A onda de condenação do “terror islâmico” lançada pelos governos da UE e dos EUA atinge proporções de histeria. E a coberto disso são tomadas medidas de reforço da vigilância policial com evidentes efeitos imediatos sobre a liberdade de movimento dos cidadãos.
Em França, na sequência dos ataques em Paris, o governo decidiu contratar mais 2680 agentes para os serviços secretos, de segurança e de justiça e gastar com isso mais de 730 milhões de euros nos próximos três anos. Também a redução dos efectivos militares sofre uma travagem. Anuncia-se que mais de 3 mil pessoas “suspeitas” de jihadismo serão alvo de vigilância. Recentemente, uma criança árabe de 8 anos foi interrogada numa esquadra de polícia em Nice acusada de “apologia do terrorismo” depois de ter dito na escola que estava do lado dos homens que atacaram a redacção do Charlie Hebdo.
Por cá, também o Sindicato Nacional da Polícia, seguindo o conselho dos colegas espanhóis, recomenda aos agentes que andem sempre armados, mesmo nas horas de folga e em férias — tudo, uma vez mais, à conta das “ameaças terroristas”.
Em França, na sequência dos ataques em Paris, o governo decidiu contratar mais 2680 agentes para os serviços secretos, de segurança e de justiça e gastar com isso mais de 730 milhões de euros nos próximos três anos. Também a redução dos efectivos militares sofre uma travagem. Anuncia-se que mais de 3 mil pessoas “suspeitas” de jihadismo serão alvo de vigilância. Recentemente, uma criança árabe de 8 anos foi interrogada numa esquadra de polícia em Nice acusada de “apologia do terrorismo” depois de ter dito na escola que estava do lado dos homens que atacaram a redacção do Charlie Hebdo.
Por cá, também o Sindicato Nacional da Polícia, seguindo o conselho dos colegas espanhóis, recomenda aos agentes que andem sempre armados, mesmo nas horas de folga e em férias — tudo, uma vez mais, à conta das “ameaças terroristas”.
No plano geral da UE, hoje e amanhã (29 e 30 de Janeiro) tem lugar em Riga, Letónia, uma reunião de ministros do Interior e da Justiça para rever as normas do acordo de Schengen, aprovado em 1997, que estabeleceu a livre circulação dos cidadãos na Europa comunitária. De novo, os riscos do “terrorismo” são invocados como pretexto para vigilância das fronteiras, mas quem assim argumenta esquece que foi a partir de dentro e por iniciativa de cidadãos da UE que os ataques foram desencadeados. Na verdade, a revisão do tratado de Shengen significa um policiamento mais apertado sobre toda a população europeia, como será o caso dos passageiros de aviões, cujas identificações se pretende que sejam sistematicamente fornecidas às polícias.
Todas estas acções têm o objectivo claro de amedrontar a opinião pública dos países ocidentais e fazê-la aceitar duas coisas: uma, são as medidas de controlo policial que serão aplicadas a todos os níveis aos cidadãos europeus; outra, são as ocupações militares e os ataques em curso no Médio e Próximo Oriente e em África.
Há vítimas e vítimas
Em tudo isto, o Ocidente faz de vítima. “Massacre” foi palavra repetidamente usada para designar os atentados de Paris, em que morreram 17 pessoas, quando nos bombardeamentos à Líbia, por exemplo, desencadeados pelo presidente francês Sarkozy, foram liquidadas centenas de pessoas.
Diante da falta de pudor com que o Ocidente chora os seus mortos ao mesmo tempo que despreza as suas vítimas, importa mostrar que o terror praticado pelas forças islâmicas não tem proporção com o terror levado a efeito pelas máquinas de guerra ocidentais. A degola de europeus e norte-americanos no Iraque, os atentados suicidas no Afeganistão, os raptos na Nigéria, os mortos recentes de Paris, etc., por muito bárbaros que sejam, ficam a milhas de distância do terror de larga escala, visando as populações civis, praticado por europeus e norte-americanos.
Recordemos então alguns exemplos do terror industrial praticado pelo colonialismo e pelo imperialismo.
Bombardeamentos regulares
Só desde 1980, os EUA e os seus aliados na UE levaram a cabo ataques aéreos contra os seguintes países: Irão (1980, 1987-1988), Líbia (1981, 1986, 1989, 2011), Líbano (1983), Kuwait (1991), Iraque (1991-2011, 2014-), Somália (1992-1993, 2007-), Bósnia (1995), Afeganistão (1998, 2001-), Sudão (1998), Kosovo (1999), Jugoslávia (1999), Iémen (2000, 2002-), Paquistão (2004-), Síria (2014-).
