Pedro Mota Soares teve uma
ideia. E quando Pedro Mota Soares tem uma ideia, o mundo pula e avança. Diz o
nosso Pedro que, por uma questão de justiça, o seu Governo quer indexar as actualizações do salário
mínimo à produtividade. Boa! E pergunto-lhe eu: o que é lá isso de "produtividade"?
como é que se mede, Pedro? Pois.
Na indústria é mais fácil.
És capaz de me dar o exemplo das trabalhadoras da linha de montagem que em
média conseguem coser 60 bainhas numa hora. Se só conseguirem coser 54 bainhas,
a produtividade média cai 10%, se conseguirem
coser 66 bainhas, a produtividade média aumenta 10%. Muito bem, Pedro. Mas e se
as trabalhadoras tiverem cosido as 56 bainhas porque as encomendas da fábrica
diminuíram, por exemplo porque os clientes se fartaram do mau feitio do dono da
fábrica, é justo que não haja aumento de salário? E se a partir das 66
bainhas as
trabalhadoras não conseguirem coser mais rapidamente, nunca mais têm aumento
salarial, é, Pedro? Uma máquina mais moderna poderia aumentar o número de
bainhas por hora, mas como é que o dono da fábrica pensará em adquiri-la
enquanto lhe ficar mais barato pagar uma miséria por mais uns quantos pares de
braços, diz-me lá, Pedro? Isso mesmo, Pedro, os salários baixos são um dos
maiores entraves à modernização que conduz ao tal aumento de produtividade. E
tu dizes que queres mais produtividade, não é, Pedro?
Mudemos de sector de
actividade. Como é que se mede a produtividade na agricultura, se há anos em
que as condições climatéricas são melhores e noutros são tão más que arruínam
completamente as culturas. E como é que se mede a produtividade no retalho
quando um Governo tudo o que sabe fazer é sumir o pouco dinheiro que havia no
bolso dos clientes? Pois é, Pedro, sem dinheiro ninguém compra nada, se ninguém
compra nada ninguém produz, e se ninguém produz o desemprego alastra, a miséria
generaliza-se, há menos gente a pagar impostos e a fazer descontos para a
Segurança Social, as contas públicas desequilibram-se, há menos dinheiro para dar Educação às nossas crianças e garantir as reformas dos nossos
velhotes. Tu sabes, Pedro, fazes parte da quadrilha que há três anos que não
faz outra coisa.
Já agora, Pedro, como é
que se mede a produtividade de um Ministro do Emprego, será pelo submúltiplo de
milhão que consegue empurrar para o desemprego ao longo do seu mandato, pelas
centenas de milhar de empregos que consegue destruir, pelas larguíssimas
dezenas de milhar que consegue obrigar a emigrar ou pelo número de baboseiras
que consegue dizer sempre que abre a boca? Se for através deste último
critério, Pedro, vales uma fortuna. Se for pelos outros três, nem que
devolvesses todos os salários de ministro que recebeste multiplicados por um
milhão conseguirias reparar a cagada que tens andado a amontoar. Faz-te à vida,
Pedro. Eu sei que nunca experimentaste, mas vai trabalhar como as pessoas.