"É surpreendente que, após ter enterrado um monstro, a URSS, se tenha
construído outro semelhante: a União Europeia (UE).
O que é, exactamente a União Europeia? Talvez fiquemos a sabe-lo examinando
a sua versão soviética.
A URSS era governada por quinze pessoas não eleitas que se cooptavam
mutuamente e não tinham que responder perante ninguém. A UE é governada por
duas dúzias de pessoas que se reúnem à porta fechada e, também não têm que
responder perante ninguém, sendo politicamente impunes.
Poderá dizer-se que a UE tem um Parlamento. A URSS também tinha uma espécie
de Parlamento, o Soviete Supremo. Nós, (na URSS) aprovámos, sem discussão,
as decisões do Politburo, como na prática acontece no Parlamento Europeu, em
que o uso da palavra concedido a cada grupo está limitado, frequentemente, a
um minuto por cada interveniente.
Na UE há centenas de milhares de eurocratas com vencimentos muito elevados,
com prémios e privilégios enormes e, com imunidade judicial vitalícia, sendo
apenas transferidos de um posto para outro, façam bem ou façam mal. Não é a
URSS escarrada?
A URSS foi criada sob coacção, muitas vezes pela via da ocupação militar. No
caso da Europa está a criar-se uma UE, não sob a força das armas, mas pelo
constrangimento e pelo terror económicos.
Para poder continuar a existir, a URSS expandiu-se de forma crescente. Desde
que deixou de crescer, começou a desabar. Suspeito que venha a acontecer o
mesmo com a UE. Proclamou-se que o objectivo da URSS era criar uma nova
entidade histórica: o Povo Soviético. Era necessário esquecer as
nacionalidades, as tradições e os costumes. O mesmo acontece com a UE
parece. A UE não quer que sejais ingleses ou franceses, pretende dar-vos uma
nova identidade: ser «europeus», reprimindo os vosso sentimentos nacionais
e, forçar-vos a viver numa comunidade multinacional. Setenta e três anos
deste sistema na URSS acabaram em mais conflitos étnicos, como não aconteceu
em nenhuma outra parte do mundo.
Um dos objectivos «grandiosos» da URSS era destruir os estados-nação. É
exactamente isso que vemos na Europa, hoje. Bruxelas tem a intenção de
fagocitar os estados-nação para que deixem de existir.
O sistema soviético era corrupto de alto a baixo. Acontece a mesma coisa na
UE. Os procedimentos antidemocráticos que víamos na URSS florescem na UE. Os
que se lhe opõem ou os denunciam são amordaçados ou punidos. Nada mudou. Na
URSS tínhamos o «goulag». Creio que ele também existe na UE. Um goulag
intelectual, designado por «politicamente correcto». Experimentai dizer o
que pensais sobre questões como a raça e a sexualidade. Se as vossas
opiniões não forem «boas», «politicamente correctas», sereis ostracizados. É
o começo do «goulag». É o princípio da perda da vossa liberdade. Na URSS
pensava-se que só um estado federal evitaria a guerra. Dizem-nos exactamente
a mesma coisa na UE. Em resumo, é a mesma ideologia em ambos os sistemas. A
UE é o velho modelo soviético vestido à moda ocidental. Mas, como a URSS, a
UE traz consigo os germes da sua própria destruição. Desgraçadamente, quando
ela desabar, porque irá desabar, deixará atrás de si um imenso descalabro e
enormes problemas económicos e étnicos. O antigo sistema soviético era
irreformável. Do mesmo modo, a UE também o é. (...)
Eu já vivi o vosso «futuro»..."
Declarações do escritor e dissidente soviético, Vladimir
Bukovsky, sobre o Tratado de Lisboa