partido da revolução”. Entendia por isso o reagru-
pamento sobre um “programa comum” de todas as forças socialistas, quer dizer, todos aqueles que, e apesar das divergências que tivessem, se pusessem de acordo sobre os objectivos fundamentais do socialismo e da passagem para este.
Todavia, o proletariado não deveria ter nada de comum com as organizações políticas que lhe eram exteriores. O proletariado, a classe operária, deveriam centrar-se nas suas organizações e nos seus próprios objectivos, sem se misturarem nas lutas políticas da democracia burguesa formal.
Proudhon compreende perfeitamente as origens da luta de classes da qual apreendeu a realidade. Se preconiza um corte com os meios propriamente políticos de expressão da luta de classes, é porque acredita que um partido político, mesmo combatendo em posições da classe operária, acaba por procurar objectivos cada vez mais particulares, cada vez menos conformes aos interesses próprios do prole-tariado. Este deve organizar-se nos meios onde vive a sua exploração, e através da prática que adquire, determinar a teoria e as estratégias adequadas à supressão da sua alienação política e económica e verificá-las nas condições do seu exercício. Proudhon preconiza portanto um radical corte das classes sociais. No quadro desta construção, o partido revolucionário, expressão da luta de classes, encontra-se sob suspeita. Agrupa pessoas que não têm os mesmos interesses objectivos, pois eles não se encontram na mesma situação em relação à divisão social do trabalho (não pertencem ao mesmo grupo funcional da sociedade). Por conseguinte, a sua adesão a um mesmo corpo de ideias só pode ser teórico, visto que as situações vividas não são as mesmas. Deste facto, o principal trabalho do partido consistirá em arbitrar as diferentes posições intelec-
tuais, e a dar uma posição comum da qual podemos perguntar-nos que laços poderia ter com os que resultam dos interesses próprios a cada grupo da coligação. Os partidos são portanto eles também os lugares dum corte artificial entre teoria e prática, sujeitos à manipulação por pseudo-élites, o feudo de intelectuais da revolução, separados por condições objectivas das situações de exploração. A posição de Proudhon na matéria é portanto bastante coerente: se teoria e prática vêm da experiência, as posições de classe devem necessariamente elaborar-se nos lugares da própria prática: sindicatos, comunas, agrupamentos de utentes. É verdade que a noção de agrupamento num partido não existe mais, no sentido de ter vocação ao tratar o conjunto da gama dos diferentes problemas, em relação aos lugares onde eles são vividos. No que se tornarão os leaders inspirados, os teóricos e analistas procurando emprego, os revolucionários profissionais? Isso poderia explicar o porquê das élites políticas terem sido rejeitadas por Proudhon, os dogmáticos com pouca audiência, os autoritários de crina levantada, os pensadores de meia tigela, encontraram ser mais simples difamar um pensamento que os deixava sem emprego e onde a sua vontade de poder não encontraria esfera de exercício.
Proudhon não nega a luta de classes, mas não remete a análise que daí resulta nas mãos de políticos que não tardariam a arrogar-se todo o poder de direcção num sistema totalitário, ou a camuflar--se por detrás dos jogos da democracia formal; esta consiste em abandonar a globalidade dos poderes a mandatários que não podem ter toda a competência sobre os diferentes problemas, que na sua qualidade de permanentes não podem conhecer.
O sentido verdadeiro da acusação marxista orienta--se à volta dos problemas da tomada do poder e da organização deste. Para Proudhon a tomada do poder não pode resultar a não ser duma tomada de consciência massiva, adquirida por lutas concretas, numa prática independente e não através dum golpe de polegar remetendo o poder a revolucionários profissionais. Vemos aqui que Proudhon associa uma grande importância ao desenvolvimento das condições objectivas da revolução social, pois que a possibilidade desta, depende da evolução das forças colectivas, do seu grau de consciência, da emergência duma análise da situação, e da sua execução numa estratégia adaptada.
Entretanto, vivendo nas condições próprias ao capitalismo em França, no qual o estádio de desenvolvimento era bastante inferior ao da Grã-Bretanha, Proudhon pensou durante bastante tempo que a revolução social não poderia fazer-se a não ser obtendo-se a colaboração das classes médias. Isso era perfeitamente coerente, pois o proletariado não dispunha ainda das capacidades necessárias à gestão da sociedade. Mas, formado pelo desenvolvimento massivo do capitalismo financeiro e industrial sob Napoleão III, formado pela política reaccionária praticada pelos partidários burgueses da República, Proudhon acaba por concluir na “capacidade política” na impossibilidade duma aliança entre o proletariado e as classes médias. É esta primeira posição bastante durável de Proudhon que, como vemos, era justificável por considerações de estratégia revolucionária, que Marx criticava fazendo expressão duma atitude pessoal de Proudhon, que toda a vida deste permite contradizer.
