PROUDHON (PIERRE JOSEPH)
Socialista francês (Besançon 1809-Paris 1865).
Como Fourier, Proudhon é franco-“comtois”, originário de uma província, fez realçar Eugène Fourière, que, se ela conserva, nas suas abadias, os servos até ao século XVIII, depressa desde a Idade Média os camponeses livres associam-se às cooperativas queijeiras (ou frutíferas) e que, no último estado do século XIX, devia oferecer um bom terreno de recrutamento à anarquia russa Bakounine. Ele mesmo dizia-se originário de uma linha de camponeses que tinham todos sido desde um tempo imemorial “lavradores leais”.
UMA JUVENTUDE POBRE
Proudhon era filho de um tanoeiro que, em 1814, deseja instalar-se à sua conta, mas falha devido a maus negócios. A família deve retirar-se para o campo e tentar viver numa pequena exploração.
Pierre Joseph Proudhon, que, anteriormente, servia os clientes, passa a maior parte do seu tempo a guardar as vacas. Ele acede à religião católica pela sua mãe, por quem nutre uma grande admiração.
Depois de ter frequentado a “escola mútua de M.M.Ordinaire”, cujos métodos colocam-lhe talvez o príncipio da ideia mutualista, é-lhe atribuída aos doze anos uma bolsa externa do colégio de Besançon onde ele começa os seus estudos clássicos em difíceis condições.
Toda a sua vida, ele conservara a forte marca desta vida camponesa. Mas, desde os dezasseis anos de idade, ele perde a fé, acusando, parece-lhe, a Igreja de ser “do lado dos ricos”. Obrigado a abandonar os seus estudos no último ano, porque a situação da família é bastante precária, ele trabalha na tipografia, às vezes como tipógrafo e às vezes como corrector.
AUTODIDATA
Ao menos, estes ofícios lhe permitarão continuar a instruir-se, mas à mercê dos trabalhos. Com risco também das viagens, porque talvez ele não encontre sempre emprego, talvez por ver o país, ele transfere-se em 1831-32, depois em 1833 sucessivamente a Paris, Lion, Marselha, Draguignam, Toulon. Em 1832, ele escreve, em Paris: “Sobre sessenta impressões, nenhuma me tinha podido desafiar”. Assim crescia nele o sentimento de que a sociedade actualmente não é justa. Ao longo destes anos, duas leituras provocadas pelos seus trabalhos de imprensa parecem ter exercído sobre si uma influência: aquela da Bíblia – que mais tarde ele anotará com vistas numa publicação – e dos Pais da Igreja (ele aprende hebraico) e aquela de Fourier, seu compatriota.
Em 1836, Proudhon instala-se à sua conta com um dos seus camaradas. Mas ele não consegue manter a empresa. Uma oportunidade surge-lhe então: a academia de Besançon coloca em concurso uma pensão, por três anos, com a oferta de um bacharel colocando-lhe dificuldade para que prossiga os seus estudos. Proudhon não teve o seu bacharelato.
Mas isso não o detém! Ele passa-o aos vinte e nove anos, a sua candidatura e é escolhido a 23 Agosto de 1838. Ele chega à capital para retomar os seus estudos. Até lá, ele parecia interessar-se sobretudo pela linguística (em 1837, ele publicou o Ensaio de gramática geral). É contra a economia que ele se volta doravante: ele lê Adam Smith, J.-J.Rousseau, F.Bastiat, seguindo os cursos de economia da faculdade de direito e do Conservatório das artes e ofícios, onde lecciona Adolphe Blauqui, o irmão do revolucionário, frequenta o Colégio de França.
“A PROPRIEDADE, É O ROUBO” (JUNHO 1840)
Em Fevereiro de 1839, participando num concurso sobre o tema Da celebração do domingo considerada sob os benefícios da higiéne pública, da moral, das relações de família e da cidade, Proudhon não obtém mais que uma menção honrosa: nele surgem-lhe os ataques contra a civilização industrial e contra o evangelho.
Uma outra obra vai-lhe valer uma repentina notoriedade. Em Junho de 1840, ele pública uma primeira memória sobre a propriedade. À questão: “O que é a propriedade?”, ele responde: “A propriedade, é o roubo”, diz que Brissot tinha lançado em 1780, Edouard Droz não seria injusto de escrever: “A obra de Proudhon” O que é a propriedade? tem a mesma importância para a economia política moderna que o outro de Sieyès, Oque é o Terceiro Estado?, tem para a política moderna”, “Penetrando na obra”, o juíz Karl Marx a 16 Outubro de 1842 na Gazeta renana.
Uma segunda memória sobre o mesmo tema, de tom mais moderado, mas que faz tanto escândalo, aparece em 1841 sob a forma de uma carta a Adolphe Blauqui. Ela é seguida em 1842 por uma terceira, que, sob o título de Aviso aos proprietários, dirige-se a Vitor Considérant, redactor da Falange. Sobre um tom voluntariamente provocante, que denota um grande talento polemista, Proudhon exprime logo os pontos de vista moderados. Mas ele reclama a igualdade em todos os domínios. O evangelho colocou o príncipio da igualdade diante de Deus. O século XVI e XVIII, abriram a porta à igualdade diante do saber. 1789 instaurou a igualdade diante da lei. Presentemente, é preciso obter a igualdade na economia.
A EXPERIÊNCIA LIONESA E O REENCONTRO COM MARX
Em 1843, Proudhon instala-se em Lion como contabilista numa empresa de navegação sobre o Rhône e o Reno que um dos seus antigos condiscípulos dirige.
Desta experiência profissional nascerá o interesse que ele transportará doravante à contabilidade. Esta estada lionesa está também sem dúvida na origem da sua adesão aos príncipios do mutualismo. Não é na generalização da condição de chefes de atelier como comporta a fábrica da seda lionesa, que ele vai daqui para a frente ver uma revolução violenta que seguiria uma proletarização generalizada?
Ao longo das viagens que ele faz a Paris, Proudhon conhece Bakounine, Herzen e sobretudo Marx, que declar ter “infectado o hegelianismo” e que desja então o único socialista francês que tinha ousado romper totalmente com o cristianismo. É razão pela qual Marx oferece-se ser o seu correspondente seduzido pela França.
Com impertinência, Proudhon, que é o aluno de Marx e que suporta talvez o mal de não ser considerado que como o segundo, responde a 17 de Maio de 1846: “Eu autorizo voluntários a tornarem-se límitrofes da vossa correspondência cujo objectivo e organização parece-me dever ser muito utéis. Eu não vos prometo portanto de vos vos escrever nem muito nem frequentemente. As minhas ocupações de todas as naturezas e juntas numa indolência natural, não me permitem estes esforços epistolários. Eu tomarei também a liberdade de fazer algumas reservas que são sugeridas por diversas passagens da vossa carta”.
Estas reservas são significativas. Elas contêm dois pontos principais:
1º) Não é preciso, como o fez Luther, criar uma nova dogma, nem fundar uma nova religião. Tudo deve poder ser sempre posto em causa. “Nesta condição, eu ingressarei com prazer nesta vossa associação. Senão, não”;
2º) Nós não devemos colocar a acção revolucionária como meio de reforma social”
A troca das cartas com Marx anuncia a ruptura, que intervém alguns meses mais tarde. Quando, em Outubro de 1846, Proudhon publica o Sistema de contradições económicas ou Filosofia da Miséria, Marx riposta pela Miséria de filosofia. Com efeito, estes são as duas concepções diferentes do socialismo que se afrontaram duramente.
