Economia e Socialismo
Proudhon testemunha um certo respeito pela economia política. Os economistas parecem ter forjado os utensílios indispensáveis à elaboração duma verdadeira ciência social. Em compensação é imperdoável de não ter sabido utilizá-la de outro modo a não ser em proveito duma vasta empresa de legitimação do indefensável roubo proprietário (22).
“Os economistas (...) descreveram os fenómenos, verificaram os seus acidentes e as suas relações; verificaram, em várias circunstâncias, um carácter de necessidade que os fez chamar leis; e este conjunto de conhecimentos, apanhados nas manifestações por assim dizer mais ingénuas da sociedade, constitui a economia política.
A economia política é portanto a história natural dos costumes, tradições, práticas e rotinas mais aparentes e as mais universalmente acreditadas da humanidade, no que diz respeito a produção e a distribuição da riqueza. A este título, a economia política considera-se como legítima em facto e em direito: em facto, pois os fenómenos que ela estuda são constantes, espontâneos e universais; em direito, pois estes fenómenos têm por eles a autoridade do género humano, que é a mais grande autoridade possível. Também a economia política se qualifica de ciência, quer dizer de conhecimento racional e sistemático dos factos regulares e necessários.” (23)
Para ilustrar o que deveria ser a economia social, tanto na sua concepção como no seu papel, por relação à economia política, Proudhon utiliza uma alegoria, que, fiel aos mitos platónicos, permite-lhe, dum modo simplificado, sintetizar a sua visão do mundo:
“Representemos, então, a economia política como uma imensa planície, coberta de materiais preparados para um edifício. Os operários esperam pelo sinal, cheios de ardor, ansiosos por começar a obra: mas o arquitecto desapareceu sem deixar o plano. Os economistas memorizaram todo um conjunto de coisas: infelizmente não possuem um cálculo da obra. Sabem a origem e a história de cada peça; quanto é que ela custou, que madeira fornece as melhores vigas, e que argila os melhores tijolos, o que se gastou em ferramentas e transportes; quanto ganhavam os carpinteiros, e quanto os canteiros: Não conhecem o destino e o lugar de nada. Os economistas não podem esconder que têm sob os olhos os fragmentos duma grande embrulhada dum chefe de obras, “disjecti membra poetoe”; mas foi-lhes impossível até agora encontrar o delineamento geral, e todas as vezes que tentaram algumas aproximações, só encontraram incoerências.
Desesperados ao fim de combinações sem resultado, acabaram por erguer a inconveniência arquitectónica da ciência, ou, como dizem os inconvenientes dos seus princípios; numa palavra, negaram a ciência. (...)
O edifício social foi portanto, abandonado; a multidão irrompeu sobre a construção: colunas, coberturas e alicerces, a madeira, a pedra e o metal foram distribuídos por lotes e tirados à sorte, e destes materiais acumulados por um templo magnífico, a propriedade, ignorante e bárbara, construiu cabanas. Trata-se, portanto, não somente encontrar os planos do edifício, mas desalojar os ocupantes, os quais sustentam que a sua cidade é sublime, e, à palavra de restauração, dispõem-se em batalhas à sua porta.”(24)
É necessário portanto adoptar uma análise nova, que constituirá a ciência social utilizando os materiais mais adaptados, quer dizer os da economia política (25), destruindo pela crítica a maneira pela qual ela os utiliza, pondo em evidência os erros dos economistas, cuja reparação reconciliará o facto e o direito:
“Se portanto demonstro, que a economia política, com todas as suas hipóteses contraditórias e as suas conclusões equívocas, não é nada que uma organização do privilégio e da miséria, terei provado por isso mesmo que ela contém implicitamente a promessa duma organização do trabalho e de igualdade, já que, como o dissemos, toda a contradição sistemática é o anúncio duma composição; bem mais, terei provado as bases desta composição; Logo, enfim, expor o sistema das contradições económicas, é deitar os fundamentos da associação universal, dizer como os produtos da obra colectiva saíram da sociedade, é explicar como será possível fazê-los entrar; mostrar a génese dos problemas de produção e de repartição, é preparar a solução”(26).
Assim, “A Economia política, por aquilo que ela organiza a miséria, é já a organização do trabalho: tem um valor positivo, apesar das suas antinomias, e precisamente pelo conjunto das suas antinomias; e toda a teoria que a nega, é falta de inteligência absurda.”(27)
Assim, a economia política tal qual é praticada não se justifica em nada (28) (29), mas paralelamente, o único mérito dos socialistas é de o ter verificado.(30)
Proudhon testemunha um certo respeito pela economia política. Os economistas parecem ter forjado os utensílios indispensáveis à elaboração duma verdadeira ciência social. Em compensação é imperdoável de não ter sabido utilizá-la de outro modo a não ser em proveito duma vasta empresa de legitimação do indefensável roubo proprietário (22).
