Entre outros estudos de outras organizações nacionais e internacionais que, todos eles, apontam no mesmo sentido, em Setembro passado um relatório da organização não governamental Oxfam deixava o alerta à Europa para os perigos do caminho da austeridade e citava Portugal como exemplo de um país onde, à semelhança do que aconteceu em todos os países da América do Sul, Ásia e África por onde o FMI também andou a fazer das suas, as políticas de austeridade, para além de estarem a fazer aumentar o endividamento e a reduzir o crescimento, estão a beneficiar apenas os mais ricos e a colocar o país em risco de se tornar num dos mais desiguais do mundo.
Há dias foi notícia o aumento de 24% assinalado pela revista Forbes nas fortunas dos três homens mais ricos de Portugal, Amorim, Belmiro e Soares dos Santos, que já tinham engordado a ritmo semelhante no ano anterior. O número de milionários em Portugal tem aumentado com a austeridade. Só em 2012, aumentou 3,4%, mais 350 milionários do que no ano anterior. Eram quase 11 mil os portugueses que tinham uma fortuna de mais de um milhão de dólares, sem contar com bens imobiliários.
E hoje o FMI vem dizer-nos que as medidas de austeridade aplicadas em Portugal de 2008 a 2012, que incluem cortes nos salários dos funcionários públicos, cortes nas pensões, diminuição das protecções sociais e aumento do IVA, conduziram, em média, a uma redução do rendimento disponível das famílias de 6,3% e que essa redução foi menor para os 20% mais pobres, ligeiramente acima dos 5%, ao passo que para os 20% mais ricos a quebra atingiu os 10%. Façam o favor de acreditar que o FMI é uma instituição filantrópica que se dedica ao combate às desigualdades e inspirada no seu ex-director-geral Robin dos Bosques, o próprio. O crime organizado dos nossos dias não prescinde da desinformação e da contra-informação como arma poderosa para se fazer aceitar. Há sempre quem acredite.