Orgulho-me de pertencer ao grupo de milhares e milhares de portugueses que consideram que Durão Barroso foi, é e sempre será um medíocre e que, sendo o medíocre que sempre foi, o seu mandato como Presidente da Comissão Europeia nunca poderia ser muito melhor do que medíocre. Porém, eu, tal como os milhares e milhares de portugueses que me acompanham nesta opinião, nunca acompanhei Durão Barroso na política de sentido único de uma Europa que, ao deixar de ser a Europa dos cidadãos, começou a deixar de fazer sentido e começou a naufragar.
Sempre me posicionei nos antípodas das regressões sociais que na última década têm sido materializadas em legislações laborais que retiram remunerações e direitos aos trabalhadores para os oferecerem às entidades patronais respectivas, sempre manifestei a minha discordância relativamente ao desmantelamento de carreiras e aos cortes salariais na Administração Pública que se foram repetindo desde 2010, sempre estive contra os cortes cegos que amputaram os nossos serviços públicos da qualidade e da quantidade de outros tempos, contra a rarefacção das parcas protecções sociais que tivemos, contra a redução do investimento público que é motor do crescimento económico, contra as alterações à forma de cálculo das pensões de reforma que se foram tornando necessárias para reequilibrar o sistema que todas estas políticas desequilibraram ao induzirem as reduções dos salários que antes o equilibravam sem grande esforço. Nunca defendi que critérios como o limite de 3% do PIB ao défice orçamental fossem favoráveis ao desenvolvimento do meu país, todo o contrário de favoráveis. Pertenço ao grupo dos milhares e milhares de portugueses que podem apontar a mediocridade genética de Durão Barroso sem que tal gesto realce a minha própria mediocridade, que todos nós a temos na nossa dose.
O mesmo não se pode dizer de alguém que, para além do todo que acima apenas se resume, até andou de braço dado com Durão Barroso a cozinhar a aprovação sem discussão e sem consulta popular do Tratado de Lisboa que tornou estas e outras políticas que prejudicam o meu e seu país as políticas oficiais da União Europeia, um processo que terminou naquele abraço selado com um sonoro "porreiro, pá!" que ficará para a História como símbolo da mediocridade subserviente que marcou o "europeísmo convicto" de todos os Governos deste século. E ontem o ex-primeiro ministro José Sócrates teve a infeliz ideia de dizer que Durão Barroso "teve um mandato medíocre à frente da Comissão Europeia", resumindo toda a obediência canina que sempre lhe moveu insultando quem ousasse criticá-lo e circunscrevendo qualquer remoque de consciência que porventura o atormente num "digo isto com tristeza, porque defendi a sua manutenção à frente da Comissão". E Sócrates fez muitíssimo mais do que isso.
Se Durão é um medíocre, e parece que estamos de acordo quanto a esse facto, que dizer de alguém que sempre obedeceu cegamente a esse medíocre? Há tempos, quando um jornalista o desafiou a reagir às provocações de José Mourinho, Cristiano Ronaldo respondeu simplesmente que não fazia parte do seu feitio cuspir no prato onde comeu. Intelectualmente, Cristiano Ronaldo estará uns furos abaixo de José Sócrates. Eticamente, depois da de ontem, o futebolista ficou uns furos acima do grande estadista-comentador. Ao menos o melhor do mundo na sua arte não se insulta a si próprio.