A REVOLUÇÃO DE FEVEREIRO DE 1848
JORNALISTA E DEPUTADO
Proudhon chega de Paris quando rebenta a Revolução de Fevereiro, aos seus olhos prematuros porque “ninguém tem a palavra”. Ele está equivocado por “esta multidão de advogados uns mais ignorantes que outros”. Mas, convencido que ele detém a verdade, ele vai empregar-se a retomar primeiramente por estas duas brochuras sobre a Solução do problema social(publicados a 22 e 26 de Março de 1848), por aquela que é intitulada Resumo da questão social e pelos seus artigos no Representante do povo, jornal que aparece a 1 de Abril de 1848 a 21 de Agosto. O sucesso deste jornal deve ser bastante vivo, pois á à sua difusão que Proudhon atribui a sua eleição em Sena, a 5 de Junho, com Louis Napoléon, Victor Hugo, Pierre Leroux.
Contudo, Proudhon não toma nenhuma parte na insurreição de Junho. A sua presença na Assembleia constituinte é marcada, a 31 Julho, pela discussão de um texto que ele dispôs para preconizar um imposto do terceiro sobre todos os rendimentos dos bens móveis e imóveis. É um desastre; a intervenção de Proudhon é suspensa de interrupções; seu texto é denunciado como um “ataque odioso aos princípios de moral pública e uma violação de propriedade, uma incitação á delação”; ele é afastado por 693 votos contra 2 (o de um operário e o de uma amiga).
Proudhon não continua a defender com paixão o que lhe parece naquele momento essencial, a criação de uma banca de trocas (onde os estatutos foram publicados na Representação do povo a 15 de Maio de 1848) que sustinham Bastiat e Émile de Girardin. Mas ele não chega a fazer tomar o seu projecto em consideração pela Comissão do Luxemburgo. Ele ataca então Lamartine, Ledrum-Rollim, Pierre Leroux, Louis Blanc, Étienne Cabet. A 26 de Setembro de 1848, no escritório de Émile de Girardin, ele tem uma entrevista com Louis Napoléon, para que ele aprove alguma simpatia. Mas, aquando das eleições presidenciais a 10 de Dezembro de 1848, ele mantém a candidatura de Raspail, apresentado pelos mais avançados dos socialistas. A 13 de Maio de 1849, ele é derrotado nas eleições legislativas.
Entretanto, o Povo, que ele lançou a 2 de Setembro de 1848, mas que foi penhorado por falta de caucionamento, o jornal da República democrática e social, onde Louis Darimon (1819-1902) é redactor-chefe, substituí o Povo.
O jornal aparece até 13 de Junho 1849 e é substituído a 1 de Outubro de 1849 a 14 Maio de Maio de 1850 pela Voz do povo e de 15 de Junho de 1850 a 13 Outubro 1850 peloPovo de 1850. As perseguições pelo delírio da imprensa obrigam Proudhon a exilar-se na Bélgica (Março 1849). No seu regresso a França, um novo processo vale-lhe cinco anos de prisão e 6000 francos de multa. Ele não participou mais nas jornadas de Junho. Proudhon não se junta ao movimento de protesto que agita os subúrbios a 2 de Dezembro de 1851. Nesse dia, o prisioneiro tem o seu dia de sorte; ele passeia em Paris, observa, julga e, à noite, entra prudentemente em Sainte-Pélaige.
FRENTE AO PRÍNCIPE PRESIDENTE
Desde 3 de Dezembro de 1851, Proudhon escreve a Guillemin para lhe dizer que ele conheceu um grande projecto: fazer comanditar a Banca do povo para Louis Napoléon. É então que ele escreve uma obra estranha, a Revolução Social, demonstrada pelo golpe de Estado do 2 Dezembro, que confunde os seus admiradores. Saído da prisão a 4 Junho 1852, ele escreve: “Louis Napoléon é mesmo como o seu tio, um ditador revolucionário, mas com esta diferença que o Primeiro Consulado vinha encerrar a primeira fase da Revolução, desde que o presidente abra a segunda revolução social”. Mas ele depressa compreende que Louis Napoléon rejeita esta tarefa. Então, ele lança-se contra o futuro imperador, e, desde que não se possa exprimir livremente, ele liberta-se nos seus livros de lembranças: “um infante ? aventureiro, por uma ilusão popular para presidir aos destinos da República, lucra com os nossos discursos civis. Ele ousa, obrigado pela força, a exigir a tirania. Paris assemelha-se nestes momentos a uma mulher atacada, amordaçada e violada por um brigadeiro” (4 Dez.1852).
Num momento, Proudhon parece afastar-se da acção. Talvez é que tendo simplesmente necessidade de escrever para viver ele procura as obras rentáveis que não serão perseguidas. Ele trabalha num Curso de ecónomia política, numa Biografia geral, numa Cronologia geral, num projecto de exploração perpétua no palácio da indústria. Em 1853, ele publica um Manual do espectador da Bolsa, onde ele se opõe à federação industrial da democracia industrial, a associação dos artesãos. Ele propõe também uma reforma dos caminhos-de-ferro, onde ele reclama uma baixa tarifa, e um controle das companhias pelo Estado.
OS ÚLTIMOS ANOS
Mas Proudhon é bastante combatente para se contentar com estas actividades menores.
Em 1858, ele lança o que poderia muito bem ser a sua maior obra. Da justiça na revolução e na igreja, uma obra enorme de 1600 páginas que constituí um requisito contra a religião cristã, à qual ele opõe a religião do trabalho. Lá, ele ataca a centralização sob todas as formas (o que não faltará de incentivar seus discípulos contra Marx, federalistas contra centralistas) e lá preconiza também, no lugar de uma especialização exagerada, uma aprendizagem politécnica, que, aos seus olhos, permitiria evitar ou, pelo menos, de limitar o desemprego.
A obra vale-lhe novas perseguições: três anos de prisão e 4000 francos de multa. Para escapar, Proudhon foge para Bruxelas, onde a polícia belga vê-o instalar-se sem simpatia: alguns tomam-no como um agente bonapartista.
Em 1861 surge a Guerra e a Pax, onde, talvez sob influência de Joseph de Maistre, Proudhon celebra a guerra como um fenómeno divino, revelação religiosa de justiça do ideal. Caminho traçado, ele pronuncia-se contra o tratado do comércio franco-britânico de 1860 e contra a unidade italiana.
Uma amnistia de Dezembro de 1860 permite-lhe reentrar em França. Proudhon fá-lo sem ódio (Setembro 1862) e publica o Princípio federativo (1863). Até lá, ele tinha reclamado a destruição do poder político e a organização espontânea das forças económicas. Doravante, ele não elimina mais a política; ele subordina-a. Ele não aceita que o Estado absorva todas as forças sociais numa unidade da tirania. Ele considera que só a pluralidade dos centros de produção e de distribuição assegurará a liberdade. Mas, como em grupo, desenvolvendo-se ao excesso, poderia tornar-se à sua tirania, o papel do federalismo (ou cada associado guarda mais a liberdade do que a alínea) será manter o equilibrio: a independência e a vitalidade de cada um serão garantidas pelo cumprimento das contradicções.
Contrariamente ao que alguma fé suscita, Proudhon não parece ter inspirado o Manisfesto dos Sessenta, que, em 1864, preconiza as candidaturas operárias, mas muitos dos seus signatários parecem ter lido Proudhon. Este aqui empreende, por outro lado, de comentar com entusiasmo este apelo à sessação da plebe. Ele começa então Da Capacidade política das classes operárias, obra que ele não veria publicada. É o seu executor testamenteiro Gustave Chaudey (1817-1871) que o prepara e o editará em 1865.
