domingo, outubro 03, 2010

“Operação para libertar Correa foi digna de Hollywood”

Boaventura de Sousa Santos estava numa reunião de trabalho em Quito, capital do Equador, quando recebeu um telefonema a avisá-lo: «Parece que está a haver um golpe de Estado». Correu para a televisão, e soube que o presidente Rafael Correa já estava sequestrado. «Tinha-se dirigido ao regimento da polícia para tentar convencer os sublevados a desistir, e acabou por ficar lá. Foi ferido pelos polícias, teve de ser transportado ao hospital, e o hospital mais próximo era o da polícia», recorda o sociólogo.

«Os polícias disseram a Rafael Correa que só o deixavam sair se a lei do Serviço Público, que eles contestavam, fosse revogada. Ele disse que a lei fora aprovada pela Assembleia e ele não a podia revogar. De maneira que só saía dali como presidente digno, ou como cadáver. Foi assim, desta forma dramática, que ele respondeu», relata Boaventura de Sousa Santos.

O sociólogo português, que está em Quito no âmbito das suas investigações sobre as nações e os povos indígenas, dirigiu-se rapidamente à sede da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) para juntar-se aos seus dirigentes e discutir o que fazer. «As relações entre o presidente e os indígenas têm estado muito tensas», explica Boaventura de Sousa Santos, «porque as leis sobre os recursos naturais têm sido aprovadas sem qualquer consulta prévia aos indígenas e sem o seu apoio». Para piorar, o crescimento dos protestos – num dos quais houve confrontos e um indígena morreu – levou a que o governo abrisse uma investigação e acusasse a CONAIE de “terrorismo”.

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