sábado, novembro 06, 2010

O gabarola

O gabarola é uma figura típica da nossa cultura. Treina-se em miúdo, contando que more no primeiro andar ou mais acima.

Se tiver estas condições, o miúdo gabarola não perde a oportunidade de provocar uma rixa à frente da sua porta. Enquanto a guerra é só de garganta, não há problema. O gabarola tem a língua afiada e até pode impressionar. Mas se chegasse a vias de facto, ele não teria hipótese.

Então, quando as coisas aquecem, o nosso gabarola foge para casa e vai para a janela. Aí, defendido dos murros dos outros, alteia o desafio:

«É pá, vem cá acima que eu te digo, faço-te num oito, seu fdp, vê lá se consegues, parto-te os cornos.»

Esbraceja e dá murros no ar, enquanto os outros assistem ao espectáculo. Quem já o conhece ri-se, mas os novatos da refrega podem bater palmas.

E os alvos do seu verbo indignam-se, impotentes.

Quando for grande, o gabarola continuará a provocar rixas e a fugir para a janela. Há janelas de sobra neste mundo do espectáculo.

E como a cena é forte, ele vai ter plateia e comentadores que o promovam. Os ressentidos contra a vida e contra os chefes começam a adulá-lo. E o nosso gabarola treina-se cada vez mais na sua gabarolice.

O tempo está para os gabarolas. Sabem tudo, vencem batalhas virtuais, têm as soluções. Em tempos difíceis tornam-se os heróis da insatisfação. Mas não descem ao terreno, não chegam a vias de facto nem sujam as mãos. O seu mester é só de garganta, o que não quer dizer que não façam mal.

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