O HOMEM
No fim desta vida de cinquenta e seis anos, o homem parece um forte complexo: violento na forma, moderado na base, irascível e susceptível, orgulhoso como o são frequentemente os autodidatas chegados a um certo nível graças às suas qualidades reais, persuadido que a França e o mundo não prestam uma homenagem suficiente ao seu génio e, por isso, condenam-se ao pior. Nele misturam-se mais ou menos confusamente, um camponês rebelde arbitrário, mas favorável à associação livre, um contabilista meticuloso, um moralista exigente, um revolucionário corajoso no domínio do pensamento, atento a todos os movimentos espontâneos das massas populares, mas inquieto das suas ignorâncias obstinadas e hóstil a toda a liberalização da mulher, para a qual ele não via outro destino que “dona de casa ou cortesã”.
Proudhon fundador da sociologia? Se se quiser, na condição de tomar cuidado que ele foi precedido por Auguste Comte; certamente, para ele, há mais na sociedade que na soma dos indivíduos que a compõem; mas a sociedade não tem valor mas sim medida onde ele assegura a liberdade do indivíduo. Um dos biógrafos de Proudhon, Maxime Leroy, concluíu a dualidade das tendências que se observa entre si: “Não compreenderá Proudhon que se observa que existe em si dois seres, um proletário cuja sensibilidade era sinceramente proletária e um burguês acrescenta a este proletário ou sobretudo um artesão saciado, sem que ele duvide daquilo que poderia ser desejado, desconfiança contra a classe operária, contra o poder, um burguês preparado pela ecónomia política para um liberalismo da ocasião plena de firmeza”.
Indo mais longe, Daniel Havévy vê em Proudhon o porta-voz de classes intermediárias, que a evolução económica condena e que obstina-se contra a proletarização em marcha.
PROUDHONISMO E PROPRIEDADE
Seria injusto considerar que a famosa frase “A propriedade, é o roubo” exprime todo o pensamento de Proudhon. Certamente, este estima que a propriedade, desde que ela seja oriunda do mundo contemporâneo, não pode fundar nem sobre a ocupação (não será mais que um usufruto), nem sobre o trabalho (pois o trabalhador não tem o direito ao produto integral do seu trabalho). Para ele, existe a espoliação: “O capitalismo pagou as jornadas dos operários. Para ser exacto, é preciso dizer que o capitalista, pagou muitas vezes uma jornada onde ele empregou operários cada dia, o que não é nada a mesma coisa. Pois esta força imensa que resulta da acção e da harmonia dos trabalhadores, da convergência e da simultaneidade dos seus esforços, ele não pagou. Duzentos grenadeiros em poucas horas foram dirigidos ao obelisco de Louqsor sobre a base, supõe-se que um só homem em 200 dias teria alcançado? Entretanto, à conta do capitalismo, a soma dos salários foi a mesma” (O que é a propriedade?).
O que Proudhon censura na propriedade, é de ser tornada especulativa, pelo que ele chama de direito da fortuna – e que, para ele, “toma alternadamente os nomes de pensão, renda, aluguer, interesse monetário, benefício, juro, desconto, comissão, privilégio, monopólio, prémio, acumulação, sinecura, pote de vinho” (Resumo da questão social).
Não entra neste anatema alguma coisa da veemência com aquela das teologias medievais que condenavam o gasto?
Mas Proudhon não pretende banir a propriedade. ele próprio o diz: “[…] concluí-se que eu desejava destruir a propriedade. destruir uma concepção de espírito, uma força económica, destruir a instituição que esta força e esta concepção produzem é também absurda ao destruir a matéria. Nada pode retornar ao nada. Este axioma é também verdadeiro nas ideias que nos átomos (Da justiça na revolução e na Igreja).
Como há muitos homens de 1789 e de 1793, a propriedade parece-lhe a garantia da liberdade: “Para que o cidadão seja algo no Estado, não chega que ele seja livre da sua pessoa. É preciso que a sua personalidade se apodere como aquela do Estado sobre uma porção de matéria que ele possuí em toda a soberania. Como o Estado tem a soberania do domínio público. Esta condição é substituída pela propriedade. servir de contrapeso ao poder político, balançar o Estado, por este meio assegurar a liberdade individual, ela será então, no sistema político, a função principal da propriedade” (Teoria da propriedade, 1866).
PROUDHON E O ESTADO
Proudhon define-se como o homem da liberdade acima de tudo. Ele vê nela “o charme da Revolução sem o qual o trabalho é uma tortura e a vida uma longa morte”. E esta liberdade ele concede-a sob todas as suas formas: “Liberdade de consciência, liberdade de imprensa, liberdade do trabalho, liberdade do comércio, liberdade do ensino, livre concorrência, livre disposição dos frutos do seu trabalho e da sua indústria, liberdade ao infinito, liberdade absoluta, a liberdade, em todos os sentidos e sempre, o sistema de 89 e de 93, o sistema de Quesnay, Turgot, J.-B.Say”.
O termo da anarquia não espanta portanto, ainda que lhe dê o seu sentido etimológico, sem o encobrir, como o fará de seguida, de sonhos apócalipticos: “A anarquia é a condição de existência das sociedades primitivas. Existe o progresso incessante nas sociedades humanas da hierarquia à anarquia” (Da capacidade política das classes operárias).
Proudhon concede a sociedade nova como um conjunto de associações federativas de agrupamentos livres. “O atelier substituirá o governo”, lançou ele numa fórmula lapidária que retomarão, cinquenta anos mais tarde, os partidários da mina aos minérios e, um século mais tarde, os adeptos da autogestão. Com efeito, ele deseja “fundir, imergir e fazer desaparecer o sistema político ou governamental no sistema económico, reduzindo, simplificando, descentralizando, suprimindo um depois do outro todas as rodagens desta grande máquina que tem o nome de governo” (A voz do povo, 3 Dez.1849).
É lá onde a compatibilidade parece-lhe estar a jogar um papel decisivo: “A solução do problema da miséria consiste em elevar a uma expressão mais alta a ciência do contabilista, mostrar as escrituras da sociedade, estabelecer o activo e o passivo de cada instituição […]. É preciso agarrar as escrituras diariamente, ou seja, determinar com exactidão os direitos e os deveres, de maneira a poder, a cada momento, constactar a ordem ou a desordem e apresentar o balanço” (Confissão de um revolucionário, 1849).
Proudhon chega desde logo a esta anti-tese: com o Estado, a guerra entre os homens, mais particularmente entre os fracos e os fortes; com a sociedade nova, solidariedade entre todos os homens, oriundos de todos os trabalhadores.
“A constituição do Estado supõe, quanto ao seu assunto, que o antagonismo ou o estado de guerra é a condição essencial e indestructível da humanidade, condição que necessita entre os fracos e os fortes da intervenção de uma força coerciva, que ponha fim aos combates para uma opressão geral […].
“Numa sociedade transformada quase sem ele saber no desenvolvimento da sua ecónomia, não existirá nem fortes nem fracos; só existem os trabalhadores cujas faculdades e meios dirigem-se sem parar para a solidariedade individual e a garantia da circulação a igualar-se”.
Este libertário é também um igualitário.
PROUDHON E A RELIGIÃO
Proudhon é o adversário de toda a religião revelada, de todas as Igrejas, de todos os teólogos. “Deus é um ser essencialmente anti-civilizador, anti-liberal, anti-humano”. Jaloux d’Adam, tirano de Prometeu, ele é tolice e cobardia, hipócrisia e mentira, tirania e miséria. A religião é condenada pela história. O cristianismo opõe-se ao desenvolvimento do eu humano.
