sábado, novembro 13, 2010

O NEGRO E O VERMELHO

O Silêncio de Proudhon

À publicação da “Miséria da Filosofia” Proudhon ignorará totalmente Marx, não o lerá nem o citará nunca. Numerosas hipóteses foram propostas para explicar este silêncio de Proudhon ao contrário da “Miséria da Filosofia”. Consideremos as quatro mais importantes interpretações.
Em primeiro lugar, Benoît Malon que se pergunta qual o interesse que teria Proudhon em responder ao libelo de Marx, e portanto dá-lo ao conhecimento do público:
“Proudhon que não teríamos sabido tão hábil, sentiu toda a vantagem que lhe dava a obscuridade de seu terrível contraditor, e ele, que estava sempre pronto para a polémica e à invectiva, não responde a Marx, que continuará a ser ignorado do grande público françês. Esta situação durará bastante tempo (até à comuna)”.(21)
Daniel Halévy sugere uma outra explicação “mais digna da alma de Proudhon que a manobra conjecturada por Benoît Malon”:
“Se ele se calou, é talvez porque a resposta absolutamente honesta era difícil de dar, e repugnava-lhe comprometer, sobre um assunto que interessava o futuro do socialismo, uma briga de importância menor”.(22)
Finalmente, Pierre Haubtmann propõe duas outras hipóteses, a primeira, rapidamente afastada, segundo a qual Proudhon, após ter visto em Marx apenas o plágio, terá percebido a pertinência dos seus críticos. Então “incomodado por demonstrar a sua tese do plágio, por honestidade intelectual, cala-se”. (23) A segunda ideia reside nisto:
“Proudhon pensava bem numa resposta (os “Cadernos” assim o indicam), mas, pouco depois, a revolução de Fevereiro de 1848 estalava: empenhado na política, eleito representante do povo, Proudhon, tornado “o homem terror” teve outros adversários a combater, mais próximos e mais perigosos que Marx, o proscrito alemão”(24).
É provável que esta hipótese seja a mais sólida. Todavia, tomada como única explicação, não parece ser suficiente. Com efeito, é preciso lembrarmo-nos com que veemência Proudhon declarava ao seu editor, M. Guillaumin:
“Recebi o libelo de M. Marx, em resposta à filosofia da Miséria: é um composto de grosserias, de falsificações, de plágios...”(25).
Para compreender o silêncio de Proudhon, é necessário talvez transportarmo-nos ao que ele escreverá, em “Da Justiça na Revolução e na Igreja”, a propósito da crítica de Léon Walras:
“Não me alongarei demasiado neste momento sobre a refutação que o Sr. Walras se orgulha de ter feito das minhas doutrinas. Há vinte anos que me refutam, e estou sempre presente. Para que uma refutação mereça resposta, é preciso que aquele que a faz tenha primeiramente compreendido a obra que refuta, em seguida que ele conheça o que está em questão na dita obra. Ora, não me parece que o Sr. Walras tenha meditado na natureza dos factos económicos, e ainda menos que me tenha feito a honra de me compreender” (26).
Parece que os acontecimentos, sociais e pessoais, jogaram um grande papel no silêncio de Proudhon, mas mais ainda que com Walras, há fortes probabilidades que teria respondido pela injúria àquilo que pensava não ser mais que uma calúnia, e não uma refutação crítica. (27)
Inversamente, Marx, pelo seu lado, estará sempre à espreita dos menores gestos e escritos de Proudhon. A sua correspon-
dência, como as suas obras mencionam constantemente Proudhon ou o proudhonismo. Parece pois que, se a posição oficial de Marx está para o futuro fixada, os seus sentimentos permanecem menos nítidos. Com efeito, verificamos um certo embaraço, logo que chega a altura de ter que se pronunciar “em privado” sobre Proudhon. Foi nomeadamente o caso quando expôs a Engels o conteúdo de “Ideia Geral da Revolução no século XIX” irá limitar-se a um relato fiel, desprovido de toda a crítica, e mostrando-se mesmo sobretudo favorável à obra (“o livro compreende ataques bem fortes a Rousseau, Robespierre, a “Montanha”, etc.”) (28) e acaba por um apelo (“ escreve-me com detalhe sobre o que pensas desta receita.”) (29) Será então Engels que, na sua resposta, indicar-lhe-á, com uma certa habilidade, a atitude a observar face a esta obra.(30)
Assim, para além dos conflitos de ideias e de influências, Marx experimentou sem dúvidas toda a sua vida uma fascinação relativamente àquele que foi antes de Engels, o seu principal iniciador no pensamento científico do socialismo (31). E se as suas teorias são inconciliáveis, a marca do pensamento proudhoniano sobre Marx ficará indelével. Proudhon aparecerá em todas as obras críticas, filosóficas ou políticas, de Marx e de Engels, mas será sistematicamente, e sem dúvida significa-
tivamente, omitido das suas obras teóricas (e particularmente n‘O Capital) (32).
A calúnia marxista não parará nunca “o burguês intelectual, formado e marcado pelos seus estudos filosóficos nas Universidades alemãs” não mostrará mais o menor respeito por “o grande moralista plebeu” (33). Em 24 de Janeiro de 1865, 5 dias após a morte de Proudhon (34), Marx, num artigo necrológico, continua a atacá-lo (o proudhonismo permanece no seio da Primeira Internacional, um obstáculo à sua autoridade), mas as suas acusações tornam-se menos severas, e sobretudo menos sistemáticas, pois concede a Proudhon que “a sua intervenção na Assembleia Nacional, apesar de revelar a sua falta de discernimento, merece todos os elogios. Após a inssurecção de Junho, era um acto de grande coragem. Teve, por outro lado, a consequência feliz que o Sr. Thiers, no discurso que ele proporá contra as proposições de Proudhon e que foi publicado de seguida em brochura, mostrar a toda a Europa qual o catecismo puéril que servia de pedestal a este pilar espiritual da burguesia francesa. Em comparação com o Sr. Thiers, Proudhon tomava comportamentos de colosso antideluviano” (35).

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