quarta-feira, fevereiro 04, 2015

Redes sociais mas anacrónicas

Quero chamar a atenção para um problema que só afecta aquele reduzido número de pessoas que ainda frequentam as redes sociais. Não sei se já repararam, mas partilham-se notícias com quatro anos como se fossem desta manhã.
É verdade que acaba por ser divertido, sobretudo ver os comentários que os titulares de tanta informação privilegiada fazem ao furo que partilham com os amigos. Mas por outro lado é dramático, pois há uma porção considerável de pessoas que ainda estão no início do século.
“Isto está a aquecer”, escrevem, por exemplo, num comentário a uma notícias que não repararam mas é de Março de 2008. Na maioria das situações, são notícias que despertam a revolta, por isso há o impulso de partilhar logo sem ler com atenção.
A verdade é que nas redes sociais é impossível sabermos em que ano estamos. Aquela famosa imagem da pessoa que acorda do coma, se ligar logo o Facebook vai continuar na mesma. E se o Leitor está neste momento a pensar “que disparate, agora uma pessoa acorda do coma e a primeira coisa que faz é ir ao Facebook”, pense duas vezes.
Causas para isto? É esta era do instante e do resumo. Está tudo a ficar instantâneo e com 140 caracteres, no máximo. É aquilo que em termos académicos – estou a inventar e peço que imaginem um power point – se designa pelos dois eus e os quatros ous: Apareceu, leu (mas só o título), gostou, revoltou, comentou, partilhou.
E agora, depois deste pequeno brainstorming, vamos fazer um coffee break de quinze minutos, para depois avançarmos para as oportunidades e ameaças desta nova realidade, que são pessoas a viver no passado.
Ora bem, estamos então de volta para analisarmos quais as grandes oportunidades e ameaças desta nova realidade, que são pessoas a viver no passado. Em matéria de oportunidades, elas são evidentes. Desde logo, as pessoas podem agora efectuar comodamente regressões em casa, sem sair do computador, ou seja, sem perder pitada do que vai sendo avidamente partilhado nas redes sociais, independentemente do sentido. E assim, enquanto descobrem que Portugal vai ser o país anfitrião do Euro2004, podem também descobrir que sempre era verdade que andavam mesmo a ser roubados pela mulher-a-dias.
Mas se as oportunidades parecem grandes, as ameaças também. E a maior ameaça desta nova realidade que são pessoas a viver no passado é, sem dúvida, o termos de levar com tudo outra vez. Levar com a actualidade no próprio dia já é custoso, agora imagine-se o que é levar com ela sine die.
Entretanto, e só para completar este tema do anacronismo social, mais uma chamada de atenção para outra desvirtuação do presente, estou a pensar naquelas notícias com 48 horas que aparecem na timeline com a pompa e a circunstância de um “última hora”. Neste caso, creio que a culpa é dos comentários novos que aparecem e que voltam a colocar essas notícias em destaque. Sucede que uma pessoa às tantas já não sabe se foi isso mesmo que aconteceu – um comentário que voltou a destacar a notícia – ou se é mesmo um última hora com o qual já havíamos sonhado.
Não é fácil. E a verdade é que podemos ter cada vez mais informação, mas não é seguramente sobre a quantas andamos.