Esta afirmação é perfeitamente grosseira. Em 1848, Proudhon opôs, pela primeira vez numa Câmara de Deputados, o proletariado e os possidentes. Este facto valeu-lhe uma reprovação unânime de toda a Câmara menos dois votos (um dos quais o seu). Proudhon sempre esteve consciente da divisão da sociedade em classes ao redor da propriedade dos meios de produção. Isso é particularmente nítido no seu último livro, “Da Capacidade Política das Classes Operárias”. Com efeito, com esta acusação, visa-se orientar o descrédito sobre o facto que Proudhon acreditou durante bastante tempo que o proletariado e a classe média poderiam fazer aliança revolucionária. Mas Proudhon sempre trabalhou para “reconstituir o partido da revolução”. Entendia por isso o reagru-
pamento sobre um “programa comum” de todas as forças socialistas, quer dizer, todos aqueles que, e apesar das divergências que tivessem, se pusessem de acordo sobre os objectivos fundamentais do socialismo e da passagem para este.
Todavia, o proletariado não deveria ter nada de comum com as organizações políticas que lhe eram exteriores. O proletariado, a classe operária, deveriam centrar-se nas suas organizações e nos seus próprios objectivos, sem se misturarem nas lutas políticas da democracia burguesa formal.
Proudhon compreende perfeitamente as origens da luta de classes da qual apreendeu a realidade. Se preconiza um corte com os meios propriamente políticos de expressão da luta de classes, é porque acredita que um partido político, mesmo combatendo em posições da classe operária, acaba por procurar objectivos cada vez mais particulares, cada vez menos conformes aos interesses próprios do prole-tariado. Este deve organizar-se nos meios onde vive a sua exploração, e através da prática que adquire, determinar a teoria e as estratégias adequadas à supressão da sua alienação política e económica e verificá-las nas condições do seu exercício. Proudhon preconiza portanto um radical corte das classes sociais. No quadro desta construção, o partido revolucionário, expressão da luta de classes, encontra-se sob suspeita. Agrupa pessoas que não têm os mesmos interesses objectivos, pois eles não se encontram na mesma situação em relação à divisão social do trabalho (não pertencem ao mesmo grupo funcional da sociedade). Por conseguinte, a sua adesão a um mesmo corpo de ideias só pode ser teórico, visto que as situações vividas não são as mesmas. Deste facto, o principal trabalho do partido consistirá em arbitrar as diferentes posições intelec-
tuais, e a dar uma posição comum da qual podemos perguntar-nos que laços poderia ter com os que resultam dos interesses próprios a cada grupo da coligação. Os partidos são portanto eles também os lugares dum corte artificial entre teoria e prática, sujeitos à manipulação por pseudo-élites, o feudo de intelectuais da revolução, separados por condições objectivas das situações de exploração. A posição de Proudhon na matéria é portanto bastante coerente: se teoria e prática vêm da experiência, as posições de classe devem necessariamente elaborar-se nos lugares da própria prática: sindicatos, comunas, agrupamentos de utentes. É verdade que a noção de agrupamento num partido não existe mais, no sentido de ter vocação ao tratar o conjunto da gama dos diferentes problemas, em relação aos lugares onde eles são vividos. No que se tornarão os leaders inspirados, os teóricos e analistas procurando emprego, os revolucionários profissionais? Isso poderia explicar o porquê das élites políticas terem sido rejeitadas por Proudhon, os dogmáticos com pouca audiência, os autoritários de crina levantada, os pensadores de meia tigela, encontraram ser mais simples difamar um pensamento que os deixava sem emprego e onde a sua vontade de poder não encontraria esfera de exercício.
Proudhon não nega a luta de classes, mas não remete a análise que daí resulta nas mãos de políticos que não tardariam a arrogar-se todo o poder de direcção num sistema totalitário, ou a camuflar--se por detrás dos jogos da democracia formal; esta consiste em abandonar a globalidade dos poderes a mandatários que não podem ter toda a competência sobre os diferentes problemas, que na sua qualidade de permanentes não podem conhecer.
O sentido verdadeiro da acusação marxista orienta--se à volta dos problemas da tomada do poder e da organização deste. Para Proudhon a tomada do poder não pode resultar a não ser duma tomada de consciência massiva, adquirida por lutas concretas, numa prática independente e não através dum golpe de polegar remetendo o poder a revolucionários profissionais. Vemos aqui que Proudhon associa uma grande importância ao desenvolvimento das condições objectivas da revolução social, pois que a possibilidade desta, depende da evolução das forças colectivas, do seu grau de consciência, da emergência duma análise da situação, e da sua execução numa estratégia adaptada.
Entretanto, vivendo nas condições próprias ao capitalismo em França, no qual o estádio de desenvolvimento era bastante inferior ao da Grã-Bretanha, Proudhon pensou durante bastante tempo que a revolução social não poderia fazer-se a não ser obtendo-se a colaboração das classes médias. Isso era perfeitamente coerente, pois o proletariado não dispunha ainda das capacidades necessárias à gestão da sociedade. Mas, formado pelo desenvolvimento massivo do capitalismo financeiro e industrial sob Napoleão III, formado pela política reaccionária praticada pelos partidários burgueses da República, Proudhon acaba por concluir na “capacidade política” na impossibilidade duma aliança entre o proletariado e as classes médias. É esta primeira posição bastante durável de Proudhon que, como vemos, era justificável por considerações de estratégia revolucionária, que Marx criticava fazendo expressão duma atitude pessoal de Proudhon, que toda a vida deste permite contradizer.
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