sábado, novembro 22, 2014

QUANDO O PATRÃO PERGUNTA SE QUER TER FILHOS

Há quem pergunte a uma mulher, numa entrevista de emprego, se ela quer ter filhos. Num mundo perfeito, abria-se automaticamente uma enorme cratera no chão, a pessoa que fazia a pergunta era engolida e abusada por uma placa tectónica até a placa se fartar, cuspindo-a então depois por um vulcão, mas do outro lado do mundo.
Não sendo o mundo perfeito, as mulheres têm de ouvir esta pergunta sem poder dar repetidas vezes com a testa de quem pergunta na mesa. Pior que isso, têm de responder, sem poder sequer enfiar a pessoa que pergunta no módulo de gavetas, trancar e jogar a chave pela janela.
Pois bem, então se têm de responder, respondem. Mas eu gostava de dizer que só há uma resposta possível a essa pergunta. A única resposta possível à pergunta “quer ter filhos?”, durante uma entrevista de emprego é: “Não, de maneira nenhuma, nem pensar. Jamais. Claro que não. Fora de questão. É que nem vale a penar falarmos mais sobre isso. A sério, não. Não, não e não. Argh, só de pensar!”
Tal resposta fará brilhar os olhos do empregador. É a resposta perfeita. É aquilo que ele queria ouvir. É de pessoas assim que precisamos. Porque dar à luz, só à do gabinete quando escurece. Muito bem. Está contratada.
Claro que depois disto, a mulher deve fazer o que entender e se entender conceber, então conceba. Conceba até naquela mesma noite, se quiser. Ou mais tarde. Ou de manhã. Ou nas férias. Ou depois. Mas conceba. Só se não quiser conceber, então não conceba. A mulher é que sabe.
Vamos supor que sim. Para desgosto da empresa, engravida mesmo, colocando em causa a sustentabilidade da companhia e os milhares de postos de trabalho, não só naquela empresa mas também em toda a região e talvez mesmo em todo o país, ou mesmo a Europa, quem sabe o mundo, porque o risco sistémico é capaz de tudo.

Ora bem, lá chegará o dia em que é preciso informar a empresa. E então, a pessoa que fez a entrevista vai lembrar, com muita legitimidade, que “a senhora disse que não queria ter filhos”. Para isto também só há uma resposta possível: “Consigo não queria, não. Argh, só de pensar!”.