Mas Proudhon recusa ser classificado como ateu: ele proclama-se antiteísta. Édouard Droz escreve: “A sua faculdade religiosa procurava com uma espécia de angústia um objecto de culto, pelo menos de veneração, falta do qual a humanidade parece-lhe condenada pelo declínio”. Em Proudhon subsiste efectivamente um moralista que reclama os costumes puros e um idealista para que as ideias conduzam o mundo. Mgr Pierre Haubtmann concluí ironicamente: “Em vez de divinizar a humanidade como os seus amigos alemães discípulos de Feuerbach, Proudhon prefere guardar Deus onde ele não pode passar e declarar-lhe guerra”.
SERÁ PROUDHON SOCIALISTA?
Na filosofia da miséria, a capacidade política das classes operárias o chefe de obra de Proudhon. É, em todo o caso, a obra que, “aujamais”nada”. O elogio sem nuance que Proudhon fez do liberalismo clássico é. Com efeito, dificilmente compatível com os temas gerais d socialismo que aumenta. Marx escreve:”Proudhon quer ser a síntese. Ele é um erro composto. Ele quer planear, um homem de ciência, abaixo dos burgueses e dos proletários. Ele não é mais que pequena burguesia, agitado constantemente entre a capital e o trabalho, entre a ecónomia política e o comunismo”.
Mas, nesta opinião, é preciso opôr aquela de Daniel Halévy, que, propôs o discurso de 31 Julho 1848, observa que opondo capital e proletariado, “pela primeira vez e por si [Proudhon], o que nós chamamos de guerra de classes vinha a ser enunciada, declarada no tribunal”.
Efectivamente, Proudhon crê menos no proletariado que no povo trabalhador no seu conjunto (compreende-se os camponeses e artesãos, dos quais ele se sente muito perto), e ele conta mais sobre uma acumulação de reformas da circulação e da troca que sobre uma brutal transformação.
PROUDHON E A ACÇÃO OPERÁRIA
Albert Thomas via na capacidade política das classes operárias o chefe de obra de Proudhon. É, em todo o caso, a obra que, actualmente, assegura-lhe a mais vasta audiência nos milhões de operários. Ele marca o último estado do pensamento de Proudhon, que, dando conta da experiência, adere à ideia de uma separação operária”, então primeiramente ele aparece desejoso de integrar as classes operárias montantes às classes médias.
Proudhon tinha há muito englobado na mesma condenação todas as formas de conciliação. Ele tinha inclusivé combatido a lei Émile Ollivier de 1864. Ele conserva acerca da eficácia da aliança operária algum cepticismo: “Para que a aliança seja eficaz, importa que ela seja unânime – e é por isso que a lei pode, defendendo sob penas severas, todo o atentado à liberdade do trabalho, o que abre a porta às defecções. Vós esperais, operários, manter contra o interesse a miséria, esta unanimidade heróica?”
Com muita força, ele descreve a revolução orgânica que constituí a aparição de uma democracia operária que ele atira contra o mutualismo: “Uma revolução social, como aquela de 89, que continua sob os nossos olhos da democracia operária, é uma transformação que se ompleta espontaneamente no conjunto e em todas as partes do corpo político. É um sistema que subsitui uma organização decrépita; mas esta substiuição não se faz instituindo como o homem que troca de costume ou de distintivo; ela não chega ao comando de um mestre estando a sua teoria toda feita ou sob o ditado de um revelador. Uma revolução verdadeiramente orgânica, produto da vida universal, mesmo que ela tenha os seus mensageiros e os seus executadores, não é verdadeiramente a obra de ninguém. É uma ideia que no primeiro momento não oferece nada de marcante, emprestada que aparece a sabedoria vulgar que a cada instante, como o grande escandâlo sob a terra, como o embrião no ovo, toma um acréscimo imprevisto e das suas instituições enche o mundo”.
Proudhon não conheceu directamente o pensamento de Hegel. Antes uma síntese sucedendo a uma tese e a uma antítese, parece que seja uma fidelidade estacionária a um equilíbrio baseado sobre a luta de elementos adversos e a oposição dos contrários, numa pluralidade viva, a única unidade que ele admite ser aquela do atelier, o atelier da pequena empresa e do artesanato mais que o da grande empresa. É assim que propôs transformar as companhias de caminhos-de-ferro em companhias operárias, ou seja, em associações livres de produtores.
O PROUDHONISMO DEPOIS DE PROUDHON
A secção francesa da Internacional era dominada pelos proudhonianos Henri Tolain, Ernest Fribourg, Charles Limousin. Como a notou Charles Andler, “a desconfiança dos franceses da Internacional tinham necessidade de um chefe de fila capaz de sintetizar a sua oposição ao centralismo; eles reclamavam de Proudhon, depressa substituído por Bekounine. Mas a influência de Proudhon é límpida ainda na Comuna parisiense de 1871 com Charles Beslay, Zéphirin Camélinat, Charles Gambon, Charles Longuet, Auguste Vermorel.
Alguns anos mais tarde, nas duas últimas dezenas do século, o anti-estadismo de Proudhon reaparece junto da maior parte dos fundadores do sindicalismo, a bravura apaixonada da independência face ao Estado e ao partido socialista como face ao patronato. Isto não é forçar o sentido do mapa de “Amiens” votado pelo congresso da C.G.T. em 1906 mas encontrar uma ressonância proudhoniana. O bolhetim da C.G.T. chama-se e chamar-se-á até 1939 a Voz do povo”. O estudo de Proudhon, no cerco libertário, inclinava-me particularmente contra a acção operária”, escreve Léon Jouhaux. No domínio educativo, as reflexões sobre a educação (1923) de Albert Thierry prolongaram o pensamento proudhoniano.
Depois de 1914, já que muitos sindicalistas revolucionários sensatos praticarão uma reforma de acção, Léon Jouhaux e os seus amigos continuarão a ver em Proudhon o seu mestre a pensar: a importância que eles darão à Organização internacional do trabalho e sobretudo ao Conselho nacional económico inspira-se no desejo de ver crer e desenvolver novas instituições não-políticas que farão recuar o velho Estado monárquico, jacobino e napoleónico. Em 1920, Jouhaux dedica um livro a Célestin Bouglé nestes termos: “sobre o caminho da verdade proudhoniana”, e ele escreve: “Ninguém na abundante corte dos reformadores do último século não teve maisque o instito operário”. Não é sem razão que Léon Jouhaux baptiza o Povo de quotidiano fundado pela C.G.T. às portas da Primeira Guerra Mundial e o Atelier mensal que ele publica tem diversas passagens. Os radicais que querem dar ao seu movimento uma doutrina ( Léon Bourgeois, Aimé Berthod, Célestin Bouglé), procurando os elementos junto de Proudhon. Mas, ao mesmo tempo, o proudhonismo interessa a alguns realistas mais ou menos em ruptura com Charles Maurras, e alguns quererão ver em Proudhon, depois de 1940, um precursor longíquo da revolução nacional de Vichy. É duvidoso que Proudhon tenha aceite estas relações.
Desde 1968, muitos jovens, atirados pelo “gaucisme”, apoiam Proudhon e lá encontram uma apologia da espontaneidade. Proudhon escreveu a 2 de setembro de 1848 no Manifesto do povo:” Toda a nossa ciência consiste em espiar as manifestações do povo, a solicitar a sua palavra, a interpretar os seus actos; interrogar o povo, é para nós toda a filosofia, toda a política”.
Se os movimentos de liberação da mulher não podem reclamar dele (il s`en faut!), todos os partidários da regionalização e todos os adversários da centralização parisiense podem reconhecer-se nele.
