sábado, janeiro 10, 2015

Isto é só um grande "suponhamos", não façam caso

Supostamente, uma empresa cotada em bolsa está obrigada a fornecer todas as informações relevantes para a formulação de decisões de compra e venda por parte dos seus accionistas. No caso da PT, a CMVM teve que chamar a polícia para obter o relatório da empresa que a auditava. Supostamente, uma empresa da dimensão da PT não concede empréstimos sem um contrato onde figurem as condições do empréstimo e os responsáveis pelo negócio. No caso da PT, dizia o tal relatório, estas decisões eram tomadas informalmente sem documentos de suporte. Supostamente, uma empresa A que empresta muitos milhões à empresa B não partilha administradores com ela. O grupo PT emprestou mais de mil milhões de euros ao grupo BES e já toda a gente sabia que Morais Pires e Joaquim Goes eram administradores executivos de ambos os grupos muito antes da polícia ter conseguido o relatório de auditoria que a PT não queria tornar público. Supostamente, uma empresa não concede empréstimos sem avaliar o risco que lhe está associado, sem informações sobre a capacidade financeira da empresa à qual empresta e muito menos se endivida a um juro superior àquele que depois cobra a essa empresa. Mas a PT fazia-o. Supostamente, tudo isto – e é só um resumo bastante resumido do que já se sabe, e ainda falta saber muito –configura vários crimes, entre eles os de participação económica em negócio e de burla qualificada, pelo que, supostamente, estando tais crimes a ser investigados, para evitar que as fortunas assim obtidas desapareçam sem deixar rasto, os implicados há muito deveriam estar presos. Mas isto é só um “suponhamos”. Não estão. Zeinal Bava, um dos responsáveis máximos desta suposta gestão danosa, e digo suposta para abranger a sua presumível inocência, até foi condecorado pelo senhor Presidente da República num gesto que simboliza o reconhecimento de todos os portugueses que pela sua mão distinguiram um dos melhores entre os melhores gestores do país e anda para aí com essa medalhinha ao peito a gozar os 5,6 milhões extra que recebeu – receberá ao longo de 36 meses – para abandonar o leme da empresa que tão bem soubeservir. E só mais um “suponhamos”: suponhamos que Portugal se tornou numa imensa manjedoura do crime organizado. Podia lá ser! Os portugueses revoltar-se-iam imediatamente. Era o que mais faltava tanto tempo a fazer sacrifícios para isto.

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