Pelo terceiro ano consecutivo, o Governo voltou a não conceder tolerância de ponto no Carnaval aos funcionários da Administração Central. Pelo terceiro ano consecutivo, a grande maioria das autarquias, empresas públicas e quase todo o sector privado deu folga aos seus funcionários. E pelo terceiro ano consecutivo se vêem funcionários contra funcionários, a apontarem o dedo para o lado em vez de apontarem o dedo para cima, para quem lhes tem roubado tudo e mais um Carnaval. É que, também pelo terceiro ano consecutivo, não se ouve uma palavra de conforto dos sindicatos dos sectores abrangidos pelas tolerâncias dirigidas aos colegas que serão obrigados a trabalhar em nome de uma produtividade que nunca aumenta quando os trabalhadores trabalham contrariados e revoltados com um acumulado de humilhações cada vez maior, muito menos em dias em que é difícil adivinhar o que está aberto e o que está fechado. E seria importante que os sindicatos o fizessem. Afinal, não há trabalhadores e trabalhadores. Estamos todos no mesmo barco e seremos eternos perdedores enquanto não o percebermos e não nos organizarmos na reacção colectiva que até agora não conseguimos articular. Os sindicatos são a expressão dessa (dês)organização, fraca e incapaz de tocar a reunir até mesmo tendo à disposição um Carnaval que poderiam usar para unir mas que permitem que sirva para dividir ainda mais. Às vezes, fica a sensação que também eles fazem parte da grande farsa destes dias, na qual estão incumbidos do garrido de uma ou outra manifestação, que organizam de preferência ao fim-de-semana para não prejudicar a produção nacional, e de uma ou outra greve de não mais que um dia, que nunca convocam nem às Segundas nem às Sextas, porque senão parece mal. Carnaval.
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