quinta-feira, janeiro 08, 2015

Atentado em Paris contra o Charlie Hebdo: o horror


Saídos das trevas medievais, terroristas abateram friamente homens desarmados. Estupor e indignação. Doze mortos, feridos graves... Partilhamos a dor e o horror ressentidos pelos próximos das vítimas e pelos cidadãos de todas as convicções amantes da laicidade e da liberdade de expressão, por todos aqueles que recusam que fanáticos restaurem sobre o nosso solo o pretenso "delito de blasfémia" abolido pelas leis laicas e façam reinar o terror clerical. Um pensamento especialmente particular para o nosso querido Wolinski que foi, durante décadas, um dos raros desenhistas a combater o anticomunismo, o anti-sovietismo e a defender com coragem Cuba socialista . O PRCF condena este horror absoluto e seus autores que não merecem nenhuma espécie de desculpa. 

PARA ALÉM DO HORROR, DEVEMOS ENFRENTAR TAIS ACTOS COM SANGUE FRIO E ANALISAR O QUE ESTE CRIME REVELA 

Ninguém conhece claramente os instigadores deste atentado neste momento. Ora, Marine Le Pen acaba de denunciar um atentado dos "fundamentalistas islâmicos". Esta hipótese é evidentemente plausível mas não é senão uma hipótese e há uma vontade provocação na proposta da FN que espera certamente aproveitar os acontecimentos para dinamizar seu empreendimento xenófobo. Não esqueçamos as 77 pessoas assassinadas pelo nazi Anders Breivik na Noruega ou os quarenta sindicalistas queimados vivos em Odessapelos nazis apoiados por Kiev. Os integristas religiosos não têm o monopólio do terror, longe disso! 

QUANTO AO FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO, QUEM O ARMA? QUEM O INSPIRA? QUEM O FINANCIA? QUEM O FAZ PROSPERAR? 

O governo dos Estados Unidos e seus vassalos, a Arábia Saudita, o Qatar, certos governos de países muçulmanos na bota da NATO. São estes que têmn recrutado e utilizado os integristas contra os comunistas árabes, contra o movimento operário e democrático destes países: os Estados Unidos sustentaram Ben Laden e seus torcionários contra o governo popular afegão e contra o Exército Vermelho que o governo de Cabul havia chamado para ajuda em virtude de um tratado de assistência conforme ao direito internacional. Recorde-se de Sadate que utilizou os Irmãos Muçulmanos contra os progressistas egípcios. Ainda hoje quem arma e financia Daesh senão os regimes amigos dos imperialistas do Qatar ou do Koweit cujo inimigo principal é a Síria independente e soberana? 

Que se recorde também de quem fez assassinar o chefe de Estado da Líbia pouco se importando por entregar este país próximo das nossas fronteiras aos integristas fanáticos: trata-se dos srs. Sarkozy, Cameron e Obama que respondiam então às pregações do grande cruzado ocidental BHL (Bernard-Henry Lévy). Na realidade, o fundamentalismo islâmico é uma das criaturas do imperialismo, criatura que por momentos, segundo um esquema clássico, volta-se contra o seu criador: Sadate abatido pelos Irmãos Muçulmanos, 11 de Setembro em Manhattan, os Talibans voltam-se contra os ocidentais depois de terem linchado aos milhares os estudantes, os comunistas e os professores laicos que alfabetizavam o país... 

A QUEM APROVEITA O CRIME? 

Esta deve ser a pergunta. Quais são as forças políticas que prosperam sobre o racismo anti-árabe? Quais forças políticas querem substituir a realidade da luta das classes pela fantasmagórico luta das raças, das etnias, das religiões? São as forças da fascização galopante , onde elementos da direita clássica juntam-se cada vez mais aos semeadores de ódio da FN com o apoio de pseudo-intelectuais como Zemmour. Mais do que nunca, esta estigmatização permanente das populações muçulmanas ou classificadas como tais alimentam, sem os legitimar, os piores ressentimentos. E por sua vez, estes permitem aparentemente "justificar" o ódio do trabalhador muçulmano numa espiral que é preciso romper antes que resulte na fascização do nosso país e de toda a UE, a qual não pede senão isso (conferir Ucrânia, países bálticos, Hungria, direita dura flamenga, etc). 

E qual força social vendo pela frente o risco de uma revolução social tenta fazê-la desviar, apodrecer, matá-la transformando-a em luta interna nas classes populares de origem ou/e de religiões diferentes que poria em abrigo seus interesses de classe? O grande capital! 

EM QUAL CLIMA IDEOLÓGICO ESTE CRIME ESPANTOSO TEVE LUGAR? 

É o da fascização da sociedade, da campanha mediático-ideológica em torno dos Zemmour, Soral, Dieudonné, em torno do bobo islamófobo Houellebecq, de um racismo anti-trabalhador árabe cada vez mais aberto, pela recusa de um presidente de municipalidade a enterrar um bebé cigano (rom), pelas declarações de um primeiro-ministro julgando os ciganos "não integráveis", em suma, num clima apodrecido que recorda as horas mais sombrias do nosso país. 

O GOVERNO HOLLANDE NÃO ESTÁ INOCENTE NA CRIAÇÃO DESTE CLIMA MORTÍFERO! 

Por espírito neocolonial e por submissão à UE-NATO, ele impeliu ainda mais longe que Sarkozy as ingerências no conflito sírio, as práticas neocoloniais intervencionistas da Françáfrica (Costa do Marfimn, R. Centroafricana, Mali), as escaladas contra o Irão, o apoio apenas disfarçado ao massacrador Netanyahou, sempre continuando a compactuar diariamente com os piores regimes feudais do Golfo. Como sempre dissemos, o combate contra o terrorismo fanático na própria França é inseparável da luta contra "nosso" imperialismo, que criar dia-a-dia o terreno propicio para as violências mais selvagens. 
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