Afeganistão
Em 13 anos de ocupação do país pelos EUA e forças da NATO, calcula-se que o número de civis afegãos mortos esteja entre 14 e 34 mil. O ataque às Torres Gémeas, em Nova Iorque, pretexto que os EUA usaram para invadir o Afeganistão, matou menos de 3 mil norte-americanos.
Iraque
O ataque dos EUA e Reino Unido em 2003 teve o nome de código “Choque e pavor”. Milhares de mortos só nesta ofensiva. Nos anos seguintes, mais de um milhão de iraquianos morreram em consequência da ocupação. Antes, em 1991 e nos anos seguintes, todas as infraestruturas do país foram destruídas; mais de 500 mil crianças morreram por falta de assistência. Uso pelos EUA e Reino Unido de munições radioactivas; cancros na população civil crescem exponencialmente.
Guantânamo, Abu Ghraib, voos da CIA são sinónimos de prisão arbitrária, tortura, execuções sumárias.
Guantânamo, Abu Ghraib, voos da CIA são sinónimos de prisão arbitrária, tortura, execuções sumárias.
Líbia, Síria
França, Reino Unido e EUA bombardeiam a Líbia em Março de 2011 para derrubar o presidente Kadafi, provocando milhares de mortos nas principais cidades. As infraestruturas do país foram destruídas e desde então a vida dos líbios é um caos.
Também em Março de 2011, aqueles mesmos países promovem a guerra civil na Síria com o fim de derrubar o presidente Assad. Já morreram mais de 200 mil sírios.
Também em Março de 2011, aqueles mesmos países promovem a guerra civil na Síria com o fim de derrubar o presidente Assad. Já morreram mais de 200 mil sírios.
Palestina
O ataque de Israel a Gaza em 2008 chamou-se “Chumbo derretido”. Desde 2004, Israel desencadeou 16 operações militares de envergadura causando mais de 4.400 mortos palestinos. Nos mesmos 10 anos morreram 20 civis israelitas com ataques de rockets lançados a partir de Gaza.
Líbano
Em 2006, Israel invade o país e mata 1.200 pessoas. Massacre, em 1982, de refugiados palestinos em Sabra e Chatila, conduzido por Israel, causa 3.500 mortos.
Indochina
França e depois os EUA levam a cabo uma guerra no Vietname, Laos e Camboja desde 1946 até 1975. Sucessivos massacres de civis. Morrem 3 a 4 milhões de vietnamitas e mais 2 milhões de laocianos e cambojanos. EUA usam armas químicas com efeitos a longo prazo, até hoje.
Coreia
De 1950 a 1953 EUA conduzem uma guerra contra a Coreia do Norte e a China causando 2 a 3 milhões de mortos e feridos civis. Documentos secretos dos EUA desclassificados em 2003 confirmam o uso de armas químicas e bacteriológicas.
Iémen, Paquistão, Somália, etc.
EUA usam drones para bombardear forças inimigas. A morte de civis é protegida pela “doutrina” de que não há provas de esses civis não serem cúmplices dos alvejados.
Argélia
Levantamento independentista em Maio de 1945 causa 107 mortos entre os colonos franceses. A França (potência colonizadora) reprime os argelinos causando possivelmente 40 mil mortos. Até à independência da Argélia, em 1962, a tortura e o massacre de civis foram amplamente praticados pelos ocupantes franceses. Vítimas civis: um milhão.
Guerra colonial portuguesa
Em Fevereiro de 1961, na Baixa do Cassange, Angola, milhares trabalhadores dos campos de algodão da companhia luso-belga Cotonang entram em greve e sublevam-se. O protesto é reprimido pelo exército e força aérea (que bombardeia as aldeias com napalm) causando milhares de mortos, possivelmente 10 mil.
Em Março do mesmo ano, a União dos Povos de Angola subleva-se, matando mil colonos; em resposta, os colonos e a tropa portuguesa, entre Março e Setembro, massacram 20 mil angolanos.
Em Dezembro de 1972, as tropas portuguesas massacram 450 pessoas em Wiriyamu, Juwau e Chawola, três aldeias de Moçambique.
Em Março do mesmo ano, a União dos Povos de Angola subleva-se, matando mil colonos; em resposta, os colonos e a tropa portuguesa, entre Março e Setembro, massacram 20 mil angolanos.
Em Dezembro de 1972, as tropas portuguesas massacram 450 pessoas em Wiriyamu, Juwau e Chawola, três aldeias de Moçambique.