Socialista francês (Besançon 1809-Paris 1865).
Como Fourier, Proudhon é franco-“comtois”, originário de uma província, fez realçar Eugène Fourière, que, se ela conserva, nas suas abadias, os servos até ao século XVIII, depressa desde a Idade Média os camponeses livres associam-se às cooperativas queijeiras (ou frutíferas) e que, no último estado do século XIX, devia oferecer um bom terreno de recrutamento à anarquia russa Bakounine. Ele mesmo dizia-se originário de uma linha de camponeses que tinham todos sido desde um tempo imemorial “lavradores leais”.
UMA JUVENTUDE POBRE
Proudhon era filho de um tanoeiro que, em 1814, deseja instalar-se à sua conta, mas falha devido a maus negócios. A família deve retirar-se para o campo e tentar viver numa pequena exploração.
Pierre Joseph Proudhon, que, anteriormente, servia os clientes, passa a maior parte do seu tempo a guardar as vacas. Ele acede à religião católica pela sua mãe, por quem nutre uma grande admiração.
Depois de ter frequentado a “escola mútua de M.M.Ordinaire”, cujos métodos colocam-lhe talvez o príncipio da ideia mutualista, é-lhe atribuída aos doze anos uma bolsa externa do colégio de Besançon onde ele começa os seus estudos clássicos em difíceis condições.
Toda a sua vida, ele conservara a forte marca desta vida camponesa. Mas, desde os dezasseis anos de idade, ele perde a fé, acusando, parece-lhe, a Igreja de ser “do lado dos ricos”. Obrigado a abandonar os seus estudos no último ano, porque a situação da família é bastante precária, ele trabalha na tipografia, às vezes como tipógrafo e às vezes como corrector.
AUTODIDATA
Ao menos, estes ofícios lhe permitarão continuar a instruir-se, mas à mercê dos trabalhos. Com risco também das viagens, porque talvez ele não encontre sempre emprego, talvez por ver o país, ele transfere-se em 1831-32, depois em 1833 sucessivamente a Paris, Lion, Marselha, Draguignam, Toulon. Em 1832, ele escreve, em Paris: “Sobre sessenta impressões, nenhuma me tinha podido desafiar”. Assim crescia nele o sentimento de que a sociedade actualmente não é justa. Ao longo destes anos, duas leituras provocadas pelos seus trabalhos de imprensa parecem ter exercído sobre si uma influência: aquela da Bíblia – que mais tarde ele anotará com vistas numa publicação – e dos Pais da Igreja (ele aprende hebraico) e aquela de Fourier, seu compatriota.
Em 1836, Proudhon instala-se à sua conta com um dos seus camaradas. Mas ele não consegue manter a empresa. Uma oportunidade surge-lhe então: a academia de Besançon coloca em concurso uma pensão, por três anos, com a oferta de um bacharel colocando-lhe dificuldade para que prossiga os seus estudos. Proudhon não teve o seu bacharelato.
Mas isso não o detém! Ele passa-o aos vinte e nove anos, a sua candidatura e é escolhido a 23 Agosto de 1838. Ele chega à capital para retomar os seus estudos. Até lá, ele parecia interessar-se sobretudo pela linguística (em 1837, ele publicou o Ensaio de gramática geral). É contra a economia que ele se volta doravante: ele lê Adam Smith, J.-J.Rousseau, F.Bastiat, seguindo os cursos de economia da faculdade de direito e do Conservatório das artes e ofícios, onde lecciona Adolphe Blauqui, o irmão do revolucionário, frequenta o Colégio de França.
“A PROPRIEDADE, É O ROUBO” (JUNHO 1840)
Em Fevereiro de 1839, participando num concurso sobre o tema Da celebração do domingo considerada sob os benefícios da higiéne pública, da moral, das relações de família e da cidade, Proudhon não obtém mais que uma menção honrosa: nele surgem-lhe os ataques contra a civilização industrial e contra o evangelho.
Uma outra obra vai-lhe valer uma repentina notoriedade. Em Junho de 1840, ele pública uma primeira memória sobre a propriedade. À questão: “O que é a propriedade?”, ele responde: “A propriedade, é o roubo”, diz que Brissot tinha lançado em 1780, Edouard Droz não seria injusto de escrever: “A obra de Proudhon” O que é a propriedade? tem a mesma importância para a economia política moderna que o outro de Sieyès, Oque é o Terceiro Estado?, tem para a política moderna”, “Penetrando na obra”, o juíz Karl Marx a 16 Outubro de 1842 na Gazeta renana.
Uma segunda memória sobre o mesmo tema, de tom mais moderado, mas que faz tanto escândalo, aparece em 1841 sob a forma de uma carta a Adolphe Blauqui. Ela é seguida em 1842 por uma terceira, que, sob o título de Aviso aos proprietários, dirige-se a Vitor Considérant, redactor da Falange. Sobre um tom voluntariamente provocante, que denota um grande talento polemista, Proudhon exprime logo os pontos de vista moderados. Mas ele reclama a igualdade em todos os domínios. O evangelho colocou o príncipio da igualdade diante de Deus. O século XVI e XVIII, abriram a porta à igualdade diante do saber. 1789 instaurou a igualdade diante da lei. Presentemente, é preciso obter a igualdade na economia.
A EXPERIÊNCIA LIONESA E O REENCONTRO COM MARX
Em 1843, Proudhon instala-se em Lion como contabilista numa empresa de navegação sobre o Rhône e o Reno que um dos seus antigos condiscípulos dirige.
Desta experiência profissional nascerá o interesse que ele transportará doravante à contabilidade. Esta estada lionesa está também sem dúvida na origem da sua adesão aos príncipios do mutualismo. Não é na generalização da condição de chefes de atelier como comporta a fábrica da seda lionesa, que ele vai daqui para a frente ver uma revolução violenta que seguiria uma proletarização generalizada?
Ao longo das viagens que ele faz a Paris, Proudhon conhece Bakounine, Herzen e sobretudo Marx, que declar ter “infectado o hegelianismo” e que desja então o único socialista francês que tinha ousado romper totalmente com o cristianismo. É razão pela qual Marx oferece-se ser o seu correspondente seduzido pela França.
Com impertinência, Proudhon, que é o aluno de Marx e que suporta talvez o mal de não ser considerado que como o segundo, responde a 17 de Maio de 1846: “Eu autorizo voluntários a tornarem-se límitrofes da vossa correspondência cujo objectivo e organização parece-me dever ser muito utéis. Eu não vos prometo portanto de vos vos escrever nem muito nem frequentemente. As minhas ocupações de todas as naturezas e juntas numa indolência natural, não me permitem estes esforços epistolários. Eu tomarei também a liberdade de fazer algumas reservas que são sugeridas por diversas passagens da vossa carta”.
Estas reservas são significativas. Elas contêm dois pontos principais:
1º) Não é preciso, como o fez Luther, criar uma nova dogma, nem fundar uma nova religião. Tudo deve poder ser sempre posto em causa. “Nesta condição, eu ingressarei com prazer nesta vossa associação. Senão, não”;
2º) Nós não devemos colocar a acção revolucionária como meio de reforma social”
A troca das cartas com Marx anuncia a ruptura, que intervém alguns meses mais tarde. Quando, em Outubro de 1846, Proudhon publica o Sistema de contradições económicas ou Filosofia da Miséria, Marx riposta pela Miséria de filosofia. Com efeito, estes são as duas concepções diferentes do socialismo que se afrontaram duramente.
