sexta-feira, novembro 14, 2014

TAP, MAIS UM BOCADO E FICO EU COM ELA

Se o ministro da Economia tem ficado mais uns minutos no noticiário, creio que a TAP seria a tal ponto desvalorizada que eu mesmo tinha ficado com ela. A falta de capital, as rotas antigas, os aviões velhos, as avarias… bom, o discurso do ministro sobre a TAP foi tão animador que eu vou assim para a minha senhora: “Ó filha, traz-me aí a carteira, que eu se calhar vou adquirir a TAP, porque faz-me pena ninguém ficar com ela.”
Vá lá que a minha senhora não me deixou, com o argumento válido de que não temos sítio para pôr tantos aviões. E então eu liguei para o Simplício, porque sei que a mulher dele está a trabalhar até tarde, e disse-lhe “Simplício, escuta, compra a TAP, que o ministro está a dá-la na TVI”.
Vamos lá ver uma coisa: Então o homem que está a vender a TAP diz em alto e bom som que aquilo precisa de imenso investimento, pois está tudo a cair de podre e sem rotas? Como se não bastasse, ainda demonstra pressa e aflição por causa das regras comunitárias, regras essas que têm mais anos que o voo dos irmãos Wright?
O ministro da Economia está a vender ou a comprar a TAP? É que enquanto o ouvia, eu gritei “não vendam a este gajo, que nos está a aldrabar”, até a minha senhora, que tem um poder de concentração superior ao meu, gritar-me “mas ele não está a tentar comprar, amor, está a tentar vender”.
Sinceramente, eu não sei. Vejo hoje mesmo uma notícia sobre um novo avião encomendado pela TAP. Uma coisa muito moderna. O último grito. Claro que o Fernando Pinto deve ter sinalizado o novo com a hipoteca dos outros todos, mas não interessa, são boas notícias. Vem o outro, o destrói companhias, e diz ali preto no branco que está tudo como há-de ir. Até conseguiu referir-se ao período de instabilidade recentemente vivido pela companhia como um exemplo desta desgraça toda.
Tanta gente que se dedicou a abafar os maluquinhos das teorias da conspiração, que andavam para aí a dizer que estas avarias eram todas para trocar a TAP por um prato de tremoços, e vem o criador da célebre revista “Taxas e taxinhas” e pimba. Só faltou dizer “veja que os aviões estão todos a dar o peido mestre, temos de vender já, senão em vez de uma companhia aérea só ficamos com 70 aeronaves para transformar em bares de strip”.
Com a breca, não era preciso muito. Só se pedia ao ministro da Economia que valorizasse a TAP e procurasse uma boa venda. Bem sei que o homem quis falar para o seu povo, para o convencer a aceitar a venda, mas bastava ter explicado que são as regras comunitárias e que a privatização até foi uma excelente oportunidade para muitas companhias, entre elas a British Airways, que ninguém diz que não é dos bifes.
Tudo menos aquilo que ele para ali fez. É que amanhã entra-lhe o chanfrado da Ryanair pelo gabinete com uma nota de quinhentos euros, mas só para lhe mostrar que quer duas iguais àquela para lhe ficar com a TAP e só porque adorou a cena das “Taxas e taxinhas”.