O juiz Carlos Alexandre fundamentou a prisão preventiva de José Sócrates com tudo, menos com o perigo de alarme social. No entanto, talvez o devesse ter feito, pois a carta que o preso 44 escreve da prisão mete um bocadinho de medo. A população de Évora nem dormiu.
O ex-primeiro-ministro jura vingança ao juiz que o prendeu. Bom, não literalmente. Na verdade, Sócrates diz «não raro a prepotência atraiçoa o prepotente». E como nunca se deixa de aprender, Sócrates também diz: «Aqui está toda uma lição de vida: aqui está o verdadeiro poder – de prender e de libertar.»
Esta afirmação também mete um bocadinho de medo. Sócrates descobriu o verdadeiro poder. Agora é chegar lá, prender tudo e só sai em liberdade quem der 50 paus ao Perna.
Vamos lá ver uma coisa. Para quem considerou o espectáculo em torno da sua detenção uma infâmia, talvez tivesse sido mais inteligente fazer um comunicado mais sóbrio, onde, por exemplo, não ameaçava o juiz que o prendeu de vingança. É que tudo o resto é contribuir para a infâmia, pois tudo o resto é espectáculo.
Bastava dizer quer ia lutar pela sua inocência e se porventura quisesse adiantar mais alguma coisa em sua defesa, então podia dizer que o Perna não levava dinheiro, levava chouriços; que a mãe enriqueceu com o volfrâmio e com as raspadinhas; e que o Carlinhos da Lena sempre teve grande olho para o negócio, tanto que lá e
m Alijó, quando iam ao café, a malta toda pagava 20 escudos pelo café, menos o Carlinhos, que ganhava 40.
E podia transmitir tudo isto através do seu advogado, que é, sem dúvida, até ao momento, a melhor coisa que José Sócrates deu ao país. Por onde andou este advogado? Apetece-me branquear capitais só para ser defendido pelo dr. Araújo.
A verdade é que, com este comunicado, onde promete vingança e sugere que existem contornos políticos, embora lá diga que o país pode seguir em frente, José Sócrates só acrescentou espectáculo ao espectáculo que ele diz não desejar, mas que parece apreciar um bocadinho.
É que José Sócrates nem sequer pede respeito pela sua privacidade e intimidade, que é o pedido elementar num comunicado deste tipo e particularmente útil para quem se queixa do espectáculo. Em vez disso, Sócrates termina lembrando que “Este processo só agora começou”. Que é só mais uma sentença para deixar as populações em sobressalto.
Seja como for, podem descansar todos aqueles que estavam muito preocupados com o espectáculo mediático, porque é lógico que Sócrates, mesmo perante as circunstâncias, aprecia. Ou melhor, há suspeitas de que aprecia. Assim é que é.