Charlie Haden, que gravou uma versão jazzistica da "Grândola" e compôs com Carlos Paredes, morreu na sexta-feira, aos 76 anos, em Los Angeles, anunciou a editora do músico, a discográfica alemã ECM.
O contrabaixista atuou pela primeira vez em Portugal, no primeiro Cascais Jazz, em novembro de 1971, tendo saudado os movimentos de libertação de Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Moçambique, a quem dedicou a interpretação de "Song for Che", que compôs.
Em 1983, no disco "The Ballad of the Fallen", gravou a sua versão de "Grândola, vila morena", de José Afonso. Sete anos mais tarde, em 1990, o disco "Dialogues" ("Diálogos") dava corpo à parceria encetada com o guitarrista português Carlos Paredes.
Com uma carreira de mais de meio século, Charlie Haden trabalhou com músicos de jazz como Ornette Coleman, Keith Jarrett, Dizzy Gillespie, Lee Konitz ou Joe Henderson, Alice Coltrane, Paul Motian, com quem criou "For a free Portugal", e Carla Bley, com quem gravou "Grândola", entre muitos outros.
Na viragem para a década de 1960, passou a fazer parte do quarteto do saxofonista Ornette Coleman, que o levaria até Nova Iorque e ao álbum "The Shape of Jazz to Come" ("A forma do jazz por vir"). Suceder-se-iam, os primeiros encontros com Keith Jarrett, Dewey Redman, Don Cherry, Ed Blackwell, parceiros que ficariam para a vida, como a perspetiva de vanguarda.
Foi com Coleman que se apresentou no primeiro Cascais Jazz, o festival organizado por Luís Villas-Boas, com colaboração de João Braga, fadista, e Hugo Lourenço. A vinda a Portugal, inicialmente, não seduzia Haden, mas a possibilidade de um protesto, em Cascais, em plena ditadura, decidiu a sua presença no país.
O concerto realizou-se a 20 de novembro de 1971. No dia seguinte, Haden foi impedido de viajar. Detido pela PIDE, a polícia política da ditadura, foi levado à prisão e interrogado. Acabaria em liberdade, após intervenção do adido cultural dos Estados Unidos em Lisboa.
Gravou perto de duas centenas de álbuns, entre aqueles em que participou e os que liderou (perto de meia centena), à frente dos seus diferentes projetos - Quartet West, The Montreal Tapes, Old and New Dreams, além da Liberation Music Orchestra.
