quarta-feira, maio 18, 2011

A inocência perdida da produtividade

O chamado progresso técnico e o aumento constante da produtividade são frequentemente apresentados como compondo um caminho potencial para a vida boa e a solução para todos os problemas da humanidade. Olhando para a duplicação da produtividade nos últimos 30/40 anos, significando isso que com a mesma quantidade de tempo gasto a trabalhar é hoje produzida uma quantidade duas vezes maior de bens do que nos anos 1970, deveria concluir-se que, desde então, caminhámos a passos largos em direcção a uma vida de abundância. Evidentemente, qualquer pessoa que o afirmasse, perante as actuais crises, que se manifestam simultânea e cumulativamente, no plano ambiental, dos recursos, económico e financeiro, seria justamente vista como fantasista. Algo no cálculo e na sua promessa está, portanto, errado.

Onde reside o erro? Um primeiro indicador para uma resposta a esta questão é-nos dado por uma palavra muitas vezes repetida neste contexto: competitividade. O significado de produtividade assenta, antes de mais, na comparação: a empresa mais produtiva consegue fazer mais produtos e vendê-los mais barato e, desse modo, empurra os seus concorrentes para fora do mercado. As zonas mais produtivas podem mesmo tornar-se líderes mundiais nas exportações, ao passo que as menos produtivas podem ter de conformar-se com o colapso das suas indústrias. Nesta medida, torna-se claro que, em regra, aumentos desiguais na produtividade não beneficiam igualmente todos os sujeitos económicos, prejudicando mesmo muitos deles. Também se torna claro que, em condições de concorrência, aumentos na produtividade não são simplesmente usados para a redução geral das horas de trabalho, mas resultam, ao invés, num menor número de empregados trabalhando mais.

Isto, porém, não responde ainda à questão de que efeito têm os aumentos na produtividade prolongados e induzidos pela concorrência no sistema capitalista global como um todo. De acordo com a ideologia liberal do progresso, que gosta de recorrer à «sobrevivência dos mais aptos», de Darwin, e ao princípio de Schumpeter da «destruição criativa», a dinâmica da concorrência impulsiona não só o avanço técnico mas também o avanço social. É óbvio que esta ideologia tem sido desacreditada pelo curso dos acontecimentos no mundo, pelo menos agora, neste início do século XXI; talvez menos visíveis sejam as razões para que isto suceda.

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