sexta-feira, novembro 21, 2014

CELEUMA DA PERFEIÇÃO


Graças a um simpático designer, já há uma “Barbie” com celulite, acne e estrias. Esta notícia insere-se no conjunto daquela nova vaga de adaptar os bonecos à humanidade, porque, que horror, era a humanidade que se estava a adaptar aos bonecos.
Perde-se, portanto, o ideal de beleza e de perfeição. O super-homem também vai ganhar barriga de cerveja e nunca mais conseguirá voar. Tem de ser, porque senão os jovens podem ficar afectados das ideias. O super-homem é aliás uma ameaça à saúde mental das crianças. Temos é de fazer um novo super-herói, que é o merda-de-homem, um tipo sedentário, a ser comido por dentro pela gordura, que até já sente falta de ar quando tem de levantar um braço e só precisa de o levantar porque já está dormente. Ao menos assim os jovens já não vão procurar abdominais definidos e jogar-se de sítios altos.
As meninas já têm então a sua Barbie pesada, com celulite, acne e estrias. Com sorte também terá diabetes e em vez de um Rolls Royce cor-de-rosa, a Barbie real vem com um autocarro cheio de gente. Sim, porque as crianças podem ficar afectadas se perceberem que em vez do Rolls Royce, têm de ir para a fila do passe.
É isso. Uma Barbie que não cuida de si nem do seu corpo. E que não sorri. As novas bonecas também devem estar sempre tristes, porque não vá uma criança que esteja menos animada sentir-se gozada pela boneca e isso é obviamente bullying e não há bullying mais chato do que aquele que é feito pelos próprios brinquedos, em casa.
Sim, estamos quase lá, na boneca perfeita, que não deixará ninguém afectado das ideias. Vamos matar de vez os ideais de beleza, que nos transtornam. Vamos também acabar com a arquitectura e passamos a fazer os edifícios todos à imagem e semelhança das casas do engenheiro Sócrates. Sim, porque assim ninguém fica deprimido com o sítio onde mora.
Isso e um par de chapadas na humanidade, para ver se deixa de ser estúpida. Em Portugal, recentemente, houve duas pequenas confusões em torno da beleza. Por um lado, criticou-se a falta de peso de Sara Sampaio. Por outro lado, criticou-se o excesso de peso de Jessica Athayde. Mas criticou, quem? As bestas quadradas da internet, a quem o mundo devia dar muito menos importância, porque senão acaba igual a elas. Os bonecos já estão parecidos, porque a nova Barbie também devia passar o dia na internet a destilar ódio.
A verdade é que tanto a Sara Sampaio como a Jessica Athayde estão maravilhosamente bem. Assim como a Barbie também está bem. E quem não gosta, compra a Popota. E se não chega, compra um urso gigante. O importante é não causar distúrbios a ninguém.
Distúrbios esses que são uma realidade e em alguns casos preocupante, mas que não podem provocar alterações em hábitos saudáveis. Também há homens que vão para o ginásio encher e depois alimentam-se com potes de anabolizantes para ver se ficam mais fortes. Eles acham que estão giros, embora o resto do mundo ache que eles foram picados por alguma coisa que lhes provocou uma reacção alérgica, mas não é por causa deles que vamos ter de fazer um Ken flácido. Se um cavalheiro fez desaparecer o pescoço e perdeu a capacidade de juntar os braços ao corpo, temos pena, mas não vamos alterar o ideal de beleza masculina.
Porque os ideais são importantes. Por exemplo, há muitos jovens que querem ter o corpo do Ronaldo e estão a trabalhar para isso. A maioria, já se sabe, vai ficar igual a nós, mas sempre é melhor querer ser o Ronaldo do que aceitar ser uma cena que passa 14 horas por dia a jogar computador e à qual já nem é possível distinguir o sexo pois ficou igual ao sofá onde está há três anos.