sexta-feira, dezembro 19, 2014

Coraçõezinhos voadores

“Estou-me nas tintas para as consequências que a privatização da TAP terá sobre o serviço público de passageiros, se haverá rotas que desaparecerão em função de critérios comerciais ou se os preços aumentarão na medida da ganância de quem venha a comprar a TAP, e não quero saber do que acontecerá às vidas de centenas de trabalhadores que nem conheço, cujos salários e condições de trabalho serão espremidos para as contas bancárias dos novos donos da empresa. Eu quero é poder viajar tranquilamente este Natal para junto daquela parte da minha família que está nos Estados Unidos e regressar sem sobressaltos para passar o fim de ano em Portugal com os meus amigos”.
Há demasiada gente a pensar assim. Foi este pragmatismo que gerou aquela paz social, tão elogiada pelos donos disto tudo, que tornou possível tantas privatizações a preço de saldo, quer hoje, quer no passado. Já pagámos dois bancos, continuamos a pagar os combustíveis mais caros da Europa, a energia mais cara da Europa, as telecomunicações mais caras da Europa, somos obrigados a subscrever um pacote de cabo porque os mafiosos que transitam dos Governos para as administrações destas empresas arranjaram maneira de limitar a 5 o número de canais disponibilizados pelo serviço de televisão digital terrestre, que noutros países chega a ultrapassar os 50 e que em Portugal não cobre sequer todo o território. E não há meio destes cidadãos não praticantes mudarem a sua forma de pensar.
É aos seus coraçõezinhos voadores que se dirige um Governo que lhes promete protecção contra os terroristas que não fizeram uma pausa natalícia na sua luta pelo que é seu e pelo que é nosso. E é aos seus bolsos que se dirige idêntica protecção oferecida pelo mesmo Governo que aprovou um aumento de 3,3% no preço das tarifas eléctricas mais caras da Europa que garante à empresa pública chinesa que ganhou uma das privatizações anteriores.
Estão-se nas tintas para os efeitos que tal aumento terá sobre as vidas do povo que governam e sobre a competitividade da economia que compensam com cortes salariais, não querem saber do preço do barril de petróleo, que justificou aumentos anteriores quando quase tocou nos 120 dólares e que baixou dos 60 no dia a seguir a mais um aumento no preço da energia praticado em Portugal. Os cidadãos não praticantes também não se importam nada. Nesta China que vive acima das nossas possibilidades é Natal todos os dias. O importante é poder voar para lá sem chatices provocadas por quem resiste em vez de agradecer quando lhes tentam roubar os Natais.