sexta-feira, dezembro 03, 2010

Tive pena de Medina Carreira

Medina Carreira quis saber se é possível manter por muito tempo o Estado Social. Fartou-se de estudar e concluiu que não. E de facto não é, se assumirmos que todas as outras variáveis, incluindo as ideológicas e as políticas, se manterão constantes. Destas variáveis, a que pesa mais, por larguíssima margem, é a presença no sistema económico português duma das oligarquias mais predadoras e mais corruptas da Europa (e das mais incompetentes, porque depender de salários baixos é o cúmulo da incompetência). Uma oligarquia que se habituou, já desde o século dezanove, não só a não produzir riqueza, como a travar a sua produção; a socializar os custos e os riscos privatizando os proveitos; a viver mais de rendas que de lucros; a enriquecer obscenamente com os impostos dos portugueses; a receber do Estado toda a espécie de monopólios, concedendo-lhe em troca um precioso monopólio sobre a ascensão social.

A pergunta certa não é se é ou não possível sustentar o Estado Social. A pergunta certa, ou a principal das perguntas certas, é se é possível sustentar ao mesmo tempo o Estado Social e esta oligarquia. Se Medina Carreira a tivesse estudado em paralelo com o Estado Social, teria talvez concluído por esta impossibilidade; e esta conclusão teria mérito porque não excluiria do cálculo a variável decisiva.

O mundo mudou em 2008. A oligarquia já vinha de muito antes, mas muitos de nós passávamos por ela sem a ver, como os habitantes de Sevilha pela estátua do Comendador. Mas agora o Comendador de Pedra está presente no debate político-económico como no banquete de Don Giovanni. É impossível que os economistas do regime não o vejam. Só é possível, e à custa de muito esforço, que finjam não o ver.

No caso de Medina Carreira, este fingimento é patético; no caso de outros, menos honestos, é simplesmente criminoso.

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