terça-feira, dezembro 23, 2014

Greves, seriam só quando eles quisessem

A propósito da greve da TAP, como anteriormente acontecera com as greves dos professores, dos enfermeiros e dos médicos, assim como com as lutas de diversas outras empresas e serviços, o governo, os chefes do CDS e do PSD, os dirigentes de diversas entidades patronais, acolitados pela matilha de comentadores do regime nos média (os Gomes Ferreira, os José Manuel Fernandes, os Marques Mendes, os Marcelo Rebelo de Sousa), quase todos, como democratas que se dizem, normalmente não afirmam de forma aberta pôr em causa o direito à greve. Mas, em geral, consideram as greves indesejáveis, inoportunas e prejudiciais à “economia nacional”, às famílias (os cortes de salários e pensões, assim como os aumentos de impostos não o serão?) e ao País (a venda de empresas-chave ao estrangeiro também não o serão?). Mais, recorrem a diversas formas de chantagem sobre os trabalhadores e pretendem indicar-lhes quando podem fazer greve. Desde que a façam “moderadamente”. No essencial, o que as classes dominantes pretendem é esvaziar o direito à greve, retirando-lhe qualquer eficácia.
Os capitalistas e os seus homens de mão aceitam que os professores façam as greves algumas vezes, mas, particularmente, fora da altura dos exames. No caso da TAP, sobretudo fora das festas de Natal e Ano Novo (pois esta é uma altura de o governo ser bonzinho e de os empresários sacarem alguns euros aos turistas). Ainda, e no referente a este caso, o governo PSD/CDS recorreu à requisição civil, justificando: “Esta decisão visa assegurar serviços essenciais em defesa do interesse público nacional e de sectores vitais na economia nacional”. Se assim é, não se percebe como o actual governo, “patriótico”, pretende privatizar a TAP. Como habitualmente, os argumentos do governo são uns e o seu contrário, conforme as conveniências. No caso dos outros transportes as greves talvez sejam aceitáveis, desde que se verifiquem apenas em alguns fins de semana ou à noite. Na situação actual, desobedecer à requisição civil decretada pelo governo pode constituir um importante passo em frente na luta dos trabalhadores.
Ainda, no domínio da propaganda contrária à luta dos explorados, e paralelamente à habitual algazarra promovida pelo governo nos média, surgem de forma constante as vozes de alguns tontos (e não são poucos) e a dos reaccionários de sempre, que acolhem piamente o pensamento das classes dominantes: manifestando-se abertamente contra as greves ou, então, afirmando que os trabalhadores tinham outras alternativas para fazer valer os seus direitos, sem necessidade de recorrerem a esta forma de luta. Quais? Os abaixo-assinados? A entrega de flores aos patrões? É fundamental que digamos a esta gente que desprezamos as suas análises hipócritas e os seus conselhos canalhas!
Se actuassem desse modo, os trabalhadores pouco prejudicariam os interesses dos patrões e dos seus governos, que (pelo Natal) tanto se mostram preocupados com os problemas das famílias e do País. E menos ainda conseguiriam os trabalhadores defender os seus direitos e conquistas.