A REVOLUÇÃO DE FEVEREIRO DE 1848
JORNALISTA E DEPUTADO
Proudhon chega de Paris quando rebenta a Revolução de Fevereiro, aos seus olhos prematuros porque “ninguém tem a palavra”. Ele está equivocado por “esta multidão de advogados uns mais ignorantes que outros”. Mas, convencido que ele detém a verdade, ele vai empregar-se a retomar primeiramente por estas duas brochuras sobre a Solução do problema social(publicados a 22 e 26 de Março de 1848), por aquela que é intitulada Resumo da questão social e pelos seus artigos no Representante do povo, jornal que aparece a 1 de Abril de 1848 a 21 de Agosto. O sucesso deste jornal deve ser bastante vivo, pois á à sua difusão que Proudhon atribui a sua eleição em Sena, a 5 de Junho, com Louis Napoléon, Victor Hugo, Pierre Leroux.
Contudo, Proudhon não toma nenhuma parte na insurreição de Junho. A sua presença na Assembleia constituinte é marcada, a 31 Julho, pela discussão de um texto que ele dispôs para preconizar um imposto do terceiro sobre todos os rendimentos dos bens móveis e imóveis. É um desastre; a intervenção de Proudhon é suspensa de interrupções; seu texto é denunciado como um “ataque odioso aos princípios de moral pública e uma violação de propriedade, uma incitação á delação”; ele é afastado por 693 votos contra 2 (o de um operário e o de uma amiga).
Proudhon não continua a defender com paixão o que lhe parece naquele momento essencial, a criação de uma banca de trocas (onde os estatutos foram publicados na Representação do povo a 15 de Maio de 1848) que sustinham Bastiat e Émile de Girardin. Mas ele não chega a fazer tomar o seu projecto em consideração pela Comissão do Luxemburgo. Ele ataca então Lamartine, Ledrum-Rollim, Pierre Leroux, Louis Blanc, Étienne Cabet. A 26 de Setembro de 1848, no escritório de Émile de Girardin, ele tem uma entrevista com Louis Napoléon, para que ele aprove alguma simpatia. Mas, aquando das eleições presidenciais a 10 de Dezembro de 1848, ele mantém a candidatura de Raspail, apresentado pelos mais avançados dos socialistas. A 13 de Maio de 1849, ele é derrotado nas eleições legislativas.
Entretanto, o Povo, que ele lançou a 2 de Setembro de 1848, mas que foi penhorado por falta de caucionamento, o jornal da República democrática e social, onde Louis Darimon (1819-1902) é redactor-chefe, substituí o Povo.
O jornal aparece até 13 de Junho 1849 e é substituído a 1 de Outubro de 1849 a 14 Maio de Maio de 1850 pela Voz do povo e de 15 de Junho de 1850 a 13 Outubro 1850 peloPovo de 1850. As perseguições pelo delírio da imprensa obrigam Proudhon a exilar-se na Bélgica (Março 1849). No seu regresso a França, um novo processo vale-lhe cinco anos de prisão e 6000 francos de multa. Ele não participou mais nas jornadas de Junho. Proudhon não se junta ao movimento de protesto que agita os subúrbios a 2 de Dezembro de 1851. Nesse dia, o prisioneiro tem o seu dia de sorte; ele passeia em Paris, observa, julga e, à noite, entra prudentemente em Sainte-Pélaige.
FRENTE AO PRÍNCIPE PRESIDENTE
Desde 3 de Dezembro de 1851, Proudhon escreve a Guillemin para lhe dizer que ele conheceu um grande projecto: fazer comanditar a Banca do povo para Louis Napoléon. É então que ele escreve uma obra estranha, a Revolução Social, demonstrada pelo golpe de Estado do 2 Dezembro, que confunde os seus admiradores. Saído da prisão a 4 Junho 1852, ele escreve: “Louis Napoléon é mesmo como o seu tio, um ditador revolucionário, mas com esta diferença que o Primeiro Consulado vinha encerrar a primeira fase da Revolução, desde que o presidente abra a segunda revolução social”. Mas ele depressa compreende que Louis Napoléon rejeita esta tarefa. Então, ele lança-se contra o futuro imperador, e, desde que não se possa exprimir livremente, ele liberta-se nos seus livros de lembranças: “um infante ? aventureiro, por uma ilusão popular para presidir aos destinos da República, lucra com os nossos discursos civis. Ele ousa, obrigado pela força, a exigir a tirania. Paris assemelha-se nestes momentos a uma mulher atacada, amordaçada e violada por um brigadeiro” (4 Dez.1852).
Num momento, Proudhon parece afastar-se da acção. Talvez é que tendo simplesmente necessidade de escrever para viver ele procura as obras rentáveis que não serão perseguidas. Ele trabalha num Curso de ecónomia política, numa Biografia geral, numa Cronologia geral, num projecto de exploração perpétua no palácio da indústria. Em 1853, ele publica um Manual do espectador da Bolsa, onde ele se opõe à federação industrial da democracia industrial, a associação dos artesãos. Ele propõe também uma reforma dos caminhos-de-ferro, onde ele reclama uma baixa tarifa, e um controle das companhias pelo Estado.
OS ÚLTIMOS ANOS
Mas Proudhon é bastante combatente para se contentar com estas actividades menores.
Em 1858, ele lança o que poderia muito bem ser a sua maior obra. Da justiça na revolução e na igreja, uma obra enorme de 1600 páginas que constituí um requisito contra a religião cristã, à qual ele opõe a religião do trabalho. Lá, ele ataca a centralização sob todas as formas (o que não faltará de incentivar seus discípulos contra Marx, federalistas contra centralistas) e lá preconiza também, no lugar de uma especialização exagerada, uma aprendizagem politécnica, que, aos seus olhos, permitiria evitar ou, pelo menos, de limitar o desemprego.
A obra vale-lhe novas perseguições: três anos de prisão e 4000 francos de multa. Para escapar, Proudhon foge para Bruxelas, onde a polícia belga vê-o instalar-se sem simpatia: alguns tomam-no como um agente bonapartista.
Em 1861 surge a Guerra e a Pax, onde, talvez sob influência de Joseph de Maistre, Proudhon celebra a guerra como um fenómeno divino, revelação religiosa de justiça do ideal. Caminho traçado, ele pronuncia-se contra o tratado do comércio franco-britânico de 1860 e contra a unidade italiana.
Uma amnistia de Dezembro de 1860 permite-lhe reentrar em França. Proudhon fá-lo sem ódio (Setembro 1862) e publica o Princípio federativo (1863). Até lá, ele tinha reclamado a destruição do poder político e a organização espontânea das forças económicas. Doravante, ele não elimina mais a política; ele subordina-a. Ele não aceita que o Estado absorva todas as forças sociais numa unidade da tirania. Ele considera que só a pluralidade dos centros de produção e de distribuição assegurará a liberdade. Mas, como em grupo, desenvolvendo-se ao excesso, poderia tornar-se à sua tirania, o papel do federalismo (ou cada associado guarda mais a liberdade do que a alínea) será manter o equilibrio: a independência e a vitalidade de cada um serão garantidas pelo cumprimento das contradicções.
Contrariamente ao que alguma fé suscita, Proudhon não parece ter inspirado o Manisfesto dos Sessenta, que, em 1864, preconiza as candidaturas operárias, mas muitos dos seus signatários parecem ter lido Proudhon. Este aqui empreende, por outro lado, de comentar com entusiasmo este apelo à sessação da plebe. Ele começa então Da Capacidade política das classes operárias, obra que ele não veria publicada. É o seu executor testamenteiro Gustave Chaudey (1817-1871) que o prepara e o editará em 1865.
