sábado, novembro 30, 2013

Na semana em que voltamos a saber quem são os mais ricos deste país faz todo o sentido voltarmos a um clássico…

«Os ricos vivem da existência de pobres. Os poucos muito ricos vivem da existência de muitos muito pobres. O Padre António Vieira disse-o desta forma: "Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos-mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande."

Sermão aos Peixes de António Vieira 

O país tomou conhecimento de que, em pleno coração da crise que está a condenar vidas em série ao desespero, as 25 maiores fortunas portuguesas foram valorizadas em 16% ao longo do último ano. Elas somam actualmente 16,7 mil milhões de euros, 3,3 mil milhões mais que o ano passado. 25 fortunas valem hoje 10% do produto nacional, 1,6% mais que há um ano. 
Na semana em que o Governo aprovou o Orçamento mais agressivo das pessoas de que há memória no pós 25 de Abril, ficámos a conhecer os rostos e os nomes de quem está a ganhar mais com esta política. Essa coincidência no tempo traz-nos de volta a reflexão incómoda do Padre António Vieira: "A diferença que há entre o pão e os outros comeres é que para a carne há dias de carne, e para o peixe dias de peixe, e para as frutas diferentes meses do ano; porém, o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come: e isto é o que padecem os pequenos. São o pão quotidiano dos grandes; e assim como o pão se come com tudo, assim com tudo e em tudo são comidos os miseráveis pequenos."»