O artista algarvio Élsio Menau
vai começar a ser julgado na segunda-feira, no Tribunal de Faro, devido à sua
criação «Portugal na Forca», uma instalação artística feita há cerca de um ano
e exposta num terreno privado, em Faro, em que a bandeira de Portugal aparecia
“enforcada”.
O
trabalho de final de curso do jovem quarteirense, que incluiu esta instalação e
um vídeo onde ela aparecia, valeu-lhe 17 valores e um processo em Tribunal,
por, alegadamente, ter cometido o crime de ultraje à bandeira nacional.
A poucos dias do início do julgamento, Menau, que concluiu o curso de Artes Visuais da Universidade
do Algarve, confessa ao Sul Informação não saber «o que esperar», mas tem esperança que «tudo
acabe em bem». Até porque, disse, nunca foi sua intenção ofender a bandeira nem
cometer qualquer crime, com a sua instalação, e sim usá-la como «uma
representação do estado do país, já que estamos com a corda ao pescoço».
O mesmo
entendimento não tiveram as autoridades, que retiraram a instalação da rua
apenas dois dias depois de ter sido colocada. Ainda assim, só alguns meses
depois, em Outubro, é que Menau foi intimado a apresentar-se na Polícia
Judiciária, para prestar declarações.
A obra do artista de Quarteira foi retirada do descampado onde
foi originalmente exposta, mas esteve posteriormente em mostra, durante cerca
de dois meses, na Galeria de Arte do Convento de Santo António, em Loulé, no
âmbito de uma exposição coletiva promovida pela Universidade do Algarve. Mais
tarde, um grupo de hip-hop da mesma cidade usou a instalação num dos seus vídeo-clips, que conta com dezenas de milhar de visualizações nas
redes sociais.
Élsio Menau, conhecido
pela componente interventiva que coloca na sua arte, refere que só foi abordado
pelas autoridades «depois daquele episódio com o Cavaco Silva», na cerimónia do
Dia 5 de Outubro, na Câmara de Lisboa, em que a Bandeira Nacional foi hasteada
ao contrário pelo Chefe-de-Estado.
Para o artista,
«toda esta situação é ridícula», opinião que outros partilham. «As pessoas
têm-me apoiado. Sei que haverá pessoas que vão marcar presença na segunda-feira,
mas não há nada organizado», referiu.
Um apoio muito
bem-vindo terá sido o do advogado e escritor Fernando Cabrita, que se ofereceu
para defender a causa de Élsio Menau de forma gratuita. O defensor legal do
artista de Quarteira lembrou, ao nosso jornal, que já houve vários julgamentos
por ultraje à bandeira nacional, «alguns dos quais caíram no ridículo».
Desde cartoons que envolviam a bandeira nacional, «como um em que
alguém roubava a parte vermelha da bandeira e deixava apenas a verde», após o
25 de abril, a outras situações, como a queima da bandeira nacional e até o
conhecido caso do ator João Grosso, que acabou condenado por cantar o hino
nacional num registo hip-hop, são já muitos os
casos.
Neste caso, defende
Fernando Cabrita, Menau limitou-se a fazer «uma peça artística». «Do ponto de
vista judicial, se for um ato para ofender a Bandeira de Portugal, é um crime.
Mas não foi isso que aconteceu», disse.
O simbolismo por detrás da instalação, alega, até é o oposto, já que o artista a fez por estar «indignado com a forma como aquele símbolo nacional é tratado».
O simbolismo por detrás da instalação, alega, até é o oposto, já que o artista a fez por estar «indignado com a forma como aquele símbolo nacional é tratado».
Exemplos disso são,
segundo o advogado, «as bandeiras que continuam penduradas às janelas desde
2004, que já se estão a desfiar», mas, principalmente, o uso de bandeiras
adulteradas, nomeadamente «feitas na China, com pagodes em vez de castelos», em
cerimónias oficiais. Em alguns casos, estavam presentes na ocasião o Presidente
da República, o Primeiro-Ministro e outros altos dignatários.
Além disso, a
bandeira é usada «em porta-chaves, cruzetas, chinelos e até em capinhas para
cães», pelo que considera que este processo a Élsio Menau «acaba por ser
ridículo».