A insatisfação difusa e a violência institucional ao reprimir as manifestações pelo passe livre levaram as massas às ruas. As novas tecnologias de informação foram os meios que permitiram a comunicação entre as pessoas, garantindo a mobilização. Há, principalmente entre os jovens, uma gama de insatisfação acumulada impossível de ser respondida pelo o institucionalizado, mesmo porque, uma das principais é contra as instituições erigidas pela democracia burguesa para dar sustentação ao capitalismo. Sem esse pano de fundo que leva a inquietação, e que só deve crescer com a intensificação da crise global do capitalismo, não haveria mobilização.
Essa insatisfação, no entanto, permanece na superfície dos fenômenos gerados pela sociedade produtora de mercadorias. Há uma crença ingênua de que as instituições são passíveis de mudanças, corrigindo-se os rumos que tomaram ao serem apropriadas por indivíduos gananciosos. Aí está um grande equívoco que merece ser discutido. Pois, ao contrário do que se pensa, essas instituições que dão sustentação a sociedade que persegue a "valorização do valor" (Marx) como um fim em si, funcionam sobre a ação do "sujeito automático” (Marx), que foge ao controle das vontades. Isso, no entanto, não exime o indivíduo de responsabilidades, pois mesmo dentro dos limites do agir impostos pelo mundo fetichizado, opções que envolvem a consciência podem ser feitas.