A apreensão face às dificuldades causadas pela greve dos professores às reuniões
de avaliação começou a generalizar-se nesta terça-feira entre os directores das
escolas com a confirmação de uma significativa adesão dos docentes ao protesto.
As notas de muitos alunos continuam sem ser atribuídas
A Federação Nacional de Professores
(Fenprof) calcula que mais de 97,5% das reuniões marcadas para sexta e
terça-feira não se terão realizado o que, alertam os directores, levanta
problemas de equidade entre os alunos e “empurra todas as actividades calendarizadas,
com prejuízo para a organização do próximo ano lectivo”.
A falta de um
único professor inviabiliza qualquer reunião de avaliação, na qual têm de
participar, obrigatoriamente, todos os docentes da turma – um factor que torna
muito fácil fazer esta greve e muito difícil cumprir a lei, ou seja, voltar a
convocá-la no prazo máximo de 48 horas, afirma Ernesto Paiva, director da
Infanta D. Maria, a escola secundária pública que ocupa o primeiro lugar no
ranking elaborado com base nas notas dos exames e onde não se realizou ainda
nenhuma reunião. “As reuniões que estou a tentar remarcar sobrepõem-se a
outras e, se essas voltarem a falhar, cairão em cima da vigilância de exames e
das reuniões de notas que estão marcadas para a semana – quando é que será possível
reunir os conselhos de turma? Não sei – é uma enorme dor de cabeça”, disse.
As reuniões
de avaliação marcadas para esta semana destinam-se a atribuir notas aos alunos
dos anos com exames (6.º, 9.º, 11.º e 12.º) que, contudo, poderão realizar
estas provas sem conhecer quais as classificações que lhes foram atribuídas
pelos professores. A greve a estas reuniões poderá estender-se até ao próximo
dia 21. Na próxima semana estão marcadas as reuniões de avaliação dos anos que
não têm exame e que terminam as aulas na sexta-feira.
Na escola
secundária Rainha D. Amélia, em Lisboa, o calendário de reuniões iniciou-se
hoje: das quatro agendadas para o 9.º ano não se realizou nenhuma, mas no
secundário já não aconteceu o mesmo. “Houve umas que se realizaram e outras que
não e por isso estou a ficar muito preocupada sobre como se garantirá a
equidade em relação aos alunos”, admite a directora Isabel le Gué. Ou seja,
concretiza, neste cenário poderá haver alunos que vão saber quais as suas notas
internas e outros não. “Neste momento, sem ter recebido ainda qualquer
orientação por parte do ministério, tenho um prazo legal a cumprir para
afixar as pautas existentes [até 48 horas antes do início dos exames]. Só
espero que até amanhã tenhamos orientações e que não venha a criar-se mais este
problema aos alunos”, acrescenta.
Também
Adelino Calado, dirigente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos
e Escolas Públicas, considera “preocupante a falta de orientações do MEC em
relação às medidas a tomar face à greve às reuniões de avaliação”. “O
adiamento sucessivo das reuniões vai tornar impossível a sua remarcação – a
situação tornar-se-á insustentável”, alerta. Segundo explicou, as reuniões
estão a ser adiadas, mas de imediato os professores se organizam para que a
seguinte (à qual não pode faltar um único professor), seja também
inviabilizada. Este cenário deixa-o mais apreensivo que a greve aos exames
própriamente ditos, que está marcada apenas para dia 17, dia em que
se estreiam as provas do secundário. O colégio arbitral a quem foi
entregue a decisão sobre os serviços mínimos a aplicar nesta data já
deliberou que estes, afinal, não se justificam e que o exame deve ser adiado.
“Sinto que os
professores estão dispostos a levar isto até às últimas consequência”, adianta
a directora da secundária de Montemor-o-Velho, onde não se realizou até agora
nenhuma reunião. Por isso, Isabel Verão receia pela organização do próximo ano
lectivo. “As actividades de fim de ano lectivo e organização do seguinte estão
rigorosamente encadeadas e calendarizadas”: “Notas, exames, resultados destes,
matrículas, constituição de turmas e distribuição de serviço."