O HOMEM
No fim desta vida de cinquenta e seis anos, o homem parece um forte complexo: violento na forma, moderado na base, irascível e susceptível, orgulhoso como o são frequentemente os autodidatas chegados a um certo nível graças às suas qualidades reais, persuadido que a França e o mundo não prestam uma homenagem suficiente ao seu génio e, por isso, condenam-se ao pior. Nele misturam-se mais ou menos confusamente, um camponês rebelde arbitrário, mas favorável à associação livre, um contabilista meticuloso, um moralista exigente, um revolucionário corajoso no domínio do pensamento, atento a todos os movimentos espontâneos das massas populares, mas inquieto das suas ignorâncias obstinadas e hóstil a toda a liberalização da mulher, para a qual ele não via outro destino que “dona de casa ou cortesã”.
Proudhon fundador da sociologia? Se se quiser, na condição de tomar cuidado que ele foi precedido por Auguste Comte; certamente, para ele, há mais na sociedade que na soma dos indivíduos que a compõem; mas a sociedade não tem valor mas sim medida onde ele assegura a liberdade do indivíduo. Um dos biógrafos de Proudhon, Maxime Leroy, concluíu a dualidade das tendências que se observa entre si: “Não compreenderá Proudhon que se observa que existe em si dois seres, um proletário cuja sensibilidade era sinceramente proletária e um burguês acrescenta a este proletário ou sobretudo um artesão saciado, sem que ele duvide daquilo que poderia ser desejado, desconfiança contra a classe operária, contra o poder, um burguês preparado pela ecónomia política para um liberalismo da ocasião plena de firmeza”.
Indo mais longe, Daniel Havévy vê em Proudhon o porta-voz de classes intermediárias, que a evolução económica condena e que obstina-se contra a proletarização em marcha.
PROUDHONISMO E PROPRIEDADE
Seria injusto considerar que a famosa frase “A propriedade, é o roubo” exprime todo o pensamento de Proudhon. Certamente, este estima que a propriedade, desde que ela seja oriunda do mundo contemporâneo, não pode fundar nem sobre a ocupação (não será mais que um usufruto), nem sobre o trabalho (pois o trabalhador não tem o direito ao produto integral do seu trabalho). Para ele, existe a espoliação: “O capitalismo pagou as jornadas dos operários. Para ser exacto, é preciso dizer que o capitalista, pagou muitas vezes uma jornada onde ele empregou operários cada dia, o que não é nada a mesma coisa. Pois esta força imensa que resulta da acção e da harmonia dos trabalhadores, da convergência e da simultaneidade dos seus esforços, ele não pagou. Duzentos grenadeiros em poucas horas foram dirigidos ao obelisco de Louqsor sobre a base, supõe-se que um só homem em 200 dias teria alcançado? Entretanto, à conta do capitalismo, a soma dos salários foi a mesma” (O que é a propriedade?).
O que Proudhon censura na propriedade, é de ser tornada especulativa, pelo que ele chama de direito da fortuna – e que, para ele, “toma alternadamente os nomes de pensão, renda, aluguer, interesse monetário, benefício, juro, desconto, comissão, privilégio, monopólio, prémio, acumulação, sinecura, pote de vinho” (Resumo da questão social).
Não entra neste anatema alguma coisa da veemência com aquela das teologias medievais que condenavam o gasto?
Mas Proudhon não pretende banir a propriedade. ele próprio o diz: “[…] concluí-se que eu desejava destruir a propriedade. destruir uma concepção de espírito, uma força económica, destruir a instituição que esta força e esta concepção produzem é também absurda ao destruir a matéria. Nada pode retornar ao nada. Este axioma é também verdadeiro nas ideias que nos átomos (Da justiça na revolução e na Igreja).
Como há muitos homens de 1789 e de 1793, a propriedade parece-lhe a garantia da liberdade: “Para que o cidadão seja algo no Estado, não chega que ele seja livre da sua pessoa. É preciso que a sua personalidade se apodere como aquela do Estado sobre uma porção de matéria que ele possuí em toda a soberania. Como o Estado tem a soberania do domínio público. Esta condição é substituída pela propriedade. servir de contrapeso ao poder político, balançar o Estado, por este meio assegurar a liberdade individual, ela será então, no sistema político, a função principal da propriedade” (Teoria da propriedade, 1866).
PROUDHON E O ESTADO
Proudhon define-se como o homem da liberdade acima de tudo. Ele vê nela “o charme da Revolução sem o qual o trabalho é uma tortura e a vida uma longa morte”. E esta liberdade ele concede-a sob todas as suas formas: “Liberdade de consciência, liberdade de imprensa, liberdade do trabalho, liberdade do comércio, liberdade do ensino, livre concorrência, livre disposição dos frutos do seu trabalho e da sua indústria, liberdade ao infinito, liberdade absoluta, a liberdade, em todos os sentidos e sempre, o sistema de 89 e de 93, o sistema de Quesnay, Turgot, J.-B.Say”.
O termo da anarquia não espanta portanto, ainda que lhe dê o seu sentido etimológico, sem o encobrir, como o fará de seguida, de sonhos apócalipticos: “A anarquia é a condição de existência das sociedades primitivas. Existe o progresso incessante nas sociedades humanas da hierarquia à anarquia” (Da capacidade política das classes operárias).
Proudhon concede a sociedade nova como um conjunto de associações federativas de agrupamentos livres. “O atelier substituirá o governo”, lançou ele numa fórmula lapidária que retomarão, cinquenta anos mais tarde, os partidários da mina aos minérios e, um século mais tarde, os adeptos da autogestão. Com efeito, ele deseja “fundir, imergir e fazer desaparecer o sistema político ou governamental no sistema económico, reduzindo, simplificando, descentralizando, suprimindo um depois do outro todas as rodagens desta grande máquina que tem o nome de governo” (A voz do povo, 3 Dez.1849).
É lá onde a compatibilidade parece-lhe estar a jogar um papel decisivo: “A solução do problema da miséria consiste em elevar a uma expressão mais alta a ciência do contabilista, mostrar as escrituras da sociedade, estabelecer o activo e o passivo de cada instituição […]. É preciso agarrar as escrituras diariamente, ou seja, determinar com exactidão os direitos e os deveres, de maneira a poder, a cada momento, constactar a ordem ou a desordem e apresentar o balanço” (Confissão de um revolucionário, 1849).
Proudhon chega desde logo a esta anti-tese: com o Estado, a guerra entre os homens, mais particularmente entre os fracos e os fortes; com a sociedade nova, solidariedade entre todos os homens, oriundos de todos os trabalhadores.
“A constituição do Estado supõe, quanto ao seu assunto, que o antagonismo ou o estado de guerra é a condição essencial e indestructível da humanidade, condição que necessita entre os fracos e os fortes da intervenção de uma força coerciva, que ponha fim aos combates para uma opressão geral […].
“Numa sociedade transformada quase sem ele saber no desenvolvimento da sua ecónomia, não existirá nem fortes nem fracos; só existem os trabalhadores cujas faculdades e meios dirigem-se sem parar para a solidariedade individual e a garantia da circulação a igualar-se”.
Este libertário é também um igualitário.
PROUDHON E A RELIGIÃO
Proudhon é o adversário de toda a religião revelada, de todas as Igrejas, de todos os teólogos. “Deus é um ser essencialmente anti-civilizador, anti-liberal, anti-humano”. Jaloux d’Adam, tirano de Prometeu, ele é tolice e cobardia, hipócrisia e mentira, tirania e miséria. A religião é condenada pela história. O cristianismo opõe-se ao desenvolvimento do eu humano.
