sábado, março 08, 2014

De transitória a definitiva

O Governo sabia, a maioria também, o sócio no memorando e pioneiro em cortes no salário nominal PS também não tinha como não saber, o TC sabia, os comentadores políticos sabiam, os portugueses sabiam. Todos sabiam e fingiram que não sabiam. E ontem Pedro Passos Coelho pôs fim a uma farsa que conveio a todos os que nela participaram, ou como carrascos mauzões, ou como candidatos a algozes bonzinhos, ou como malabaristas da suspensão da vigência da Constituição da República Portuguesa, ou como sacerdotes da doutrina do saque, ou como bombos da festa que preferiram acreditar que tinha que ser para não mostrarem que têm muita força.

A ordem ontem dada ao reino pelo tal Pedro que, para nos salvar, nos empobreceu e endividou como nunca antes foi bastante clara: esqueçam tudo o que até agora vos foi dito sobre os sacrifícios que vos foram exigidos transitoriamente durante o programa de “ajustamento”. Nem sonhem em voltar a ter salários e pensões como em 2011. Eu, o mesmo Pedro que perguntava ao mentiroso Sócrates como é possível manter um Primeiro-ministro que mente constantemente, venho pelo pouco que resta da minha honra declarar que a austeridade é para vigorar para todo o sempre.

Alguém se surpreendeu? Com o descaramento que poucos supunham assim tão elástico, talvez. Com o silêncio de António José Seguro, a quem não se ouviu aquela resposta, perfeitamente natural em quem se apresenta como querendo fazer diferente, com o compromisso de repor os salários e as pensões de reforma que Passos e Portas roubaram caso os portugueses lhe confiem os comandos dos destinos do país, eventualmente quem ande distraído. O PS votou a favor da regra de ouro da ultra-austeridade que fixa um tecto máximo para o défice orçamental em 0,5% do PIB: Pedro Passos Coelho e António José Seguro são siameses unidos pelo tumor da austeridade. O gémeo canhoto limita-se a insinuar-se vagamente contra isto e contra aquilo, mas nada de compromissos claros. Os crédulos que concluam que disse o que nunca disse. Nem pode.