O dono de uma das fortunas que mais cresceu durante os três
anos em que salários e direitos laborais mais minguaram depois do 25 de Abril,
a terceira maior de Portugal, Belmiro de Azevedo, escolheu o dia de ontem para
agradecer os tempos de bonança ao Governo que finalmente assumiu que os cortes
salariais que lhe alimentam a riqueza não são temporários e sim definitivos.
Diz o querido Belmiro que “os salários em Portugal só podem
aumentar quando os trabalhadores tiverem a mesma produtividade que, por
exemplo, os alemães” e que “é impossível comparar os salários em Portugal com
os de países como a Alemanha "pura e simplesmente porque os alemães, por
hora, fazem três ou quatro vezes mais do que os portugueses".”.
Mas porque é que ele diz isso? Essa é a grande questão que
importa explorar!
A produtividade não é
responsabilidade dos trabalhadores. É uma responsabilidade da direcção. E se os
alemães são mais produtivos, é porque têm melhores empresários e a conversa
começa a virar-se contra o engenheiro Belmiro, que é um dos maiores empresários
portugueses e que pela dimensão da sua companhia, é também ele que marca o
ritmo.
Das palavras do engenheiro Belmiro tenho que inferir que os trabalhadores portugueses não são produtivos. Podem ser
produtivos para a média nacional, mas não chegam aos calcanhares dos alemães.
Ora, o engenheiro Belmiro, pelos vistos, acha que a culpa é deles, que nasceram
assim, preguiçosos e calões. Já o engenheiro Belmiro deve achar-se
perfeitamente ao nível dos empresários alemães, agarrado apenas, por
contingências da vida, a esta cambada de lesmas que vivem em Portugal.
Mas o pior é que existem em
Portugal alguns exemplos de fábricas multinacionais onde o drama da
produtividade não se verifica, sendo a mais conhecida, naturalmente, a
Autoeuropa. Repare-se que é uma fábrica em território português, sob as leis
portuguesas, com trabalhadores portugueses. A única coisa que a Autoeuropa não
tem, assim de repente, é um empresário/accionista português.
Perante isto, talvez fosse já
tempo dos empresários portugueses, quando procuram culpados pelos fracos
resultados, não olharem tanto para baixo, mas mais para a frente e para os
lados. É claro que os empresários podem continuar nesta estratégia de castigo,
reduzindo os salários dos trabalhadores até que eles comecem de uma vez por
todas a trabalhar, mas isso vai correr muito mal, porque não é aí que está o
problema.
Os portugueses
preferem engordar e venerar Belmiros que choram actualizações salariais
de 1 euro por dia, que aplaudem de pé qualquer redução do número de dias de
descanso no segundo país que anualmente trabalha mais horas em toda a União
Europeia, por sinal Belmiros que nem sequer pagam impostos sobre os seus lucros em
Portugal.
Estes Belmiros não
estão cá para contribuir para a sociedade que os enriquece. Estes vampiros
estão cá só para enriquecer e para nos foder a vida. Até estarmos dispostos a
aturá-los! Mas isso é toda uma outra história!