O
lendário editor francês Jean-Jacques Pauvert, conhecido por ter publicado obras
de referência da literatura erótica que lhe valeram tanto a popularidade como o
acumular de processos judiciais e de polémica, morreu este sábado, aos 88 anos.
Pauvert estava internado num hospital
de Toulon, em França. Em Agosto tinha sofrido um acidente vascular cerebral.
Foi o terceiro que suportou em vida.
Uma das
filhas, Camille Deforges, lembrou à AFP que o pai foi um grande editor, “um
defensor da liberdade contra todas as formas de censura”. A ministra francesa
da Cultura, Fleur Pellerin, prestou-lhe homenagem por ter desafiado a censura
em nome da liberdade, alegando que foi “precursor e transgressor”, contribuindo
para a “liberalização dos costumes.”
Nascido em
Paris em 1926, Jean-Jacques começou a sua actividade de editor com apenas 19
anos, com um texto de Jean-Paul Sartre. Aos 21 anos, e pela primeira vez na
história da edição, viria a publicar na íntegra, entre 1945 e 1949, a obra do Marquês de Sade, um
das grandes referências da literatura erótica, colocando o seu nome e o seu
endereço na capa dos livros, o que lhe renderia um julgamento que durou sete
anos e um início de carreira conturbado.
Privado dos
seus direitos, acumulou processos contra as leis da censura francesa. “Terem-me
processado só contribuiu para me tornar mais combativo”, haveria de
confidenciar anos mais tarde. Haveria de ficar também conhecido por ter
publicado em 1954 o icónico livro de literatura erótica A
História de O, da misteriosa Pauline Réage – que actualmente se
sabe ter sido escrito por Dominique Aury. No final dos anos 1960 acumulava
processos, mas continuava a editar, de Boris Vian a Malraux ou Gide. Foi o
derradeiro editor de André Breton e fez sair Georges Bataille da obscuridade. E
foi, ainda, o grande biógrafo de Sade numa obra em três volumes, Sade Vivant, que publicou entre 1986 e
1990.
Os seus
numerosos feitos editoriais foram contados nas suas memórias, La
Traversée du Livre, publicadas há dez anos. Um segundo volume de
memórias estava projectado, mas acabou por não ser editado.