sábado, fevereiro 18, 2012

O EMPATE DOS MODELOS ECONÓMICOS

Na ideologia económica do Ocidente durante muito tempo parecia que dois campos se confrontavam: o neo-liberal, ou radical de mercado, dos EUA, e o keynesiano, ou do Estado social e da política industrial, da Europa, também chamado "capitalismo renano". Os ideólogos do mercado apostam na política da oferta (corte de custos a qualquer preço, não em último lugar dos salários), os ideólogos do Estado apostam na política da procura (aumento do consumo através de despesas do sector público e aumentos salariais). Há mais de 30 anos que o modelo europeu foi considerado esgotado, porque o aumento do consumo público desencadeou a inflação e apesar disso o crescimento estagnou (estagflação). O colapso do socialismo de Estado parecia confirmar essa avaliação. Assim, a concepção ultra-liberal dos EUA começou a sua marcha triunfal global e os europeus tornaram-se bons alunos, não em último lugar os social-democratas com Schröder e Blair.

O "sucesso" da revolução neoliberal consistiu, como é sabido, na criação de bolhas financeiras sem precedentes, que alimentaram conjunturas globais de deficit durante mais de uma década. Quando o crash financeiro de 2008 pôs fim a essa época a ressaca foi grande. Os governos europeus, com a grande coligação alemã à frente, deleitaram-se descaradamente a passar as culpas aos EUA e à doutrina neoliberal, como se eles próprios não tivessem imposto essa política. Durante algum tempo parecia houver agora dos dois lados do Atlântico uma viragem para o modelo europeu, com pacotes de resgate públicos e programas de estímulo económico. Mas rapidamente se revelaram os limites do financiamento estatal na forma de crises de dívida soberana. A velha disputa volta a entrar em ebulição, mas agora com os papéis trocados: pelo menos na aparência, os EUA e a sua elite económica preferem apostar no estímulo estatal, a Europa liderada por Merkel prefere apostar em brutais programas de austeridade.

Mas, na verdade, não existe mais qualquer modelo económico claro, estando ambos os lados a tentar fazer batota. Em primeiro lugar, em toda a parte se prosseguem programas de austeridade para o orçamento de Estado, um atrás do outro. Depois, tanto nos EUA como na Europa os bancos centrais prosseguem uma política de inundação monetária. Os Estados devem poupar, as empresas devem investir. Mas os bancos alimentados com dinheiro barato quase não dão crédito, voltando, pelo contrário, a guardar o dinheiro nos bancos centrais. Por sua vez, as empresas não procuram crédito para grandes investimentos, mas continuam a prosseguir a velha política de corte radical dos custos. Já nada funciona sem o consumo público, o qual apesar disso tem de ser simultaneamente reduzido. É verdade que os bancos centrais compram títulos das dívidas públicas, não porém para apoiar a procura real, mas apenas para impedir a queda do valor desses títulos e para salvar os bancos que não se conseguem livrar deles.

Esta política de enganos traz de volta uma versão agravada de estagflação, mas não vai ficar por aí. De momento, os EUA parecem favorecer a via inflacionária e a Europa-Merkel parece favorecer a via recessiva do terror do estado de excepção financeiro. Se por acaso um Presidente Romney fizesse uma reviravolta, ele teria de assumir a concepção de origem supostamente americana dos europeus insultados como "socialistas"; o mesmo se aplica inversamente à UE em caso de viragem para a política de Obama. Nem uma nem outra vão funcionar. Quem quer salvar o sistema financeiro tem de matar à fome a procura; quem quer salvar a procura tem de arruinar o sistema financeiro. A mistura absurdamente contraditória dos dois modelos económicos, como resultado do empate entre eles, mostra que estão a desfazer-se os fundamentos capitalistas comuns a ambos.

Sem comentários: