quinta-feira, abril 09, 2015

A GUERRA É MUITO MELHOR QUE O EUROMILHÕES

As auditorias realizadas nos Estados Unidos da América aos gastos do Pentágono no Afeganistão concluíram que não é possível encontrar rasto de pelo menos metade das monumentais verbas aplicadas na misericordiosa tarefa de reconstruir o país, vitimado pela guerra imposta pela invasão da NATO. Grosso modo, e muito por baixo, estamos a falar de quase 60 mil milhões de dólares, mais de 50 mil milhões de euros pela certa.

Que a guerra é um grande negócio, todos o sabemos. Que as reconstruções adjudicadas depois aos mesmos interesses que fazem as guerras representam um imenso maná também não é novidade, sobretudo desde que ficaram conhecidas muitas das práticas de “reabilitação” do Iraque. O que nem sempre vem à superfície são as mil e uma maneiras como os contribuintes são burlados – e aqui o conceito de contribuintes é extensivo aos de todos os países da NATO – em nome de conflitos tão civilizacionais, tão humanitários, tão democráticos, enfim.

Os auditores revelam, por exemplo, que apenas conseguem encontrar justificações contabilísticas para 21 mil milhões dos 66 mil milhões de dólares alegadamente gastos no programa oficial de reconstrução do Afeganistão. E lamentam, por exemplo, que durante muito tempo, pelo menos até 2010, os contratos abaixo de 500 mil dólares não estivessem sujeitos a controlo contabilístico. Generosos sacos azuis, não é verdade?

Situação semelhante acontece nos fornecimentos de armas ao “novo exército” afegão, cuja incapacidade serviu de pretexto a Obama, de facto o comandante supremo da NATO em funções, para prorrogar a presença da aliança no terreno sabe-se lá até quando, porque também as promessas são extensíveis. Por exemplo, não existe qualquer rasto de 45 mil milhões de dólares dos 66 mil milhões gastos na importação de equipamento militar não norte-americano para as tropas afegãs.

A investigação revelou ainda que não há maneira de acompanhar o rasto dos 300 milhões de dólares canalizados anualmente para a “nova” polícia afegã. Também não se sabe onde vão parar as dezenas de milhões de dólares gastos em projectos para auxiliar as mulheres afegãs.

Multipliquem-se agora estes valores por outras guerras - Iraque, Líbia, Síria, Egipto, Iémen, Mali, República Centro Africana - e não será difícil encontrar razões para nos interrogarmos hoje sobre qual será a guerra de libertação de qualquer coisa que o Pentágono iniciará amanhã.

Só uma pequena reflexão acrescida. Enquanto os milhões de milhões rolam sem qualquer controlo no Afeganistão, desde 2001, ano do início da invasão da NATO, o país adquiriu uma quota superior a 90 por cento da produção mundial de heroína. Os dados são da ONU, neste momento um departamento dos Estados Unidos da América, como se sabe. Para quem é contra os monopólios…