domingo, março 09, 2014

Uma reflexão sobre...a produtividade do trabalhador português

O dono de uma das fortunas que mais cresceu durante os três anos em que salários e direitos laborais mais minguaram depois do 25 de Abril, a terceira maior de Portugal, Belmiro de Azevedo, escolheu o dia de ontem para agradecer os tempos de bonança ao Governo que finalmente assumiu que os cortes salariais que lhe alimentam a riqueza não são temporários e sim definitivos.
Diz o querido Belmiro que “os salários em Portugal só podem aumentar quando os trabalhadores tiverem a mesma produtividade que, por exemplo, os alemães” e que “é impossível comparar os salários em Portugal com os de países como a Alemanha "pura e simplesmente porque os alemães, por hora, fazem três ou quatro vezes mais do que os portugueses".”.
Mas porque é que ele diz isso? Essa é a grande questão que importa explorar!
A produtividade não é responsabilidade dos trabalhadores. É uma responsabilidade da direcção. E se os alemães são mais produtivos, é porque têm melhores empresários e a conversa começa a virar-se contra o engenheiro Belmiro, que é um dos maiores empresários portugueses e que pela dimensão da sua companhia, é também ele que marca o ritmo.
Das palavras do engenheiro Belmiro tenho que inferir que os trabalhadores portugueses não são produtivos. Podem ser produtivos para a média nacional, mas não chegam aos calcanhares dos alemães. Ora, o engenheiro Belmiro, pelos vistos, acha que a culpa é deles, que nasceram assim, preguiçosos e calões. Já o engenheiro Belmiro deve achar-se perfeitamente ao nível dos empresários alemães, agarrado apenas, por contingências da vida, a esta cambada de lesmas que vivem em Portugal.
Mas o pior é que existem em Portugal alguns exemplos de fábricas multinacionais onde o drama da produtividade não se verifica, sendo a mais conhecida, naturalmente, a Autoeuropa. Repare-se que é uma fábrica em território português, sob as leis portuguesas, com trabalhadores portugueses. A única coisa que a Autoeuropa não tem, assim de repente, é um empresário/accionista português.
Perante isto, talvez fosse já tempo dos empresários portugueses, quando procuram culpados pelos fracos resultados, não olharem tanto para baixo, mas mais para a frente e para os lados. É claro que os empresários podem continuar nesta estratégia de castigo, reduzindo os salários dos trabalhadores até que eles comecem de uma vez por todas a trabalhar, mas isso vai correr muito mal, porque não é aí que está o problema.
Os portugueses  preferem engordar e venerar Belmiros que choram actualizações salariais de 1 euro por dia, que aplaudem de pé qualquer redução do número de dias de descanso no segundo país que anualmente trabalha mais horas em toda a União Europeia, por sinal Belmiros que nem sequer pagam impostos sobre os seus lucros em Portugal.
Estes Belmiros não estão cá para contribuir para a sociedade que os enriquece. Estes vampiros estão cá só para enriquecer e para nos foder a vida. Até estarmos dispostos a aturá-los! Mas isso é toda uma outra história!