quarta-feira, dezembro 01, 2010

Eurozona: Entre a austeridade e o incumprimento

A presente crise da dívida pública, na Grécia e noutros países da periferia da zona euro, ameaça a União Monetária Europeia como um todo. Todavia, o projecto da zona euro já penalizou, por sua vez, a Grécia e outros países periféricos durante a última década. A actual crise encontra as suas origens em dois motivos relacionados entre si: o enviesamento subjacente ao modelo de União Monetária adoptado e a crise financeira e económica de 2007-09.

A União Monetária limitou e removeu, respectivamente, o recurso aos instrumentos de política fiscal e monetária, obrigando a que o ajustamento dos desequilíbrios macroeconómicos fosse realizado através do mercado de trabalho. Na prossecução das políticas promovidas pela União Europeia, os países da zona euro sujeitaram-se ao ajustamento pelo menor denominador comum, assente na maior flexibilidade do mercado de trabalho, contenção salarial e promoção do trabalho em part-time. A competição nesta ofensiva contra o trabalho tem sido ganha pela Alemanha que, desde a reunificação, sujeitou os seus trabalhadores a uma forte compressão. A zona euro tornou-se uma área de persistentes excedentes externos alemães, financiados pelos défices externos dos países periféricos. A União Monetária traduziu-se numa política beggar-thyneighbour (empobrecimento do vizinho) da Alemanha em relação aos países da periferia, não sem que o “empobrecimento” tenha afectado primeiro os seus próprios trabalhadores.

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