terça-feira, janeiro 06, 2015

SE FOSSE SÓ O TGV A SER INVIÁVEL

O Tribunal de Contas chegou à conclusão de que o projecto ferroviário português de alta velocidade seria inviável. Eu acrescento que o Tribunal de Contas também é inviável, sobretudo se for para chegar a conclusões destas. Claro que o projecto ferroviário português de alta velocidade é inviável. Por cá, aliás, é tudo inviável. De génio tinha sido o Tribunal de Contas dizer o que é que não é inviável neste país, porque isso é que ainda ninguém descobriu.
Passa-se o seguinte, senhoras e senhores do Tribunal de Contas: Nem o intercidades é viável. Está bom de ver que nem sequer me vou referir ao Alfa Pendular, que é para não ser indelicado. Talvez a única coisa que circula sobre carris e é eventualmente viável é o 28 para a Graça. Mas até esse pode ser substituído por um tuk tuk, que dá muito menos problemas e os turistas também acham piada.
O Tribunal de Contas esteve, portanto, dois anos a estudar a viabilidade de uma coisa na terra das inviabilidades. Se é para isso, mais vale irem trabalhar, até porque é preciso ajuda para descarregar os navios no porto, não podemos ter pessoas a brincar aos estudos de viabilidade.
Sobre as competências do Tribunal de Contas para estudar a viabilidade de uma linha ferroviária de alta velocidade nem é preciso falar. Suspeito que tenham ligado para os familiares: «Escuta lá, tu eras gajo para ir até Madrid de TGV? Pois, claro que não. Eu também não. Adeusinho e vemo-nos no domingo, dá um beijo à Tété». O único que disse que talvez fosse no TGV foi o primo Alberto, mas esse é sempre do contra, só para chatear.
Entretanto, é bom lembrar que o engenheiro Belmiro já tinha feito um estudo de viabilidade, embora tenha sido de cabeça, num programa de televisão. E o que disse o engenheiro? Que havia aviões. E é bem verdade. Se há aviões, para que servem os comboios? Felizmente, a seu tempo, o engenheiro Belmiro não travou a aviação, porque antes também havia as fragatas. Podemos imaginar o regresso dos portugueses que foram passar o ano ao Brasil, todos enfiados na fragata D. Fernando II e Glória. «Além, estou a ver terra!», gritava então um deles lá para o Verão e mesmo assim ainda era a Madeira.
É claro que as fragatas só fazem concorrência aos aviões nas viagens marítimas e o TGV é uma ligação terrestre, mas para a quantidade de passageiros que se esperava na ligação Lisboa – Madrid, eu vou mais longe e diria que bastava uma catapulta. Estar a deslocar um avião com 300 cadeiras para levar apenas um casal não faz sentido. É melhor metê-los numa catapulta e pedir ao espanhóis o favor de encherem o insuflável, duas horas depois, perto de Barajas.
Ou então, não. Talvez seja suficiente catapultá-los até Badajoz porque os malucos dos espanhóis disseram que mesmo assim iam fazer o TGV até lá. Logo, não é preciso apertar tanto o elástico e manda-se o casal só até Badajoz, porque depois vão de TGV, que é mais confortável. Agora que penso nisso, se calhar o Tribunal de Contas fez as contas para a ligação de TGV entre Lisboa e Elvas, porque a partir daí já é jurisdição do Tribunal de Cuentas, e por isso é que apareceu tudo a vermelho.
Não, mas mesmo assim não é viável. Não pode ser. Temos a catapulta e mesmo assim não a usamos muito. Não faz sentido um TGV. Seria uma loucura. Nesta terra só vingam os tuk tuk e mesmo esses não sei, porque à velocidade a que estão a crescer, não tarda aparece um Tribunal na Baixa e leva as lambretas todas, ainda com os turistas lá em cima e tudo.
Mas enfim, o que importa agora é que o TGV foi cancelado e dois anos depois o Tribunal de Contas veio confirmar que era mesmo inviável, aproveitando o ensejo para relatar que o país gastou 120 milhões de euros só em estudos. Até ficou em conta. Para comprar submarinos, por exemplo, tivemos de gastar 30 milhões em Espíritos Santos, entre outros. E ainda por cima ficámos com os submarinos.