sexta-feira, janeiro 23, 2015

Não podemos ofender a fé dos outros?

Bem sei que este tema já tem uma semana e isso na era da comunicação são dois anos, mas não há como ignorar os “mandamentos” do Papa sobre as ofensas às religiões, que foram um pedaço pecaminosos.
Veio então o Santo Padre dizer que não podemos ofender a fé dos outros. No pino de Agosto, por exemplo, isto era bem dito, mas no contexto de um massacre num jornal satírico em Paris, já acho mais lamentável. É claro que o simpático Jorge Mário Bergoglio não concordará com o massacre – isso é absolutamente evidente – mas acabou a legitimar um bocado, só um bocadinho, aquele ajuste de contas.
O Papa tem muitos seguidores – e não me refiro às redes sociais, pois aí já foi ultrapassado por dançarinas e futebolistas -, portanto quando veio dizer que não podemos ofender as religiões, acabou por subscrever aquele argumento hediondo de que os tipos estavam a pedi-las.
Acontece que, por esta ordem de ideias, temos de acabar com o Papa, pois ele é uma enorme ofensa para, pelo menos, uma religião ou – melhor será dizer – uma “leitura extremista que há de um credo”.
Aliás, face aos mais recentes acontecimentos, parece bastante evidente que basta eliminar-se o Papa e os católicos, tapar-se as mulheres com burcas e aceitar mais um pequeno conjunto de regras para o mundo poder viver finalmente em paz. Creio que é neste ponto que estamos.
A verdade é que o Charlie Hebdo tinha uma tiragem muito baixa e era a prova de que as pessoas não andavam a apreciar muito sátira da pesada. Nessa medida, as ofensas, tanto à crença religiosa como às crenças de qualquer feitio, estavam em crise. Num acto de vingança, mas sobretudo numa operação de propaganda – com enorme sucesso, de resto – os extremistas orientaram dois jovens rebeldes para espalhar o medo e mandar mensagens.
Vem o Papa e diz que “sim senhor, não se pode ofender as religiões e a fé dos outros”, como se fosse esse o problema. Nunca foi.
Para além do Papa, outra figura de incontornável relevância política internacional manifestou-se nos mesmos termos. Refiro-me ao Senhor D. Duarte de Bragança, que qualificou o Charlie Hebdo de “pasquim nojento” e recorreu a uma série de metáforas tontas para explicar porquê. Sucede que no caso particular do Senhor D. Duarte não há completa certeza de que o herdeiro tenha percebido completamente o que aconteceu. Não é inclusivamente possivel perceber se D. Duarte sabe quem massacrou quem. Provavelmente, até acha que foram os cavalheiros do pasquim que assassinaram terroristas.
Seja como for, o Senhor D. Duarte acabou também a eliminar coisas, neste caso alguns cépticos que ainda lhe davam o benefício da dúvida. Nice shot, Sua Alteza.