“Os economistas (...) descreveram os fenómenos, verificaram os seus acidentes e as suas relações; verificaram, em várias circunstâncias, um carácter de necessidade que os fez chamar leis; e este conjunto de conhecimentos, apanhados nas manifestações por assim dizer mais ingénuas da sociedade, constitui a economia política.
A economia política é portanto a história natural dos costumes, tradições, práticas e rotinas mais aparentes e as mais universalmente acreditadas da humanidade, no que diz respeito a produção e a distribuição da riqueza. A este título, a economia política considera-se como legítima em facto e em direito: em facto, pois os fenómenos que ela estuda são constantes, espontâneos e universais; em direito, pois estes fenómenos têm por eles a autoridade do género humano, que é a mais grande autoridade possível. Também a economia política se qualifica de ciência, quer dizer de conhecimento racional e sistemático dos factos regulares e necessários.” (23)
Para ilustrar o que deveria ser a economia social, tanto na sua concepção como no seu papel, por relação à economia política, Proudhon utiliza uma alegoria, que, fiel aos mitos platónicos, permite-lhe, dum modo simplificado, sintetizar a sua visão do mundo:
“Representemos, então, a economia política como uma imensa planície, coberta de materiais preparados para um edifício. Os operários esperam pelo sinal, cheios de ardor, ansiosos por começar a obra: mas o arquitecto desapareceu sem deixar o plano. Os economistas memorizaram todo um conjunto de coisas: infelizmente não possuem um cálculo da obra. Sabem a origem e a história de cada peça; quanto é que ela custou, que madeira fornece as melhores vigas, e que argila os melhores tijolos, o que se gastou em ferramentas e transportes; quanto ganhavam os carpinteiros, e quanto os canteiros: Não conhecem o destino e o lugar de nada. Os economistas não podem esconder que têm sob os olhos os fragmentos duma grande embrulhada dum chefe de obras, “disjecti membra poetoe”; mas foi-lhes impossível até agora encontrar o delineamento geral, e todas as vezes que tentaram algumas aproximações, só encontraram incoerências.
Desesperados ao fim de combinações sem resultado, acabaram por erguer a inconveniência arquitectónica da ciência, ou, como dizem os inconvenientes dos seus princípios; numa palavra, negaram a ciência. (...)
O edifício social foi portanto, abandonado; a multidão irrompeu sobre a construção: colunas, coberturas e alicerces, a madeira, a pedra e o metal foram distribuídos por lotes e tirados à sorte, e destes materiais acumulados por um templo magnífico, a propriedade, ignorante e bárbara, construiu cabanas. Trata-se, portanto, não somente encontrar os planos do edifício, mas desalojar os ocupantes, os quais sustentam que a sua cidade é sublime, e, à palavra de restauração, dispõem-se em batalhas à sua porta.”(24)
É necessário portanto adoptar uma análise nova, que constituirá a ciência social utilizando os materiais mais adaptados, quer dizer os da economia política (25), destruindo pela crítica a maneira pela qual ela os utiliza, pondo em evidência os erros dos economistas, cuja reparação reconciliará o facto e o direito:
“Se portanto demonstro, que a economia política, com todas as suas hipóteses contraditórias e as suas conclusões equívocas, não é nada que uma organização do privilégio e da miséria, terei provado por isso mesmo que ela contém implicitamente a promessa duma organização do trabalho e de igualdade, já que, como o dissemos, toda a contradição sistemática é o anúncio duma composição; bem mais, terei provado as bases desta composição; Logo, enfim, expor o sistema das contradições económicas, é deitar os fundamentos da associação universal, dizer como os produtos da obra colectiva saíram da sociedade, é explicar como será possível fazê-los entrar; mostrar a génese dos problemas de produção e de repartição, é preparar a solução”(26).
Assim, “A Economia política, por aquilo que ela organiza a miséria, é já a organização do trabalho: tem um valor positivo, apesar das suas antinomias, e precisamente pelo conjunto das suas antinomias; e toda a teoria que a nega, é falta de inteligência absurda.”(27)
Assim, a economia política tal qual é praticada não se justifica em nada (28) (29), mas paralelamente, o único mérito dos socialistas é de o ter verificado.(30)
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