sábado, março 07, 2015

Crime de bricolage na forma tentada

As vítimas são na, maioria dos casos, paredes, tectos, iluminação, mobiliário, circuitos eléctricos, canalização e electrodomésticos. As marcas ficam até aparecer alguém capaz de consertar. Falamos do crime de bricolage na forma tentada.
Neste tipo de crime, o indivíduo não chega a consumar a bricolage, deixando tudo a meio, seja uma parede com massa para reparar buracos, uma rajada de pregos para pendurar um único quadro, uma porta de um armário torto, um electrodoméstico que continua sem funcionar ou pior, funcionou apenas mais uma vez, de forma estrondosa, provocando danos na estrutura da casa.
Mas o que leva uma pessoa sem queda para a bricolage a experimentá-la tantas vezes? Naturalmente um estado momentâneo de alienação, em que o indivíduo se convence de que é capaz e durante alguns minutos até parece ser. Por exemplo, quando pega na caixa de ferramentas e a transporta para o local. Depois abre-se a caixa e a maioria, felizmente, abre-se com facilidade. Depois escolhe-se a arma e é aqui que em metade dos casos as coisas começam-se a complicar, mas há quase sempre alguém ao lado a ver o que o indivíduo está a fazer e isso não o deixa desistir logo ali.
Por falar em assistência, os espectadores costumam começar a abandonar o local por volta da quarta tentativa, que é quando o indivíduo começa a revelar alguma fúria. Nos casos em que os espectadores querem continuar a assistir, então costuma ser o indivíduo a mandá-los embora.
Mas a escolha da arma é, sem dúvida, o tal ponto de viragem, não só porque uma má escolha pode promover a atrapalhação do indivíduo, mas sobretudo porque a posse de ferramentas é uma das principais causas para o aumento dos crimes de bricolage na forma tentada, pelo que se devia discutir esta questão, nomeadamente a hipótese de colocar algumas barreiras no acesso a elas, por exemplo, escondendo-as destes indivíduos.
Para além do edificado e dos equipamentos, costuma verificar-se uma terceira vítima, que é quem limpa. Isto porque o bricolicida raramente limpa a sujidade que faz, pois encontra-se demasiado revoltado para isso. Aliás, depois do crime, é frequente encontrar-se o indivíduo a jogar ou a brincar com o telefone no sofá. Isto, claro, se não tiver quebrado o sofá.
No entanto, a sujidade não acontece apenas nos casos de bricolage na forma tentada, mas também nos casos em que os indivíduos são bem sucedidos. Nestes casos não será por causa da revolta que não limpam, mas porque sentem que lograram algo notável e por isso ficam a olhar embevecidos, saindo dali apenas para dar entrevistas à imprensa especializada. Não aparecendo nenhum repórter, acabam então no sofá como os outros.
Os outros, depois do crime, não costumam gostar de assistir ao conserto, a menos que seja efectuado por um profissional, pois se for um primo ou um cunhado, provavelmente o ambiente vai deteriorar-se. Sendo um profissional, até são capazes de assistir, mas afirmando sempre “ah, pois, está a ver, era isso que eu não conseguia fazer, mas também não tinha essa ferramenta, deixe lá ver, pois, exactamente”.
“E pronto, assim para a próxima já sei fazer”, concluem então, a pensar já no próximo crime.