Após análise longa e cuidada do seu pensamento económico, a imprensa
internacional concluiu que o ministro das Finanças grego é sensual. O estilo de
Varoufakis tem sido examinado em detalhe. Houve intenso debate sobre as fraldas
da camisa, reflexão sobre determinado cachecol, e discutiu-se uma eventual
parecença física com um herói interpretado no cinema por Bruce Willis. Na
Alemanha reconheceram-lhe "indubitável carisma" e chamaram-lhe
"ícone sexual". Creio, por isso, que a má vontade do Governo
português em relação à Grécia não é apenas (ou não é de todo) motivada por
razões económicas.
O nosso executivo também já teve um ministro das Finanças recém-eleito, que
também visitou a Alemanha para negociar. Nessa altura, a imprensa internacional
não disse uma única palavra sobre a sensualidade de Vítor Gaspar, a sua
masculinidade clássica, o seu magnetismo animal. Portugal não rejeita que a
Grécia tenha um tratamento diferente no que diz respeito ao pagamento da
dívida; Portugal leva a mal que a Grécia tenha um tratamento diferente quanto à
avaliação da sensualidade dos seus ministros das Finanças.
Nós gostamos muito de reconhecimento internacional. Anotamos com alegria a
opinião de qualquer borra-botas nascido do lado de lá da fronteira que elogie
um português. Às vezes, nem precisa de elogiar. Aceitamos uma mera referência
ao nome, ainda que mal pronunciado. E por isso é difícil compreender este
protagonismo do ministro das Finanças de um país tão pelintra como o nosso,
quando a sensualidade de Vítor Gaspar passou despercebida na Europa. Vítor
Gaspar, à sua maneira, também era sensual. Tinha a tez esverdeada, o que lhe
conferia algum exotismo, duas bolsas proeminentes sob os olhos (é sabido que as
mulheres adoram bolsas), e uma voz suave. Os dirigentes alemães pareciam
acreditar que ele era sensual, uma vez que lhe davam as mesmas ordens que as
dançarinas exóticas costumam receber: "Ti-ra!, ti-ra!, ti-ra!" E
Vítor Gaspar tirou mesmo. Tirou empregos, tirou salários, tirou reformas. E recebeu
uma recompensa, não sob a forma tradicional de nota dobrada ao meio entalada na
liga, mas sob a forma de um cargo de director de departamento no FMI. Por que
razão não foi então referido internacionalmente o sex-appeal de Vítor Gaspar?
Quem nos impediu de ler notícias acerca do facto de o corpo pouco
tonificado de Vítor Gaspar ser cobiçado internacionalmente, notícias essas que
apareceriam lado a lado com outros títulos do género, tais como "Praia
portuguesa considerada uma das 250 melhores do mundo por revista da qual nunca
ouvimos falar mas que em todo o caso é estrangeira"? O desemprego e a
pobreza ainda toleramos, mas privarem-nos do gozo de ver gente estrangeira a
louvar-nos é simplesmente desumano. Para onde vais, Europa?