quinta-feira, outubro 23, 2014

PLÁGIO E COPIANÇO SÃO COISAS MUITO FEIAS

 “Antigamente, muito antigamente, copiar era uma coisa muito feia” (Alice Vieira, escritora).



Acerca do copianço escolar, não poucas vezes génese do plágio na vida futura profissional, transcrevo parte de um artigo da autoria de um nosso compatriota, Ricardo Reis, professor de uma das mais prestigiadas universidades dos Estados Unidos e do mundo ,  com o sugestivo título “Copianço”.

Ao contrário do que acontece neste canto mais ocidental da Europa, nesse artigo descreve Ricardo Reis o que se passa numa das mais prestigiadas  universidades  dos Estados Unidos  e do mundo onde lecciona:

“Em Princeton, o professor é obrigado a deixar os alunos sozinhos na sala durante o exame. Vigiá-los seria uma falta de confiança, até porque todos assinam no topo da folha de resposta uma jura de que se vão comportar de uma forma honrada. Mas se alguém é apanhado a copiar (ou porque foi denunciado por um colega ou porque as respostas o tornam óbvio) então a punição é muito severa: pelo menos suspensão por um ano e talvez expulsão”(“Diário Económico”, 03/04/2007).

Pelo exposto se verifica que o plágio e o copianço, quer se processem em simples testes ou exames de todos os níveis de ensino, comunicações  científicas ou não, ou, ainda mesmo,  mesmo  provas de doutoramento, são uma questão ética de honrados costumes que devem ser inoculados, a exemplo das vacinas,  a partir dos primeiros anos dos bancos de escola, porque “é fundamental que o estudante adquira uma compreensão e uma percepção nítida dos valores” (Albert Einstein).


O plágio e  o copianço são fenómenos intemporais, não poucas vezes,  uma espécie  do gato e do rato em que o prevaricador  tenta encontrar justificação “moral”  chegando a ponto de alegar em sua defesa casos famosos de celebridades que pretensamente o cometeram. E os nomes surgem em catadupa e vilipêndio de gente medíocre: Eça, Camões, Gabriel d’Annunzio, Stendal, Lord Byron, entre outros, sobre quem recaiu, injustamente,  o opróbrio de plágio e não, apenas, de se terem inspirado em outras celebridades das Belas-Letras para escreverem as sua notabilíssimas obras.

Eles foram, isso sim, homens de génio que produziram textos imortais com característica bem pessoais e, por isso, isentos da infâmia do crime de plágio. A inspiração em obras de outros autores  não pode ser tida como plágio porque, escreveu-o Afrânio Peixoto (crítico literário e ensaísta brasileiro), “o homem de génio tem o direito de se apropriar das imagens e das ideias alheias e lhes dar colorido, harmonia, sedução, vida, que as farão imortais”.


O que, em Portugal  de “brandos costumes” e declarada falta de civismo, ou, sem papas na língua,  por“vivermos num país de aldrabões congénitos” (Maria Filomena Mónica, referindo-se ao “copianço” num exame a candidatos a juiz e a procurador) se me afigura difícil que se volte a tempos em que “antigamente, muito antigamente, copiar era uma coisa muito feia” porque,  no desânimo de Almada Negreiros, “o povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, Portugueses, só vos faltam as qualidades”. Neste particular, e neste dealbar do século XXI, os defeitos continuam excedentários!