quinta-feira, dezembro 18, 2014

CAMINHOS SILENCIOSOS

Na génese da propalada accountability está uma "nova" gestão dos serviços públicos que tem como alicerce o controlo dos sujeitos, que nada tem de novidade e que tudo nos diz sobre os caminhos silenciosos do totalitarismo.

"O que havia de tão novo nestes projectos de docilidade que interessava tanto o século XVIII? Havia a escala do controlo: era uma questão não de tratar o corpo, num grupo, "por atacado", como se se tratasse de uma unidade indissociável, mas de trabalhá-lo "a retalho", individualmente, de sobre ele exercer uma coerção subtil, de obter domínio sobre ele ao nível do próprio mecanismo - movimentos, gestos, atitudes, rapidez: um poder infinitesimal sobre o corpo activo. Depois havia o objecto do controlo: não eram ou não mais eram os elementos significadores do comportamento ou a linguagem do corpo, mas a economia, a eficiência de movimentos, a sua organização interna; a única cerimónia verdadeiramente importante é a do exercício. Por último, há a modalidade: implica uma coerção ininterrupta e constante, a supervisão do processo da actividade e não tanto o seu resultado, e é exercida de acordo com uma codificação que reparta, tão proximamente quanto possível, tempo, espaço, movimento. Estes métodos, que tornaram possível o controlo meticuloso do corpo, que asseguraram a sujeição constante das suas forças e lhes impuseram uma relação de docilidade-utilidade, poderão ser chamados de "disciplinas".(...)"


Jardine (2007:57), Foucault e Educação.
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