Outra vez cortes salariais, o jogo de palavras do costume, um Governo a brincar com as vidas de centenas de milhar de trabalhadores da Administração Pública e de milhões de portugueses cujo emprego e nível de vida dependem directamente do consumo gerado pelos salários dos primeiros, mais uma provocação dirigida ao Tribunal Constitucional. Diz o Governo que aprovou “os cortes da era de Sócrates”, embora Sócrates seja agora comentador televisivo e os cortes já não sejam responsabilidade sua, são cortes da era de Passos Coelho e Paulo Portas. Diz o Governo que os aprovou “depois de ouvir os sindicatos”, quando não ouviu sindicatos nenhuns, limitou-se a comunicar-lhes os cortes que iria aprovar e não lhes mudou uma vírgula. Finalmente, diz o Governo que aprovou também a “reposição gradual dessas reduções a partir de 2015”, mas sem apresentar qualquer calendarização, o que equivale a prolongar os cortes salariais até à eternidade. Segue-se o habitual folclore sindical, uma ou outra manifestação para despejar umas palavras de ordem e a eventual convocação do diazito de greve da praxe, os funcionários públicos outra vez a fazerem-se de mortos e a esperança que a permeabilidade do Tribunal Constitucional a pressões externas não torne a imaginar uma Constituição que não existe. Ainda. O Sol brilha e os passarinhos cantam. Está-se bem.
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