Há quem
pergunte a uma mulher, numa entrevista de emprego, se ela quer ter filhos. Num
mundo perfeito, abria-se automaticamente uma enorme cratera no chão, a pessoa
que fazia a pergunta era engolida e abusada por uma placa tectónica até a placa
se fartar, cuspindo-a então depois por um vulcão, mas do outro lado do mundo.
Não sendo
o mundo perfeito, as mulheres têm de ouvir esta pergunta sem poder dar
repetidas vezes com a testa de quem pergunta na mesa. Pior que isso, têm de
responder, sem poder sequer enfiar a pessoa que pergunta no módulo de gavetas,
trancar e jogar a chave pela janela.
Pois bem,
então se têm de responder, respondem. Mas eu gostava de dizer que só há uma
resposta possível a essa pergunta. A única resposta possível à pergunta “quer
ter filhos?”, durante uma entrevista de emprego é: “Não, de maneira nenhuma,
nem pensar. Jamais. Claro que não. Fora de questão. É que nem vale a penar
falarmos mais sobre isso. A sério, não. Não, não e não. Argh, só de pensar!”
Tal
resposta fará brilhar os olhos do empregador. É a resposta perfeita. É aquilo
que ele queria ouvir. É de pessoas assim que precisamos. Porque dar à luz, só à
do gabinete quando escurece. Muito bem. Está contratada.
Claro que
depois disto, a mulher deve fazer o que entender e se entender conceber, então
conceba. Conceba até naquela mesma noite, se quiser. Ou mais tarde. Ou de
manhã. Ou nas férias. Ou depois. Mas conceba. Só se não quiser conceber, então
não conceba. A mulher é que sabe.
Vamos
supor que sim. Para desgosto da empresa, engravida mesmo, colocando em causa a
sustentabilidade da companhia e os milhares de postos de trabalho, não só
naquela empresa mas também em toda a região e talvez mesmo em todo o país, ou
mesmo a Europa, quem sabe o mundo, porque o risco sistémico é capaz de tudo.
Ora bem,
lá chegará o dia em que é preciso informar a empresa. E então, a pessoa que fez
a entrevista vai lembrar, com muita legitimidade, que “a senhora disse que não
queria ter filhos”. Para isto também só há uma resposta possível: “Consigo não
queria, não. Argh, só de pensar!”.