Mas Proudhon recusa ser classificado como ateu: ele proclama-se antiteísta. Édouard Droz escreve: “A sua faculdade religiosa procurava com uma espécia de angústia um objecto de culto, pelo menos de veneração, falta do qual a humanidade parece-lhe condenada pelo declínio”. Em Proudhon subsiste efectivamente um moralista que reclama os costumes puros e um idealista para que as ideias conduzam o mundo. Mgr Pierre Haubtmann concluí ironicamente: “Em vez de divinizar a humanidade como os seus amigos alemães discípulos de Feuerbach, Proudhon prefere guardar Deus onde ele não pode passar e declarar-lhe guerra”.
SERÁ PROUDHON SOCIALISTA?
Na filosofia da miséria, a capacidade política das classes operárias o chefe de obra de Proudhon. É, em todo o caso, a obra que, “aujamais”nada”. O elogio sem nuance que Proudhon fez do liberalismo clássico é. Com efeito, dificilmente compatível com os temas gerais d socialismo que aumenta. Marx escreve:”Proudhon quer ser a síntese. Ele é um erro composto. Ele quer planear, um homem de ciência, abaixo dos burgueses e dos proletários. Ele não é mais que pequena burguesia, agitado constantemente entre a capital e o trabalho, entre a ecónomia política e o comunismo”.
Mas, nesta opinião, é preciso opôr aquela de Daniel Halévy, que, propôs o discurso de 31 Julho 1848, observa que opondo capital e proletariado, “pela primeira vez e por si [Proudhon], o que nós chamamos de guerra de classes vinha a ser enunciada, declarada no tribunal”.
Efectivamente, Proudhon crê menos no proletariado que no povo trabalhador no seu conjunto (compreende-se os camponeses e artesãos, dos quais ele se sente muito perto), e ele conta mais sobre uma acumulação de reformas da circulação e da troca que sobre uma brutal transformação.
PROUDHON E A ACÇÃO OPERÁRIA
Albert Thomas via na capacidade política das classes operárias o chefe de obra de Proudhon. É, em todo o caso, a obra que, actualmente, assegura-lhe a mais vasta audiência nos milhões de operários. Ele marca o último estado do pensamento de Proudhon, que, dando conta da experiência, adere à ideia de uma separação operária”, então primeiramente ele aparece desejoso de integrar as classes operárias montantes às classes médias.
Proudhon tinha há muito englobado na mesma condenação todas as formas de conciliação. Ele tinha inclusivé combatido a lei Émile Ollivier de 1864. Ele conserva acerca da eficácia da aliança operária algum cepticismo: “Para que a aliança seja eficaz, importa que ela seja unânime – e é por isso que a lei pode, defendendo sob penas severas, todo o atentado à liberdade do trabalho, o que abre a porta às defecções. Vós esperais, operários, manter contra o interesse a miséria, esta unanimidade heróica?”
Com muita força, ele descreve a revolução orgânica que constituí a aparição de uma democracia operária que ele atira contra o mutualismo: “Uma revolução social, como aquela de 89, que continua sob os nossos olhos da democracia operária, é uma transformação que se ompleta espontaneamente no conjunto e em todas as partes do corpo político. É um sistema que subsitui uma organização decrépita; mas esta substiuição não se faz instituindo como o homem que troca de costume ou de distintivo; ela não chega ao comando de um mestre estando a sua teoria toda feita ou sob o ditado de um revelador. Uma revolução verdadeiramente orgânica, produto da vida universal, mesmo que ela tenha os seus mensageiros e os seus executadores, não é verdadeiramente a obra de ninguém. É uma ideia que no primeiro momento não oferece nada de marcante, emprestada que aparece a sabedoria vulgar que a cada instante, como o grande escandâlo sob a terra, como o embrião no ovo, toma um acréscimo imprevisto e das suas instituições enche o mundo”.
Proudhon não conheceu directamente o pensamento de Hegel. Antes uma síntese sucedendo a uma tese e a uma antítese, parece que seja uma fidelidade estacionária a um equilíbrio baseado sobre a luta de elementos adversos e a oposição dos contrários, numa pluralidade viva, a única unidade que ele admite ser aquela do atelier, o atelier da pequena empresa e do artesanato mais que o da grande empresa. É assim que propôs transformar as companhias de caminhos-de-ferro em companhias operárias, ou seja, em associações livres de produtores.
O PROUDHONISMO DEPOIS DE PROUDHON
A secção francesa da Internacional era dominada pelos proudhonianos Henri Tolain, Ernest Fribourg, Charles Limousin. Como a notou Charles Andler, “a desconfiança dos franceses da Internacional tinham necessidade de um chefe de fila capaz de sintetizar a sua oposição ao centralismo; eles reclamavam de Proudhon, depressa substituído por Bekounine. Mas a influência de Proudhon é límpida ainda na Comuna parisiense de 1871 com Charles Beslay, Zéphirin Camélinat, Charles Gambon, Charles Longuet, Auguste Vermorel.
Alguns anos mais tarde, nas duas últimas dezenas do século, o anti-estadismo de Proudhon reaparece junto da maior parte dos fundadores do sindicalismo, a bravura apaixonada da independência face ao Estado e ao partido socialista como face ao patronato. Isto não é forçar o sentido do mapa de “Amiens” votado pelo congresso da C.G.T. em 1906 mas encontrar uma ressonância proudhoniana. O bolhetim da C.G.T. chama-se e chamar-se-á até 1939 a Voz do povo”. O estudo de Proudhon, no cerco libertário, inclinava-me particularmente contra a acção operária”, escreve Léon Jouhaux. No domínio educativo, as reflexões sobre a educação (1923) de Albert Thierry prolongaram o pensamento proudhoniano.
Depois de 1914, já que muitos sindicalistas revolucionários sensatos praticarão uma reforma de acção, Léon Jouhaux e os seus amigos continuarão a ver em Proudhon o seu mestre a pensar: a importância que eles darão à Organização internacional do trabalho e sobretudo ao Conselho nacional económico inspira-se no desejo de ver crer e desenvolver novas instituições não-políticas que farão recuar o velho Estado monárquico, jacobino e napoleónico. Em 1920, Jouhaux dedica um livro a Célestin Bouglé nestes termos: “sobre o caminho da verdade proudhoniana”, e ele escreve: “Ninguém na abundante corte dos reformadores do último século não teve maisque o instito operário”. Não é sem razão que Léon Jouhaux baptiza o Povo de quotidiano fundado pela C.G.T. às portas da Primeira Guerra Mundial e o Atelier mensal que ele publica tem diversas passagens. Os radicais que querem dar ao seu movimento uma doutrina ( Léon Bourgeois, Aimé Berthod, Célestin Bouglé), procurando os elementos junto de Proudhon. Mas, ao mesmo tempo, o proudhonismo interessa a alguns realistas mais ou menos em ruptura com Charles Maurras, e alguns quererão ver em Proudhon, depois de 1940, um precursor longíquo da revolução nacional de Vichy. É duvidoso que Proudhon tenha aceite estas relações.
Desde 1968, muitos jovens, atirados pelo “gaucisme”, apoiam Proudhon e lá encontram uma apologia da espontaneidade. Proudhon escreveu a 2 de setembro de 1848 no Manifesto do povo:” Toda a nossa ciência consiste em espiar as manifestações do povo, a solicitar a sua palavra, a interpretar os seus actos; interrogar o povo, é para nós toda a filosofia, toda a política”.
Se os movimentos de liberação da mulher não podem reclamar dele (il s`en faut!), todos os partidários da regionalização e todos os adversários da centralização parisiense podem reconhecer-se nele.
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